Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012
A quase ausência de vegetação deve-se ao facto do pastoreio (ou até sobrepastoreio) de gado, sobretudo aos bovinos (actualmente em maior representação no Alentejo) e aos ovinos e isto, independentemente de serem anos secos, normais ou húmidos. No Alentejo, as zonas de sequeiro a actividade principal passou a ser a pecuária em detrimento dos cereais para grão. Mas isto deve-se às políticas agrícolas.
É normal no Alentejo o estrato herbáceo estar completamente seco e ressequido com o calor do verão. Em termos arbóreos, (as florestais dominantes, azinheira e sobreiro) estão bem adaptadas ao nosso clima, com as chuvas irregulares no espaço e no tempo. Relativamente ao estrato arbustivo, este é em menor número, devido à mobilização dos solos para sementeira e ao pastoreio de gado.
Portanto é normal no final do verão/principio do outono termos zonas desnuadas de vegetação no Alentejo e quando existe é o estrato herbáceo seco. Quanto ao contraste que verificou, de certeza que em zonas serranas encontrou mais vegetação e nas zonas mais planas, verificou terrenos mais desnuados! Isso tem a ver com a politica de desflorestamento do Alentejo devido à campanha do trigo na década dos anos 30. Foi a chamada desflorestação da charneca do Alentejo, para a produção de cereais, sobretudo o trigo. Por isso encontramos áreas enormes com pouca vegetação natural.
Relativamente às barragens, também não exagere! Olhe que 10 anos seguidos de seca mesmo as grandes barragens ficariam sem água, pois o abastecimento público e o fornecimento para a agricultura consomem muita água, não se falando da evaporação atmosférica ou infiltração no solo dessa água, que representa uma parte das perdas. Existem outras!
Quanto às zonas com barragens de menor dimensão, tá claro que as dificuldades são maiores, em anos de seca, mas temos de ver também que os solos só podem ser ocupados face à sua aptidão para as culturas (tipo de solo, declive, etc). Acho que aqui tem de haver uma proporção do uso da água face à dimensão da albufeira. Se é menor, logo o perímetro de rega tem de ser menor. Trata-se aqui de uma questão da gestão da água e tenho verificado em muitas albufeiras que o uso não é eficiente e nem os perímetros de rega bem calculados face à dimensão da albufeira. Em algumas, a gestão é feita por gestores inexperientes, estão fora da realidade. As manutenções e conservações de canais e condutas mais das vezes não são feitas. Tenho visto água a ser desperdiçada durante o verão pelas más ou ausentes conservações do sistema, o que acarreta grandes perdas de água. É do tipo eu quero 5 litros de água por segundo no meu campo e à saída da barragem têm de mandar 10 ou 15 litros para ter a quantidade pedida no meu campo de rega.
Mais das vezes quando os níveis das barragens estão baixos, permitem a rega desse perímetro sem qualquer restrição de culturas, como se a barragem tivesse cheia.
É do tipo, enquanto houver água na barragem vamos vendendo aos agricultores, o que interessa é fazer dinheiro.
Meu caro Aurélio, cada caso é o seu caso, sabemos que em albufeiras mais pequenas e em anos secos os níveis baixam drasticamente, mas também há casos que é mesmo da má gestão, NÃO É SÓ DA SECA!!! A SECA sabemos o que faz, mas a má gestão, que eu tenho presenciado, NÃO SEI MUITO BEM QUAL É A PIOR PARA OS NÍVEIS BAIXOS DAS BARRAGENS!
Só quem não não está por dentro do assunto é que acredita que é mesmo da seca, mas é uma tristeza em alguns perímetros de rega ver água desperdiçada pelos canais e jogada por barrancos e ribeiras em pleno verão, só porque é fim de semana e o cantoneiro que abre e fecha a água ao agricultor, só começa a trabalhar na 2 feira!
Sabemos que o tempo por vezes vem contra a agricultura e as barragens secam-se, mas se tivéssemos boa gestão podiam reduzir, e muito, as perdas de água que se perdem.
É nesta e noutras áreas, dizemos tá mal tá mal, mas quem vai ao problema de fundo ou de raíz é que se apercebe bem da realidade. Quem não conhece, aceita e pensa que as coisas são mesmo assim....
Enfim, haja saúde para todos.....
Relativamente á minha região sempre tivemos muitos problemas com as secas e com aquela maior digamos assim (de 2004 - 2005), fez soar o alarme, pois como deve saber .... desperdiçar água é connosco. A Barragem do Alqueva foi a benção do interior alentejano e também do Algarve e conseguiu resolver a maior parte dos problemas de água. Arrisco dizer que não voltaremos a ter problemas hidrológicos, isto porque nos ultimos 20 anos se construiram várias barragens, sendo a maior de todas a do Alqueva.
Foram também construidas condutas de água para levar a água do Sotavento para o Barlavento algarvio devido aos problemas que a região central essencialmente sofria, porque por aqui não existem barragens e havia bastantes problemas com os furos não apenas devido á má qualidade em especial em alturas das secas, como também devido a constantemente ficarem quase secos.
O mesmo se passava em relação ao interior alentejano que em anos de seca é estilo Saara.
Por exemplo fiz a viagem até aí a Èvora agora em Setembro e parece existir quase uma barreira meteorológica da Vidigueira para cima, aliás existe um grande contraste em termos de vegetação (mas isso é normal ). Mas o que queria dizer aliás é que verifiquei uma grande secura na vegetação, quase ausência de vegetação, poucas culturas e o ponto que queria referir ... as pequenas albufeiras através das quais se faziam algumas culturas estarem também secas, e os animais muito magros. A região de Trás os Montes ainda está na "Pre-Historia" porque enquanto no Algarve se resolveu os problemas, em Trás os Montes parece existir inércia a resolver a situação, mas nem pense que choveu menos lá do que aqui. Olhe por exemplo aqui entre Dezembro e inicio de Outubro penso que somando tudo não ultrapassou os 80 mm, ou pouco mais.
Portanto em resumo em termos hidrológicos não temos nem vamos ter problemas a menos que haja uma seca durante uns 10 anos seguidos, contudo noutras regiões do país a que voçe chama de pequena pereferia, e que gosto mais de chamar barragens pequenas ou sem barragens de suporte, e que não têm como suporte uma grande barragem uma seca prolongada pode-se tornar um grande problema.