O mar hoje engoliu 50 cm a 1 metro de areia em altura na Costa da Caparica, mais logo coloco as fotos de comparação.
Mais 1 mês e a praia da Costa da Caparica está igual como era antes da reposição de areias.
O cenário não é assim tão catastrófico. Na pior das hipóteses vai demorar ainda uns meses a ficar como estava antes da reposição. E essa pior das hipóteses é ter um regime de agitação semelhante ou pior ao que tivemos no Inverno passado, que já por si foi excepcional. Muito excepcional mesmo. Digamos que é muito improvável tal acontecer. Como já disse o André, esta invasão de água acima do normal nas praias tem a ver com a elevada amplitude de marés e um mar bastante agitado para esta época do ano, mas muito longe da força dos verdadeiros temporais de Inverno. Esses sim, têm dimensão para transportar a areia umas boas centenas de metros para off-shore (dentro do mar). E mesmo assim tem de ser uma sequência de tempestades, e não apenas uma isolada. Uma tempestade isolada como hoje, ainda por cima "fraca", pode transportar a areia um pouco para dentro, mas uns dias de mar calmo e ela vai regressando.
Quanto ao caso geral em si, discuti muito este tema no programa doutoral do Earth Systems, onde tenho colegas a estudar a movimentação das areias nas praias. Primeiramente, temos de ter a noção de alguns factos: Este problema é crónico, pois a origem do mesmo tem como base a construção de barragens que impedem os sedimentos fluviais de alimentarem as praias. Depois, as correntes marítimas fazem o resto, pois há sempre uma componente Norte/Sul nessa corrente em média que transporta as areias de Norte para Sul ao longo da costa devido à ondulação ser em grande parte dos dias de NW. Cabe às autoridade decidir como minimizar o problema, pois para ser resolvido efectivamente, só destruindo as barragens, algo impossível. Aqui basicamente as questões que se colocam são as seguintes:
1) Quais as possiveis soluções para minimizar o problema.
2) Qual a que tem a melhor relação custo/eficácea.
Há umas décadas, construíram-se esporões para travar o avanço. Está mais que provado que tal não funciona. E já foram testadas várias geometrias diferentes. Não há hipótese por aí.
Depois, há a hipótese de simplesmente mover todas as pessoas e estabelecimentos em perigo. Além de caríssimo, envolve muitos processos, muitas pessoas, é muito complicado realizar. É uma opção claramente extremista.
Construir muros/diques tipo Holanda. Muito caro, elevados custos de manutenção. E nós temos um mar muito mais energético que os holandeses.
Colocação de areia. Solução a prazo, que exige intervenções mais ou menos regulares, igualmente cara.
Dentro destas hipóteses, sendo uma solução muito longe de ser perfeita, a colocação de areia é neste momento o único meio de ir protegendo alguns pontos vulneráveis da costa. Com a vantagem de, pelo menos, permitir algum turismo com a praia. É, na minha opinião, não uma solução boa, mas a menos má. O mal está feito: Construções em regiões litorais vulneráveis e dezenas de barragens nos rios.