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Re: Evento Especial «JÚLIA»: Litoral Norte - Chuva, Vento e Ondulação forte - Nov/200
Fonte: Correio da ManhãMau tempo provoca tragédia
O despiste de um automóvel em Vagos, acabando por cair para dentro de um poço e matando o único ocupante, 40 anos, é a consequência mais grave do mau tempo que tem assolado todo o País. Mas o piso molhado levou ontem a centenas de outros acidentes na estrada, como choques em cadeia ou entre pesados – que fizeram dezenas de feridos, muitos em estado grave. Inundações e quedas de árvores e barreiras foram também resultado da chuva que hoje já deverá abrandar.
Mário Pereira da Silva residia em Corgos, Cantanhede, e estava desaparecido desde sábado. Foi encontrado às 06h00 de ontem por um habitante de Covão do Lobo, Vagos, dentro de um poço de rega. A dois quilómetros de casa, ter-se-á despistado numa recta e a viatura entrado num campo agrícola e caído dentro do poço. "A estrada estava muito molhada e, ao entrar na terra, nunca mais conseguiu agarrar-se", presume a mulher, Ana Maria Silva, entre lágrimas (ver caixa).
Mário Silva, pintor da construção civil, foi retirado morto do interior do poço. "Ainda estava dentro do carro. Deve ter sido um sofrimento tão grande! Até tinha as mãos agarradas à cabeça, se calhar a tentar sair", diz a mulher da vítima.
Entretanto, ontem, registaram--se só nas entradas do Porto mais de 40 acidentes e longas filas de trânsito. Ao início da manhã, o despiste de um camião na Via de Cintura Interna (VCI), junto à ponte do Freixo, obrigou ao corte total da via na direcção Porto-Gaia. O motorista do camião teve de ser desencarcerado e transportado para o Hospital de São João, mas acabou por não sofrer ferimentos graves. Também na VCI um choque em cadeia entre quatro carros engarrafou o trânsito.
Na Grande Lisboa, a 2ª Circular, avenida Marginal, A5 e IC19 registaram vários acidentes, com trânsito sempre complicado. No Carregado, o choque entre dois camiões fez dois feridos graves. Um foi mesmo levado de helicóptero para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
A norte, a Linha do Douro esteve suspensa durante horas, entre as estações de comboios do Tua e do Pinhão, devido à queda de pedras e lamas na via. Em Águeda, a subida do nível das águas do rio pôs a população em alerta, mas não se chegou a confirmar a ameaça de cheia.
VÍTIMA COM 3 FILHAS MENORES
Mário Silva era pai de quatro raparigas, de 20, 13, 11 e três anos e meio. "Coitadinhas das mais pequenas, como é que agora a mãe sozinha vai dar conta de tudo", questiona uma das vizinhas que ontem se deslocaram a casa da família. A filha mais velha, que já não vivia com os pais, lembrava os momentos de grande sofrimento e ansiedade que a família viveu desde que o pai desapareceu, na madrugada de sábado. "Até chegaram a pensar que alguém o tinha roubado e atirado, já morto, para os pinhais", refere. No local onde o carro se despistou e caiu no poço concentraram-se ontem várias pessoas. "Parece impossível como isto foi acontecer", estranha Ilídio de Jesus, morador em Covão do Lobo, ao imaginar a "morte horrível" que Mário Silva teve. "O carro entrou de traseira no poço e estava todo alagado", descrevia a mulher, Ana Maria Silva.
PORMENORES
TEMPO VAI MELHORAR
Segundo o Instituto de Meteorologia, o tempo vai melhorar a partir da tarde de hoje, com céu pouco nublado e sol em todo o território nacional.
DESPISTE FAZ 2 FERIDOS
Um ligeiro de passageiros despistou-se ontem na A24, na zona de Mamouros, Castro Daire, provocando dois feridos.
CHOQUE NA PONTA
Uma colisão entre dois carros, na ponte Pinoca da EN231, entre Viseu e Nelas, causou ontem de manhã dois feridos ligeiros.
12 MORTES NUMA SEMANA
Desde o passado dia 9, altura em que o mau tempo começou a assolar Portugal Continental, as estradas sob vigilância da GNR registaram 12 mortes e 40 feridos considerados graves.
CHOQUES E TRÂNSITO NO PORTO
Um ferido e várias horas de longas filas de trânsito é o resultado dos dois acidentes registados durante a manhã de ontem, na Via de Cintura Interna (VCI) do Porto, que acabaram por transformar num inferno a vida dos automobilistas que tentavam passar o rio Douro.
Eram cerca das 05h30 quando um camião se despistou junto à ponte do Freixo, no sentido Porto-Gaia, levando ao corte daquela via até às 12h00. Os Sapadores tiveram de desencarcerar o motorista que sofreu apenas ferimentos ligeiros, tendo sido levado para o Hospital de São João. Por volta das 13h00, a chuva que ainda caía com intensidade provocou novo acidente na VCI: um choque em cadeia envolvendo quatro carros, perto da zona industrial, condicionou a circulação durante horas. Não houve feridos.
"AS CÂMARAS NÃO ESTÃO A LIMPAR AS SARJETAS": Anthimio de Azevedo, Ex-meteorologista
Correio da Manhã – O mau tempo que está a atravessar o País é normal para a altura do ano?
Anthimio de Azevedo – Sim. O que me parece que vamos ter mais frequentemente são duas estações no ano. Uma mais quente ou menos quente e outra mais chuvosa ou menos chuvosa. Não será para amanhã nem para o ano. É uma situação progressiva.
– Podemos, então, dizer que as estações terão características diferentes?
– Estamos no final do Outono. O Inverno começa daqui a cerca de um mês. Aquilo que foi menos normal foi termos tido tantos dias de sol até há pouco tempo. A precipitação também tem ocorrido de forma diferente da habitual.
– O Inverno não será tão rigoroso como em anos anteriores?
– Actualmente, verifica-se uma relativa modificação das situações meteorológicas, com ocorrências de aguaceiros súbitos que podem provocar inundações. As câmaras não estão a limpar as sarjetas a tempo. Se a chuva que caía num dia cai agora numa hora, não tem escoamento capaz.
ESTRADAS CORTADAS POR QUEDA DE ÁRVORES E INUNDAÇÕES
O dia de ontem também ficou marcado por dezenas de inundações, sendo que o Centro Distrital de Operações de Socorro de Lisboa (CDOS) registou até às 18h00 183 ocorrências relacionadas com o mau tempo. Já os Bombeiros Sapadores da capital receberam 95 pedidos de ajuda no período entre as 15h00 e as 18h30. Pequenas inundações na via pública e em habitações, curto-circuitos, bem como buracos no pavimento, estradas cortadas devido à queda de árvores e ao curso da água, foram as situações mais frequentes provocadas pela chuva e vento intenso na capital.
As freguesias da Parede e S. Domingos de Rana, em Cascais, foram as mais afectadas, a par da Baixa de Lisboa. Apesar de alguns danos materiais, não há vítimas a lamentar.
Os Sapadores de Coimbra registaram, pelo menos, quatro desabamentos de terras para a via pública, que não causaram danos. A chuva intensa que se fez sentir durante a madrugada e o dia originou várias inundações em casas, numa igreja e numa creche. Contrariamente aos estragos provocados pelo mau tempo na região do Grande Porto, no domingo, o CDOS não recebeu ontem pedidos de ajuda. "Nem por causa de inundações nem por quedas de árvores", segundo o CDOS do Porto. A chuva ainda caía com intensidade durante a manhã, mas o tempo melhorou e parou de chover ao final da tarde.