A esta hora, só pode ser fogo posto.
Novos incêndios a nascer do nada a meio da noite, sim, são claramente fogo posto, intencional ou acidental.
Agora, reacendimentos de fogos anteriores à noite, ainda por cima com vento leste, epa, isso é o pão nosso de cada dia ...
Caso não saibas, o vento de leste tende a intensificar-se à noite, aí no Algarve não sentem isso pois obedecem a outras dinâmicas que certamente conheces melhor do que eu, nota-se mais nas regiões do norte e centro interior, com vento de leste dá-se a chamada brisa "terrestre" durante a madrugada, o processo inverso da brisa marítima no final da tarde que acelera a nortada no litoral em sinópticas de nortada e que deixa toda a gente nas praias do litoral furiosa.
Em sinópticas de corrente de leste dá-se o processo inverso durante a noite, a brisa terrestre a acelerar o vento de leste durante a madrugada, e isso desde sempre foi um paiol de pólvora nos incêndios pelo país em dias de vento de leste. Não é por mero acaso que a maior parte dos reacendimentos nestas circunstâncias se dão a meio da madrugada, a partir das 4 ou 5 da manhã...
Parece-me que muita gente continua sem perceber a influência das condições meteorológicas neste tipo de situações e tem necessidade de apontar a todo o custo o dedo a alguém. Manias...
Entretanto, há dois dias atrás pus aí um link para um estudo nos EUA que mostrava que até ao século XIX a floresta objecto do estudo em questão sobrevivia a arder a cada 5/10 anos em média... e por cada ano que impedimos que arda, maior serão os incêndios que estamos a gerar no futuro .... Infelizmente nesta como em muitas outras questões, reina a retórica fácil de circunstância. Não existe solução milagrosa para o nosso problema, despejem as fortunas que quiserem, seja em prevenção seja em combate, milhões ou biliões, não se resolve esta questão, o problema é muito mais profundo que isso, e curiosamente, poucas pessoas o discutem. Talvez porque leve muitas décadas a resolver tal problema, mesmo muitas, se calhar mais de um século a solucionar isto, e claro, isso a tão longo prazo não rende dinheiro nem votos a uns e outros.
A floresta pede sinceras desculpas por ter um crescimento lento que leva décadas e não consegue acompanhar o imediatismo retórico destes anos que vivemos.