Falta agora ter alguma sensibilidade no seguimento para ter a percepção correcta da direcção dos núcleos, do seu desenvolvimento e do windshear. Não é fácil..
Vais ver que não é assim tão dificil e que tudo se consegue sabendo o básico e depois confrontar o que sabemos com o que vamos acompanhando nas imagens.
Voltemos ao
94L, estava para escrever sobre ele e aproveito esta resposta para isso.
Quando falamos dum sistema ainda não desenvolvido, a atenção centra-se nas condições como a convergência, divergência e vorticidade, além daquelas que todos já sabem como a temperatura da água e humidade.
Podes aceder a isso tudo por exemplo neste link (no tópico dos
links úteis está lá tudo isto e muito mais)
http://cimss.ssec.wisc.edu/tropic/real-time/atlantic/winds/wg8conv.html
Convergência
É a convergência nos niveis baixos, que tem que ser positiva (linhas contínuas), se for negativa (tracejados) significa divergência que nos niveis baixos seria prejudicial. Relativamente à convergência o 94L tem condições favoráveis.
http://cimss.ssec.wisc.edu/tropic/real-time/atlantic/winds/wg8conv.html
Divergência
É a divergência nos niveis altos, a interpretação é a mesma só que ao contrário, aqui quer-se valores positivos de divergência. Quanto a isto o 94L também tem condições favoráveis.
http://cimss.ssec.wisc.edu/tropic/real-time/atlantic/winds/wg8dvg.html
Vorticidade
A vorticidade é importante por causa de conseguir a circulação, além de ajudar na convergência e divergência. Quanto à vorticidade há condições favoráveis, o que é habitual nas ondas tropicais. As ondas tropicais são perigosas porque sendo ondulações só por si já trazem boa parte destas condições favoráveis consigo, só precisam é de se desanexar da ZCIT para terem circulação, quanto mais próximas do equador (por causa da força de coriolis) mais dificil é adquirirem circulação.
http://cimss.ssec.wisc.edu/tropic/real-time/atlantic/winds/wg8vor4.html
Windshear
O windshear é um pouco desfavorável mas não radical.
http://cimss.ssec.wisc.edu/tropic/real-time/atlantic/winds/wg8shr.html
Tendência Windshear
O windshear nas últimas 24 horas subiu.
http://cimss.ssec.wisc.edu/tropic/real-time/atlantic/winds/wg8sht.html
Temperatura da água
Na temperatura da água a iso vermelha é de 26°C e delimita a temperatura para a formação dos sistemas tropicais. Na prática sabemos que há excepções por variados motivos, por exemplo se tivermos mais frio do que é normal nos niveis altos poderá haver gradiente térmico suficiente na atmosfera que compense a água ligeiramente mais fria. Outra situação é a de um sistema já formado que ainda consegue sobreviver algum tempo em água abaixo destes valores, e ainda sistemas como os subtropicais ou ainda o furacão Vince que teve uma ciclogénse muito complexa associada a uma depressão tropical que ninguem detectou na altura e a interação com uma frente.
http://www.aoml.noaa.gov/phod/cyclone/data/at.html
Além da temperatura da água, também é importante o calor acumulado na água até maiores profundidades.
http://www.aoml.noaa.gov/phod/cyclone/data/at.html
Sabendo o valor da temperatura à superficie, este do calor acumulado é importante não tanto para os sistemas que se formam, mas para os sistemas já maduros pois a água pode estar quente à superficie mas não em profundidade, e sendo assim não é possivel um sistema poderoso manter-se ou intensificar-se por exemplo para um categoria 4 ou 5. Eventualmente consegue durante umas horas, mas se não existir realmente muito calor não consegue manter-se muito tempo com muita intensidade. Claro que isto tudo são conceitos que às vezes são desafiados e depois surpreendem quem faz as previsões, mas isso também é normal, pois há diferenças entre os ciclones tropicais, não são todos iguais, alguns tem tamanho, estrutura e dinâmica interna que fazem com que resistam de melhor ou pior forma a determinadas condições.
