Apesar de ainda haver alguma incerteza do comportamento da frente que nos irá afectar a partir de quarta feira, 25 de abril, os modelos começam a tender para a opção em que a frente progredirá lentamente para leste, afectando deste modo todo o território continental.
Tudo começa com uma ciclogénese explosiva no Atlântico Norte, que arrasará completamente a dorsal açoriana, que nos últimos dias tem sido decisiva para que o sul do país não tenha sido atingido pelas várias frentes que chegaram ao litoral norte. Nesta animação pode-se ver a tal ciclogénese explosiva (neste caso, o seu núcleo desce cerca de 30 hpa em 24 horas) e o campo de ventos gerados à superfície (velocidade e direcção):
A dorsal atlântica, pela acção conjunta da ciclogénese explosiva e de uma depressão muito cavada nos EUA (imagem abaixo), aparece em força no Atlântico Oeste, originando um bloqueio à circulação zonal, que permitirá uma entrada de ar bastante frio em altitude até latitudes bastante baixas, entre os Açores e o continente.
Forma-se então uma área de baixas pressões, desde a Noruega até à Madeira, que afectará o estado do tempo em Portugal continental desde dia 25 até, pelo menos o próximo domingo, sendo que é possível que dure ainda mais tempo.
Inicialmente seremos afectados por uma frente fria, que atingirá inicialmente o litoral norte e progredirá lentamente para as restantes regiões. O facto da progressão ser lenta (cerca de 48 horas para "varrer" todo o território) poderá originar bons acumulados, sendo que a frente passará por vários períodos de enfraquecimento e fortalecimento, pelo que a distribuição poderá não ser totalmente democrática.
Distribuição da precipitação ECMWF:
Distribuição da precipitação GFS:
Ainda há algumas diferenças entre os dois modelos, o ECMWF desloca a frente menos lentamente para leste do que o GFS, estando esta já em Espanha na sexta feira. Ainda há bastantes diferenças sobre os acumulados de precipitação em cada região, tem variado muito de saída para saída, pelo que os valores acima não deverão ser os definitivos (até porque ECMWF e GFS têm valores bastante diferentes em muitos locias).
Nota-se em ambos os modelos um pós frontal relativamente interessante no litoral norte, podendo aí ocorrer alguma trovoada e queda de granizo. Ao contrário do que o IM prevê, não acredito em cotas abaixo de 2000 m na quarta feira, já no pós frontal, na quinta feira, a cota pode descer para cerca de 1400 m.
Após a passagem da frente deveremos entrar num regime de convecção, com aguaceiros e trovoadas generalizadas, a começar no sábado e de duração incerta, devido à aproximação do ar frio em altitude ao continente. O GFS prevê que dure até segunda, o ECMWF mantém-na até ao fim da simulação. A precipitação prevista, principalmente pelo ECMWF, é bastante considerável, não esquecendo que a modelação da precipitação em fenómenos convectivos, a tão larga distância temporal, reveste-se sempre de grande incerteza.
Cavado e cut-off após a passagem da frente - GFS: