Seguimento - Incêndios 2022

a primeira vez que estive na quinta da taberna já lá vão uns anos ainda não existia a praia fluvial estava completamente ao abandono,
apareceu uma mulher dos seus 80 e tal anos e pediu-me boleia para videmonte, estamos a falar de 6 km de distância pelo meio da serra onde não há viva alma. Contou-me pelo caminho que o homem tinha morrido e que toda a vida viverá ali, estava agora em casa da filha a morar ( em videmonte) e fazia todos os dias aquele caminho para ir dar alimento aos animais que ainda tinha na anterior casa… Como esta há inúmeras pessoas que vivem na Serra da Estrela e no mundo rural por esse país fora, as pessoas que têm o poder de decisão nos grandes gabinetes em Lisboa estão desfasados da vida do campo


Alguém sequer pensar que é possível fazer uma gestão da floresta que fosse apenas no parque da Estrela é estar muito desfasado da realidade quanto mais no país inteiro
 
Um comentário muito interessante de Daniel Pinheiro no Facebook sobre o tipo de árvores mais e menos combustiveis, e que arderam ou não.


No meio da catástrofe, a Luz

Ao cuidado dos autarcas e comunicação social que dizem que ardeu tudo por onde o fogo passou. Os outros já nem vale a pena mencionar.

No meio da catástrofe, a Luz que um país inteiro e principalmente quem tem poder de decisão, teima em não ver, ajudado por um lado negro da força que manda no país florestal há décadas.

Esperei uns dias para obter a informação actualizada e oficial. Conhecendo boa parte do PNSE, não queria acreditar que estes 250/300 hectares de folhosas, na sua maioria castanheiros, tivessem ardido.

E fico feliz, no meio de tanta destruição, num incêndio de proporções épicas e descontrolado durante dias, de ter ficado mais uma vez gravado não na rocha, mas na floresta, a VOZ DA NATUREZA. O comportamento do fogo; o que fica e o que não fica, o que funciona e o que não funciona, como passou e não passou.
Não, não ardeu tudo! O incêndio da Serra da Estrela foi um incêndio de pinhal e matos.

E a Luz ficou bem gravada nestes bonitos vales de Manteigas.

Fiz no Google Earth um decalque "grosso modo" das áreas de folhosas, na sua maioria castanheiros (a azul), escolhendo passagens recentes do satélite nos meses de inverno para melhor identificar a folha caduca neste período. Qualquer um pode verificar.

Já não abundam no centro de Portugal áreas de folhosas com esta dimensão para case study. Existe felizmente no PNSE uma área de castanheiros com alguma escala que é precisamente este vale da Ribeira de Leandres, a partir do Poço do Inferno bordejado nas duas encostas por cerca de 200 hectares de castanheiros e outras folhosas, que na parte superior vai ficando misto com as resinosas. Com mais 100 hectares noutros mosaicos mais pequenos em torno destes vales de Manteigas, que também não arderam, na sua esmagadora maioria.

Há zonas em que o decalque é quase perfeito. Onde acabam os pinheiros e começam os castanheiros. O fogo veio na direcção Sul-Norte como se sabe e atacou este vale por 3 flancos, principalmente sul e nascente e posteriormente a norte, andou a "roer" estes rebordos todos, tentou entrar e foi barrado nos castanheiros, bastou 20/30 metros de "amortecimento" para parar.

O FOGO PAROU NESTE VALE, CIRCUNDOU-O E SEGUIU PARA NORTE.

Outro dado que ficou evidente é a lentidão com que o fogo fica quando chega aqui, fica a "moer" durante dias na manta morta e nas primeiras árvores folhosas que encontra e não há projecções nesta floresta. Ao invés dos pinhais e mato onde a passagem foi alucinante, à velocidade de centenas de metros por hora. Até neste aspecto estas florestas ajudam no combate, ao darem muito mais tempo aos bombeiros para atacar, caso consigam.

Fico feliz por, até o pequeno núcleo de castanheiros da Cova, lá no alto dos seus 1100 metros com 30/40 hectares, atacado violentamente quando o fogo subiu pela encosta de Verdelhos, lá está verdinho. Esta é para mim a evidência maior do que se passou aqui e do poder destas florestas.

É óbvio também que existem muitas zonas mistas e pequenas ilhas de folhosas sem escala ou árvores mais isoladas no meio do pinhal e matos, e essas também não resistiram, mas as manchas "maiorzinhas" estão lá. 90% das folhosas estão lá.

