IPMA - Novidades, dúvidas, sugestões e críticas

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Houve algum aviso para esta situação de hoje em Setúbal? Parece-me que o IPMA esteve mal neste aspecto.

119,1 mm em 24 horas

67,4 mm em 6 horas, das 7:00 às 13:00 (>critério de aviso vermelho) a somar a 44,8 mm das 23:00 às 5:00 (>critério de aviso laranja). Depois deste primeiro episódio da madrugada deviam ter percebido que vinha mais e pior.

Valores horários superiores a 20 mm por três vezes, três momentos horários a justificar aviso laranja!
23,6 mm das 3:00 às 4:00
27,4 mm das 9:00 às 10:00
21,6 mm das 11:00 às 12:00

Com algum tipo de aviso, especial, local, ou qualquer outra coisa para Setúbal, que não o corriqueiro aviso amarelo e "chuva por vezes forte" para quase todo o território, muitas pessoas poderiam ter por exemplo, retirado as suas viaturas de certos locais ou não estacionado lá quando foram para o trabalho.

Não pretendendo ser "advogado do diabo" até porque confesso, não consegui ver modelos nos últimos dias... Mas que modelo (s ) previam esta situação hoje?

De uma consulta aos nosso tópicos de previsão, também não vi ninguém a prever esta situação (ainda por cima tão localizada...)

EDIT: tinha ainda visto o post do @qwerl quando postei, mas penso que é esclarecedor.
 
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O IPMA esteve bem a meu ver, esta pluviosidade (localizada) em Setúbal foi completamente inesperada, nenhum modelo previa semelhantes acumulados.

A Meteorologia é assim mesmo, cheia de imprevistos e surpresas, por muito que a tecnologia evolua nunca se vai poder prever o tempo com 100% de certezas.
 
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O IPMA esteve bem a meu ver, esta pluviosidade (localizada) em Setúbal foi completamente inesperada

Embora a minha opinião tenha evoluído nos últimos tempos, não consigo concordar. Então digo, voltem os meteorologistas de antigamente que observavam realmente e não se limitavam a olhar para os modelos. Falta aqui observação e previsão a muito curto prazo, now casting, para que é que servem os radares, as imagens de satélite de 5 em 5 minutos, etc, uma panóplia imensa de meios para ver e prever a poucas horas. O ALADIN e o AROME apresentaram às 00h previsões absolutamente ridículas, em cima do acontecimento nem sequer conseguiram modelar a situação presente, parece que pura e simplesmente não recebem dados. Apenas olhando para essas cartas e a partir delas, claro que não ia chover assim em Setúbal.
 
Não pretendendo ser "advogado do diabo" até porque confesso, não consegui ver modelos nos últimos dias... Mas que modelo (s ) previam esta situação hoje?

De uma consulta aos nosso tópicos de previsão, também não vi ninguém a prever esta situação (ainda por cima tão localizada...)

EDIT: tinha ainda visto o post do @qwerl quando postei, mas penso que é esclarecedor.

Não devo estar a explicar-me bem, mas acho que continuam sem perceber o meu ponto de vista, como expus na mensagem anterior. Vejam as cartas do AROME e ALADIN: não há lá nada sequer perto de Setúbal ou até em todo o território, parece que os modelos locais estão cegos. Então desista-se desses modelos e olhe-se para os radares e satélites. Para que é que servem os radares afinal? Mesmo apenas a poucas horas de distância uma comunicação para entidades locais de protecção civil devia produzir um bocadinho mais de efeito do que coisa alguma. Critico que não haja uma vigilância especial flexível em tempo real nestas situações propícias.
 
Embora a minha opinião tenha evoluído nos últimos tempos, não consigo concordar. Então digo, voltem os meteorologistas de antigamente que observavam realmente e não se limitavam a olhar para os modelos. Falta aqui observação e previsão a muito curto prazo, now casting, para que é que servem os radares, as imagens de satélite de 5 em 5 minutos, etc, uma panóplia imensa de meios para ver e prever a poucas horas. O ALADIN e o AROME apresentaram às 00h previsões absolutamente ridículas, em cima do acontecimento nem sequer conseguiram modelar a situação presente, parece que pura e simplesmente não recebem dados. Apenas olhando para essas cartas e a partir delas, claro que não ia chover assim em Setúbal.

Mesmo olhando ao radar não se podia prever uma situação destas, penso que até houve um membro no seguimento Litoral Centro que questionou se o radar estaria a funcionar bem, pois com tanta chuva e apenas uns ecos verdes ou pouco mais..e esta chuva ocorreu ao longo de horas, as inundações foram provavelmente causadas por mau planeamento urbanístico, sarjetas entupidas, etc.

É sempre complicado, em meia hora pode crescer uma célula potente que produza chuvas torrenciais e estragos, como se avisa ( com antecedência de horas) a população de um fenómeno rápido, extremo e inesperado destes? Apenas se pode dizer que há condições para chuvas fortes, trovoadas, fenómenos extremos e lançar o respectivo aviso.

Mas sim, concordo, falta uma previsão mais em cima do acontecimento, mais evoluída, com avisos mais específicos e actualização mais frequente.
 
Não devo estar a explicar-me bem, mas acho que continuam sem perceber o meu ponto de vista, como expus na mensagem anterior. Vejam as cartas do AROME e ALADIN: não há lá nada sequer perto de Setúbal ou até em todo o território, parece que os modelos locais estão cegos. Então desista-se desses modelos e olhe-se para os radares e satélites. Para que é que servem os radares afinal? Mesmo apenas a poucas horas de distância uma comunicação para entidades locais de protecção civil devia produzir um bocadinho mais de efeito do que coisa alguma. Critico que não haja uma vigilância especial flexível em tempo real nestas situações propícias.

O grande problema era que o radar de Coruche estava off. Esse, sendo o radar mais próximo do acontecimento, seria o radar que poderia dar mais certezas. Quando um radar está apenas a indicar um eco verde e afinal está a chover torrencialmente é difícil dos próprios meteorologistas analisarem o acontecimento e tomarem medidas de modo a alertar as populações, nem que seja em cima da hora. A meteorologia é imprevisível, e esse evento de chuva que provocou as cheias em Setúbal foi muito localizado. O satélite também não dizia muito, é só ver as imagens de satélite na altura do acontecimento.

Mesmo assim, e concordando com o colega @Snifa, também acho que devia haver um maior investimento de tempo por parte dos meteorologistas no lançamento de avisos, mais detalhada, e não o mero "Períodos de chuva por vezes forte" que tantas vezes vemos, e que até faz banalizar a coisa. As pessoas olham para os avisos e dizem: "Da última vez dizia a mesma coisa e não aconteceu nada, por isso também não vai acontecer agora", e depois acontecem problemas que podiam ter sido evitados se houvesse uma maior variabilidade e um maior detalhe nos avisos meteorológicos.
 
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Não devo estar a explicar-me bem, mas acho que continuam sem perceber o meu ponto de vista, como expus na mensagem anterior. Vejam as cartas do AROME e ALADIN: não há lá nada sequer perto de Setúbal ou até em todo o território, parece que os modelos locais estão cegos. Então desista-se desses modelos e olhe-se para os radares e satélites. Para que é que servem os radares afinal? Mesmo apenas a poucas horas de distância uma comunicação para entidades locais de protecção civil devia produzir um bocadinho mais de efeito do que coisa alguma. Critico que não haja uma vigilância especial flexível em tempo real nestas situações propícias.

StormRic, nenhum modelo previu a chuva que caiu em Setúbal. Dizeres que o AROME e ALADIN para desistirem dos mesmos é algo muito radical, quando os mesmos modelos modelaram bem a situação no Algarve embora na saída mais perto colocavam mais a oeste do que onde ocorreu.

Então, no Algarve se vamos falar de modelos, eu digo que deviam acabar com todos, sim com todos, porque todos já erraram e várias vezes, tanto em situações que prevêem um acumulado elevado e ocorre um acumulado residual, como em situações que nada indicam e cai um dilúvio.

Então, a Protecção Civil não lançou um alerta? Lançou e com mais margem de tempo do que em relação ao Algarve no passado dia 1 de Novembro, o alerta foi lançado agora cabe a cada um a dotar as medidas preventivas.
 
Embora concorde que falta por vezes ao IPMA um acompanhamento em tempo real dos acontecimentos, este caso de Setúbal é daqueles em que nada podia ser feito. Não só nenhum modelo previu o que se passou, nem lá perto (globais e mesoescalas) - não havendo deste modo qualquer razão para ficar sobrealerta - como a precipitação ocorrida foi causada por nuvens baixas, que originam reflectividades enganadoras no radar (o radar "mede" menos intensidade do que a que realmente ocorre). Nem o de Coruche, se estivesse em funcionamento, resolveria o problema.

Relativamente ao modelos, têm uma atenuante. Este foi um fenómeno essencialmente de precipitação orográfica, em que havendo muita humidade a níveis muito baixos, bastaram as pequenas altitudes localizadas a norte de Setúbal para originar um fenómenos de precipitação intensa. Não conheço as malhas dos modelos de mesoescala, mas duvido que interpretem na perfeição o relevo da região, que não é muito pronunciado. Então para os modelos globais, era tarefa impossível prever o que se passou.
 
