Como balanço do seguimento deixo umas notas finais:
É bastante provável que o Alex tenha deixado de ter ventos de furacão umas quantas horas antes. A partir do momento que a parede do olho rebentou ontem à noite não voltou a recuperar e isso deve ter enfraquecido bastante os ventos, por outro lado expandiu-os mais um bocado.
A manutenção de status de furacão deve ter tido a ver com:
- o começo da transição extra-tropical em que processos baroclínicos podem intensificar a depressão compensando o enfraquecimento dos processos barotrópicos (convecção profunda, etc)
- a inexistência de dados reais. O Atlântico é uma imensidão onde praticamente poucas sondagens se fazem para injectar nos modelos. Nos ciclones tropicais do Atlântico isso é compensado com os voos RECON, em que há dois tipos de missões, umas de muita altitude em que no possível trajecto dum ciclone
são lançadas dezenas de sondas a medir a atmosfera numa área enorme, e
outras de baixa altitude atravessando múltiplas vezes o ciclone para medir em tempo real a situação real do mesmo. Esses dados além de servirem para avaliar a situação, são depois injectados em modelos melhorando as previsões destes. Nisto tudo por vezes chegam a ser feitas muitas centenas de sondagens em apenas um ciclone.
Mas nesta região dos Açores isso não acontece, as missões RECON não vem para estes lados.
Tive esperanças que fizessem uma missão excepcional, fartei-me de ver o feed das missões a ver se aparecia alguma coisa, mas nada. Tinha esperança porque seria muito importante até para obter dados para ciência, dada a raridade do ciclone.
Houve uma vez que próximo dos Açores não houve os habituais voos da NOAA e da USAF, mas a NASA mandou um drone para efeitos científicos. Desta vez não, mas também ninguém estava à espera dum furacão em Janeiro
http://www.meteopt.com/forum/topico...-atlantico-2012-al14.6686/page-20#post-342017
- é muito raro na véspera de um landfall diminuir-se avisos, isso é perigoso e contraproducente, e caso as coisas corram mal, haveria consequências chatas. Um dispositivo é activado, e depois na véspera não se pode estar a diminuir a prevenção.
Ainda bem que correu tudo relativamente bem, penso que nos Açores já não é a 1ª vez que ventos mais fortes passam entre ilhas. Se repararam no satélite, a depressão começou a intensificar-se pelos tais processos que referi acima pouco depois de passar pelos Açores. Estava mais ou menos previsto isso, mas nestas coisas nunca há certezas. No meio do azar, também houve sorte. Os Açores ficaram no limbo entre a fase final decadente como ciclone tropical e o início da intensificação como ciclone extra-tropical. espero que muitos tenham jogado hoje no euromilhões !
Para finalizar, nestas alturas aparece o habitual ruído (gritaria agora mais insuportável graças às redes sociais) de que não se passou nada, que foi tudo um exagero, que eu bem avisei que não era nada, blablabla. Ignorem, o que interessa é quem esteve por aqui e foi tentando perceber o que se passava, como se lida com incertezas, como se segue um evento problemático em nowcasting, e afinal, como estar prevenido.
O ruído será sempre eterno e não pensem que é um problema português, que os portugueses são isto ou são aquilo. Isto é geral, já acompanhei furacões de 3,4,5 de categoria a fazerem landfall, e no seguimento 50%/60/70% das pessoas a dizerem que foi uma treta, que não teriam precisado de evacuar, etc,etc. É claro que quando as coisas correm mal são logo os primeiros a atirar pedras. O ser humano é assim, não é defeito português