Caros Amigos (e Amigas) deste forum, lanço-vos o seguinte desafio, definir o vosso perfil de aficionados pela meteorologia, através da resposta às seguintes três questões:
1 - O que vos fascina na Meteorologia?
2 - Qual a vossa situação meteorológica preferida?
3 - Qual o episódio meteorológico que viveram que mais vos marcou?
1 - O sistema dinâmico que é: é infinitamente complexo e, no entanto, completamente racional, embora nos escape enormemente pela sua complexidade. Gosto da meteorologia como gosto das outras ciências da terra, porque todas estão relacionadas: meteorologia com geomorfologia, fitogeografia com metorologia, astronomia com meteorologia, etc... Acontece que a atmosfera é o que é, uma camada de ligação entre o espaço e a terra e tudo, mas mesmo tudo tem nela alguma repercussão! Não me interessa especialmente o bater das asas de uma borboleta poder causar tornados, não é a esse nível que digo que tudo pode influenciar tudo. Mas, quando assistimos a um fenómeno de chuvas torrenciais, sabemos que há ravinas que estão a crescer nas cabeceiras das redes hidrográficas e que haverá sedimentos a fazer crescer as aluviões nas rias e estuários; podemos assistir, em directo, a um pedacinho mínimo dos fenómenos que continuamente alteram a face da terra. Certos fenómenos podem ter impactos catastróficos, entendidos como tragédia apenas porque os seres humanos teimam na mania de que o seu habitat tem que ser estático e não contam com factores dinâmicos... Pelo contrário, a terra é dinâmica e não existe nada que me dê maior conforto e sensação de "eternidade" do que assisitir a esse dinamismo; nada que me angustie mais ou me dê maior noção de transitoriedade do que ver os esforços inglórios e estúpidos que os seres humanos fazem para tentar contrariá-lo (como projectar betão sobre as arribas). Por fim, tal é a complexidade do sistema que nenhum modelo até agora tornou ilegítimo qualquer outro processo de previsão, mesmo que baseado em observações mais ou menos limitadas no espaço e no tempo e numa associação algo intuitiva das mesmas a observações anteriores registadas na memória... A intuição é um factor chave na capacidade que o ser humano tem de resolver sistemas complexos, até agora ausente dos processos de computação - ainda que devamos abdicar, total e honestamente, do conceito de certeza que nos obceca há séculos. A meteorologia, para mim, é campo de expressão de tudo isto.
2 - Em concordância com o que atrás escrevi, prefiro os fenómenos extremos, quanto mais extremos melhor, tanto porque significam "maiores porções infinitesimais" da evolução do sistema, como porque carregam maior quantidade de informação (nenhum fenómeno acontece por acaso mas se, quase sempre, a maior parte dos factores determinantes nos escapam, os fenómenos extremos implicam, contudo, uma maior convergência de factores e tornam-se, por isso, mais "justificáveis", embora nunca "explicáveis" num sentido que as ciências exactas possam dar ao termo). Mas, sobretudo, vagas de frio ou de humidade, porque o calor seco representa, sempre dentro deste contexto, condições de muito mais lenta alteração (claro que há os fenómenos eólicos, bla bla bla, mas olhem para o deserto do Saara visto de cima e digam lá se as marcas mais evidentes na paisagem não são as ravinas e os cones de dejecção)... Gosto de furacões e tornados
3 - A neve em Janeiro de 2006, claro! Quando ouvi na rádio dizer que estava a nevar em Alverca, não podia arriscar a que me passasse ao lado e fui atrás dela! Peguei no carro e meti pela CREL acima, atento ao termómetro... Ia baixando grau a grau, estavam 4º em Oeiras, em Queluz ia em 1º... Tive a sensação de ver os primeiros flocos bater no para-brisas e saltar mesmo antes de entrar no túnel de Carenque e, ao saír do outro lado, estava a nevar! Subi ao cabeço de Montachique, havia uns 10cm de neve, andei por aquelas estradas todas até Mafra, Sobral de Monte Agraço, Arruda, sempre que descia parava de nevar, se subia, voltava a nevar, ver aqueles vinhedos todos cobertos de branco foi sensacional. Só tenho pena de não ter chegado à Serra de Montejunto, ouvi dizer que as estradas ficaram intransitáveis e que os bombeiros tiveram que resgatar pessoas
É muito mais interessante ver neve como um fenómeno inusitado para um lugar do que ir ver neve à Suiça ou a qualquer lugar onde seja habitual vê-la. Outro fenómeno que me entusiamou foi o furacão Vince em 2005 (grande época!!), embora tenha passado um nadinha demasiado ao Sul, não deixou de ser o único furacão atlântico registado que atingiu a Península ainda com características de tempestade tropical...