Fenómeno La Niña em curso e chuvas ainda não atingiram o pico
As intensas chuvas que assolam anormalmente Moçambique desde Outubro de 2007, fruto também do fenómeno "La Niña", ainda não atingiram o seu pico, temendo-se que, até Março, o nível das águas nos principais rios possa ultrapassar recordes. A constatação é do director do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (INAM), Moisés Benesene, que, numa entrevista telefónica à Agência Lusa, atribuiu à "La Niña" a precocidade da queda das chuvas em toda a África Austral, que começaram em Setembro de 2007 e se intensificaram no mês seguinte.
"Há, na região, nove bacias hidrográficas e as chuvas que têm caído abundantemente em toda a África Austral, em conjugação com a saturação dos solos das cheias do ano passado e com a «La Niña», têm enchido o leito dos principais rios que desaguam no oceano Índico, passando todos por Moçambique", sublinhou o director do INAM. Para Moisés Benesene, o pior ainda não chegou, uma vez que os meses mais chuvosos em Moçambique costumam ser Janeiro, Fevereiro e Março. No entanto, o nível dos caudais dos principais rios do país está quase idêntico ao das cheias de 2000 e 2001. "Falta muito pouco e os meses mais chuvosos vêm aí", avisou.
Segundo Moisés Benesene, a "La Niña" é provocada pelo arrefecimento anormal das águas do oceano Pacífico, fenómeno que, "sendo já considerado global", afecta, por essa razão, outras regiões do mundo, levando à abundância da precipitação. Ao contrário, acrescentou, o "El Niño" é provocado pelo aquecimento anormal das águas do Pacífico, o que provoca, tal como aconteceu no passado na África Austral, situações de seca anormais e graves.
Segundo Moisés Benesene, as chuvas têm começado a cair a montante, em plenas montanhas da África Austral ocidental, nomeadamente em Angola e na RDCongo, pelo que, quando a água chega às bacias hidrográficas, a jusante, sobretudo às que se situam em território moçambicano, os caudais dos rios são já muito fortes. O director do INAM lembrou, a título de exemplo, o caso do rio Zambeze, que nasce na Zâmbia, realçando que as zonas das bacias hidrográficas, pela sua tipologia e morfologia, são áreas facilmente inundáveis.
Segundo a Rede de Rios Internacionais, organização não governamental que estuda a problemática envolvente das diferentes bacias hidrográficas em todo o mundo, o delta do Zambeze é, biologicamente, das zonas húmidas mais abundantes da África Austral, tendo, em 2003, na "Convenção de Ramsar", sido declarado "Zona Húmida de Importância Internacional". A Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como habitat de aves aquáticas, conhecida como "Convenção de Ramsar", foi aprovada na cidade iraniana homónima a 02 de Fevereiro de 1971 e entrou em vigor em 1975. É um tratado internacional sobre a conservação e a utilização responsável das zonas húmidas e dos seus recursos, através de regulamentação nacional ou de projectos de cooperação internacional. Até Janeiro de 2006, a convenção foi ratificada por 150 países, com 1.578 áreas incluídas na Lista das Zonas Húmidas de Importância Internacional, totalizando 133,8 milhões de hectares.
O rio Zambeze, como um dos rios mais importantes de toda a África - da sua nascente, na Zâmbia, até à foz, no Índico, existem 30 barragens -, congrega ecossistemas valiosos e uma grande fauna bravia, razão pela qual as populações se mantêm nas zonas ribeirinhas, de onde retiram o seu sustento. "Em caso de grandes cheias, como as que se perspectivam para este ano, nada há a fazer e nem a construção de novas barragens ajudaria. Apenas se podem minimizar os estragos, nomeadamente através da prevenção, dos avisos prévios e de programas concertados de evacuação das populações ribeirinhas", sublinhou o director do INAM.
Questionado pela Lusa sobre se a frequência das cheias em Moçambique tem vindo a aumentar nas últimas décadas, Moisés Benesene afirmou não poder responder, uma vez que os estudos até agora efectuados ainda não são conclusivos. "Estamos ainda a tentar perceber se se trata apenas de um ciclo ou se este fenómeno se deve às alterações climáticas", observou, dando como ponto de referência as cheias de 2000, em todo o país, e as de 2001, que afectou todo o vale do Zambeze, as maiores de que há registo na antiga colónia portuguesa, que se tornou independente em 1975. "Anualmente, sempre houve cheias. Umas maiores outras menores. Mas as deste ano preocupam-nos. Pode ser o prenúncio das alterações climáticas como pode ser um ciclo, integrado na «La Niña»", concluiu.
