"Foi a ganância e nada mais que a ganância que deu cabo da nossa serra"
Nos montes mais escondidos do Algarve há pastores, lenhadores e destiladores de medronho que viram a serra de Monchique ser destruída ao longo de 15 anos. O pior incêndio de 2018 não foi surpresa para ninguém
Foi José Casimiro Duarte quem fez soar o alarme. Andava com os gados ao pasto quando viu o primeiro núcleo de chamas eclodir mesmo em frente ao lugar das Taipas, nos terrenos que hoje constituem um eucaliptal chamado Perna da Negra. Era sexta-feira, 3 de agosto, e o homem rumava a casa com 32 cabras para o almoço.
Ali não havia rede de telemóvel, por isso correu para o alto do barranco para ligar aos bombeiros. A chamada passou, às 13.32 eram acionados os meios de combate para um incêndio que acabaria por se tornar o pior deste ano em Portugal. Sete dias de fogo deram conta de 27 mil hectares de terreno na serra de Monchique. Quase três Lisboas.
Nas cumeadas a floresta está mais organizada, mas no vale, precisamente o lugar mais perigoso para o fogo, chegam a ver-se 1500 árvores por hectare, quando a gestão eficiente aconselharia metade. "Com o tempo quente, com os níveis de humidade baixos e com esta densidade de arvoredo estavam aqui reunidas as condições para uma tempestade perfeita. Foi o que aconteceu."
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