Havendo assim aparentemente um consenso de opiniões, revejo em baixa as minhas expectativas de o estado das capacidades de previsão a curto prazo poderem no futuro indentificar atempadamente fenómenos deste tipo, o que não deixa de ser desanimador relativamente à evolução da ciência meteorológica ao nível da previsão. Desde a catástrofe de 1967, conclui-se assim que não houve uma real evolução, o que aconteceu há 48 anos parece poder acontecer novamente sem ser possível a tomada antecipada de medidas de minimização dos efeitos. Os valores de precipitação caídos em Setúbal são comparáveis aos que ocorreram marginalmente na situação de 67, não aos máximos do núcleo mais intenso do evento de então, mas não longe: 119,1 mm em 24 horas, só que numa área muito mais restrita. A questão é: isto pode voltar a acontecer sem ser previsível, o que mostra a insuficiência actual de meios técnicos ou mesmo da ciência meteorológica.

Numa publicação de 1980 do INMG, em que foram analisadas estatisticamente séries de "valores máximos do ano da quantidade diária de precipitação em Portugal continental", o valor de 113,6mm é identificado como o correspondente ao período de retorno de 100 anos. Trata-se, claro, de série relativamente curta para Setúbal, 11 anos de 1940 a 1950 e 22 anos de 1953 a 1974, em duas localizações perto da actual mas não coincidentes. No entanto dá uma ideia de que o evento presente tem carácter muito raro e, por isso, digno de estudo.

Edição: acrescento que o máximo diário (9h-9h) que consta nas Normais de 1971 a 2010, é 97,5 mm. Apenas um valor indicativo, uma vez que não há um valor disponível para 24 horas flutuantes. O evento presente, por exemplo, quando posto em termos de valores diários das 9h às 9h, desaparece pura e simplesmente como evento notável: 62,6 mm para dia 14 e 59,8 mm para dia 15 (valor provisório obviamente).
 
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Eu estou de acordo com o StormRic.

Se calhar, por vezes, os meteorologistas deviam olhar um pouco para o tempo que faz diretamente e não só para as máquinas.

Muitas vezes, nós, amantes da meteorologia, olhamos para o céu e conseguimos ter a percepção se vem ou não temporal, se vem ou não trovoada, o que não conseguirão ver meteorologistas profissionais.

Eu considero que temos um bom serviço de meteorologia, mas penso que faltam meios humanos e também volto a insistir na velha questão dos critérios dos avisos.

Ainda esta noite, aqui na minha zona, está muito vento, tanto ou mais que ontem. Ontem estava aviso amarelo e hoje não. Porquê?
 
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Eu comparo o trabalho dos meteorologistas com o dos pilotos da aviação civil em que cada vez mais deixam os computadores tomar as redeas dos acontecimentos e isso preocupa-me muito. Basicamente a IA está em 1ª linha em vez da Inteligencia humana.
 
Continua-se a confundir previsão com observação. Ainda há bem pouco tempo muitos refilavam com o IPMA por ter lançado avisos à última da hora(porque não servia para nada).

Volto a dizer.Quem é que daqui previu esta situação ao ponto de dizer que devia ser lançado qualquer aviso?
 
Desde que lançaram a nova página "Actividade sísmica" , já não disponibilizam acesso ao histórico de sismicidade em Portugal (pesquisa por ano/mês/dia)..

Alguem ainda consegue ter acesso à antiga página de sismicidade em Flash (link directo)? Ou ainda melhor, uma página dedicada ao histórico de sismicidade..
 
Volto a dizer.Quem é que daqui previu esta situação ao ponto de dizer que devia ser lançado qualquer aviso?

Sem poder justificar com base em modelos, observações oficiais, perfis, etc, vou ser muito sincero, não faço previsões. E não serve de nada, nem é próprio de quem quer trabalhar com base científica, emitir pareceres intuitivos. É mesmo assim, não é uma crítica a ninguém, é o modo como o conhecimento e a ciência evolui. Mantenho no entanto a opinião de que há sabedoria baseada na longa experiência de observação directa, difícil de pôr em números e de ser modelada, que ou se perdeu ou não é mais aplicada. É o factor humano, chame-se-lhe instinto, intuição, tarimba, etc que poderia fazer os modelos derivar para as soluções mais correctas, algo semelhante ao processo dos ensembles mas permitindo seleccionar a previsão mais correcta e não a mais consistente; por vezes a correcta está num extremo, não é a mais frequente ou a mediana, como aconteceu neste evento. É também a falta de detalhe nos modelos que lhes bloqueia ou exagera a previsão de eventos muito locais. Mas um meteorologista que vivesse em Setúbal há muitos anos, habituado a observar o efeito local do relevo conforme o vento, a humidade a vários níveis, etc poderia ter previsto, mesmo com o risco de não ser levado a sério porque os modelos não previram (nem tinham capacidade para prever).