© 2008 LUSA
Nota aos moderadores do meteoPT: Este artigo também pode ser interessante para ser colocado no Fórum de CLIMATOLOGIA.
As intensas chuvas que assolam anormalmente Moçambique desde Outubro de 2007, fruto também do fenómeno "La Niña", ainda não atingiram o seu pico, temendo-se que, até Março, o nível das águas nos principais rios possa ultrapassar recordes. A constatação é do director do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (INAM), Moisés Benesene, que, numa entrevista telefónica à Agência Lusa, atribuiu à "La Niña" a precocidade da queda das chuvas em toda a África Austral, que começaram em Setembro de 2007 e se intensificaram no mês seguinte.
"Há, na região, nove bacias hidrográficas e as chuvas que têm caído abundantemente em toda a África Austral, em conjugação com a saturação dos solos das cheias do ano passado e com a «La Niña», têm enchido o leito dos principais rios que desaguam no oceano Índico, passando todos por Moçambique", sublinhou o director do INAM. Para Moisés Benesene, o pior ainda não chegou, uma vez que os meses mais chuvosos em Moçambique costumam ser Janeiro, Fevereiro e Março. No entanto, o nível dos caudais dos principais rios do país está quase idêntico ao das cheias de 2000 e 2001. "Falta muito pouco e os meses mais chuvosos vêm aí", avisou.
Segundo Moisés Benesene, a "La Niña" é provocada pelo arrefecimento anormal das águas do oceano Pacífico, fenómeno que, "sendo já considerado global", afecta, por essa razão, outras regiões do mundo, levando à abundância da precipitação. Ao contrário, acrescentou, o "El Niño" é provocado pelo aquecimento anormal das águas do Pacífico, o que provoca, tal como aconteceu no passado na África Austral, situações de seca anormais e graves.
Segundo Moisés Benesene, as chuvas têm começado a cair a montante, em plenas montanhas da África Austral ocidental, nomeadamente em Angola e na RDCongo, pelo que, quando a água chega às bacias hidrográficas, a jusante, sobretudo às que se situam em território moçambicano, os caudais dos rios são já muito fortes. O director do INAM lembrou, a título de exemplo, o caso do rio Zambeze, que nasce na Zâmbia, realçando que as zonas das bacias hidrográficas, pela sua tipologia e morfologia, são áreas facilmente inundáveis.
Segundo a Rede de Rios Internacionais, organização não governamental que estuda a problemática envolvente das diferentes bacias hidrográficas em todo o mundo, o delta do Zambeze é, biologicamente, das zonas húmidas mais abundantes da África Austral, tendo, em 2003, na "Convenção de Ramsar", sido declarado "Zona Húmida de Importância Internacional". A Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como habitat de aves aquáticas, conhecida como "Convenção de Ramsar", foi aprovada na cidade iraniana homónima a 02 de Fevereiro de 1971 e entrou em vigor em 1975. É um tratado internacional sobre a conservação e a utilização responsável das zonas húmidas e dos seus recursos, através de regulamentação nacional ou de projectos de cooperação internacional. Até Janeiro de 2006, a convenção foi ratificada por 150 países, com 1.578 áreas incluídas na Lista das Zonas Húmidas de Importância Internacional, totalizando 133,8 milhões de hectares.
O rio Zambeze, como um dos rios mais importantes de toda a África - da sua nascente, na Zâmbia, até à foz, no Índico, existem 30 barragens -, congrega ecossistemas valiosos e uma grande fauna bravia, razão pela qual as populações se mantêm nas zonas ribeirinhas, de onde retiram o seu sustento. "Em caso de grandes cheias, como as que se perspectivam para este ano, nada há a fazer e nem a construção de novas barragens ajudaria. Apenas se podem minimizar os estragos, nomeadamente através da prevenção, dos avisos prévios e de programas concertados de evacuação das populações ribeirinhas", sublinhou o director do INAM.
Questionado pela Lusa sobre se a frequência das cheias em Moçambique tem vindo a aumentar nas últimas décadas, Moisés Benesene afirmou não poder responder, uma vez que os estudos até agora efectuados ainda não são conclusivos. "Estamos ainda a tentar perceber se se trata apenas de um ciclo ou se este fenómeno se deve às alterações climáticas", observou, dando como ponto de referência as cheias de 2000, em todo o país, e as de 2001, que afectou todo o vale do Zambeze, as maiores de que há registo na antiga colónia portuguesa, que se tornou independente em 1975. "Anualmente, sempre houve cheias. Umas maiores outras menores. Mas as deste ano preocupam-nos. Pode ser o prenúncio das alterações climáticas como pode ser um ciclo, integrado na «La Niña»", concluiu.
© 2008 LUSA
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