Vapor de água/humidade
O vapor de água é importante, mas quando temos um sistema com convecção profunda ele consegue perfeitamente progredir através de regiões secas pois a convecção cria o seu próprio "embrulho" de ar humido. Aqui a temperatura da água é importante, pois se a progressão através duma região seca é feita também com água cada vez mais fria, a convecção diminuiu e o ar seco acaba por afectar o sistema. Neste caso do 94L não haverá problemas quanto a isso. A Bertha por exemplo teve problemas desses durante algum tempo em que atravessou uma zona com água mais fria.
http://www.ssd.noaa.gov/goes/flt/t2/wv-l.jpg
Modelos
Os modelos são cada vez melhores, mas ainda tem mutas limitações. Por vezes são incrivelmente acertados, a Bertha foi um caso desses, outras vezes falham rotundamente. Isto falando em previsões com alguns dias de antecedência. Por norma os modelos trabalham muito bem quando temos a entrar no Oceano uma onda já com uma boa depressão associada, ou seja, parte do trabalho está feito, quer a pressão já é um pouco baixa, quer muitas vezes já traz uma circulação interessante, e os modelos aí lidam bastante bem com essa realidade.
Noutros casos, como por exemplo uma pertubação como o 94L que vai evoluindo muito lentamente e com dificuldade, é muito dificil os modelos lidarem com todas estas condicionantes que mudam localmente e até em poucas horas. Mas uma vez estabelecido e formado o sistema, aí os modelos já pegam nele como deve ser e prevêm com alguma fiabilidade.
Satélite
Todas as imagens de satélite tem a sua finalidade.
http://www.ssd.noaa.gov/PS/TROP/trop-atl.html
O IR que nestes casos tem várias versões "enhanced" que servem no geral para medir a profundidade da convecção como por exemplo o "Rainbow","AVN", etc.
O "Funktop" costuma ser o melhor para ver o CDO (Central dense overcast).
Depois temos os visiveis. Nos visiveis o "RGB" é o mais importante, porque separa bem as nuvens altas das baixas. É esta imagem que é fundamental para descobrir a circulação à superficie e localizar o centro da mesma. No visivel clássico é possivel distinguir as nuvens mas é muito mais dificil. No IR as nuvens baixas e a circulação é praticamente impossivel de identificar, embora dê para ver a circulação nos niveis médios.
RGB:
Para além do RGB, usa-se o Quikscat para detectar a existência da circulação à superficie, embora por vezes não seja fácil, às vezes está lá uma circulação muito fraca e o quikscat não a detecta, e mesmo fraca não se pode ignorar. Outras vezes o satélite falha a passagem sobre a pertubação, além de que a chuva por vezes contamina a detecção.
Quikscat:
http://manati.orbit.nesdis.noaa.gov/cgi-bin/qscat_storm.pl
Regressando ao 94L e com toda esta informação, vemos que o 94L tem uma serie de factores favoráveis (convergência, divergência, vorticidade, temperatura água, etc) mas tem outras desfavoráveis, como a existência de algum shear mas que pela análise acima e pela imagem de satélite, não parecem graves.
Como só agora amanheceu nessa zona, ainda só temos 3 "frames" da animação e é dificil avaliar se existe ou não circulação à superficie. Temos que esperar mais uma ou duas horas para ter um loop completo.
Mas mesmo olhando apenas para estes 3 frames eu arriscaria que não sendo visivel uma circulação há no entanto alguns sinais que parecem indiciar que ela está a ser formada, se repararem bem, esses sinais são a curvatura de alguma da nebulosidade. Mas sem ver mais frames é dificil como disse, pode ser enganador.
Se nas próximas horas for de facto detectada a circulação em superficie disparam de imediato os alarmes no NHC, pois teriamos circulação e convecção profunda sobre o centro e já demasiado próximo de ilhas e população. Ilhas essas que mesmo sem sistema tropical vão ter algum mau tempo de qualquer forma.