Claro que nada disto é novo, está na experiência empírica dos mais antigos e em muita literatura académica portuguesa, já muito antiga é certo, porque parte da academia portuguesa dedica mais tempo nas décadas recentes a estudos e artigos a enaltecer ou normalizar espécies que colocam Portugal a arder.

Fico feliz por ser uma vez mais a natureza e não qualquer estudo encomendado a dizer-nos o que funciona e o que não funciona, o que fica e o que não fica, como passou e não passou. A chapar nas ventas de quem quiser ver, o que poderia ser um Portugal florestal diferente.

(Esta parte ler a cantarolar com a música "Imagine" de John Lennon)

Imagine se em vez da ANEDOTA das Faixas de Rede Primária de Gestão de Combustível, faixas de 150 metros de mato mal rapado onde o fogo passou como gasolina, existissem 150 metros de florestas desta. Deixo à vossa imaginação o mosaico pretendido.

Imagine se o dinheiro, recursos materiais e humanos gastos ano após ano nestas faixas e que foi pró maneta , fosse para fazer algo diferente...

Imagine um PNSE e um Centro de Portugal onde em vez de menos de 1% de florestas destas, (na sua esmagadora maioria pequenos bosques sem escala) tivesse um bocadinho mais, 5 ou 10% vá, em zonas estratégicas do território bordejando outras florestas inclusivamente de produção (cuidado que pedir 5 ou 10% já dá direito a ser apelidado de ambientalista radical e alucinado) Triste país.

Imagine um Centro de Portugal com mais manchas destas, onde existe lugar para todas as outras espécies, autóctones e de produção (pinheiro e eucalipto em menor escala do que a que temos actualmente).

Imagine um Portugal QUE FIZESSE DINHEIRO COM ESTA FLORESTA, COMO OS PAÍSES RICOS DA EUROPA FAZEM, e tivesse menos "floresta de limpar o cu".

Mas Portugal é infelizmente um país do terceiro mundo neste aspecto.

Se perante uma evidência desta escala vai mudar alguma coisa? Não. Porque quem manda não admite sequer 5% do país florestal diferente. Quem manda quer abocanhar todo o território com propensão para a floresta que arde, como tem pedido no último mês.

Porque quem manda quer um país a arder. Como se diz por aí, fogo é vida! Demorei a entender a verdade destas palavras. De facto há muita gente que faz a sua vidinha com o fogo e com esta floresta, à custa de todo um país.

Agora, depois de ouvir tanta gente: autarcas, comunicação social e os do costume dizer que ardeu tudo por onde o fogo passou ou que arde tudo igual, vou fazer um retiro espiritual com os monges Chop Suey.

Fontes: Copernicus - European Forest Fire Information System e Google Earth.
 

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Sobre o excelente post acima do @Angelstorm, assim de repente lembro-me de uma célebre noite, após incêndios de Pedrógão, onde todas as televisões nos 'davam música para consolar o coração' e na RTP2 um excelente investigador do Técnico desmascarava sem dó e piedade o representante da associação de protecção civil de Portugal...e mais não digo!
 



Todos na mesma área, suficientemente alargada para dispersar meios. Dois novos esta manhã para "ajudar" o que foi iniciado ontem às 22h37...

 
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Um comentário muito interessante de Daniel Pinheiro no Facebook sobre o tipo de árvores mais e menos combustiveis, e que arderam ou não.


No meio da catástrofe, a Luz

Ao cuidado dos autarcas e comunicação social que dizem que ardeu tudo por onde o fogo passou. Os outros já nem vale a pena mencionar.

Corroborando este post, examinem à lupa (com a escala no canto inferior direito em 300m ou 100m) as extensas imagens do Sentinel de 12 de Agosto comparando com as imagens das mesmas áreas no início do mês. (Abram os links em duas janelas diferentes, se fôr possível)

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Mais um no Marão:


Edição: e ainda mais outro:

Não os apanhem, não...
Ambos em resolução. O de Amarante era reacendimento.
 

Mais um na mesma zona do Marão.


Este em Alenquer começa a ser preocupante, mas está a ser prontamente combatido. É uma zona agrícola sem grandes manchas de arvoredo.

Nortada moderada na zona.
 
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Foz de Arouce, Lousã, início há uma hora atrás, zona obviamente muito crítica, já esteve em resolução mas voltou a piorar.
Noroeste > 20 Km/h não ajuda, claro.
Dispositivo de combate já importante:


Edição: novamente "em resolução". Que seja desta fique controlado.

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