Tendo em conta o que tivemos neste inverno até agora, eu nem sei bem se realmente tivemos algum inverno em 2019/2020...
Vejamos: dias com frio e geada só tive um ou dois no início de dezembro e naqueles dias de nevoeiro no fim do mês, e nem foram nada de especial. Para além disso, à exceção daquelas tempestades em dezembro e uma ou outra frente mais ativa em janeiro, pouca instabilidade ocorreu na realidade!
Sobre as temperaturas, cabe salientar que todo o inverno 2019/2020 foi incrivelmente ameno. Mesmo na altura do Natal tivemos temperaturas a rondar os 20 a 24°C de máxima em muitas zonas do Alentejo e em janeiro andaram também muito próximas dos 20°C no Sul, durante muitos dias, e já nem estou a falar da sequência anómala de dias com temperaturas máximas superiores a 20°C em fevereiro em muitos pontos do país!
Curiosamente, a situação só começou a tornar-se mais normal ao nível de temperaturas e de precipitação a meio de março, ou seja, já fora do inverno climatológico - quando tivemos aquela frente no dia 19 a atingir grande parte da Região Sul e a entrada polar no fim do mês, com neve em muitas zonas do Interior Norte e Centro.
O inverno de 2019/20 só foi seco no geral graças ao super-seco mês de fevereiro, porque o dezembro até foi bastante chuvoso graças a essa semana das três tempestades (Daniel, Elsa e Fabien), com acumulados superiores a 200 mm a norte do sistema Montejunto-Estrela só nessa semana e o janeiro, apesar de ter sido seco, teve dois rios atmosféricos que afetaram grande parte do território (o primeiro na segunda semana do mês e que antecedeu a tempestade Glória, que todos nós sabemos o que foi em Espanha, o segundo na última semana do mês e que antecedeu aquelas máximas pornográficas acima dos 20/25°C no início de fevereiro). O fevereiro super-seco é que veio estragar tudo, em que a média no interior norte e centro e na região sul nem sequer atingiu os 25% (alguns locais do Baixo Alentejo e Algarve tiveram mesmo um acumulado de... 0 mm).
Quanto ao atual inverno e ao atual ano hidrológico, é verdade que desde outubro tem chovido razoavelmente um pouco por todo o país, inclusivamente no Algarve, apesar de, curiosamente, nenhum mês de outubro a janeiro ter tido precipitação acima da média (salvo, localmente, algumas exceções). Por isso mesmo, nada que se compare a anos hidrológicos como 2009/2010 por exemplo, já para não falar do mítico ano hidrológico 2000/2001, sendo que comparar esses anos hidrológicos com o atual é quase como comparar uma galinha a uma avestruz, por exemplo. É importante que continue a chover durante fevereiro e mesmo março ou abril, porque neste momento basta ocorrer um mês seco (precipitação abaixo dos 50% da média) para grande parte do território voltar a entrar em seca meteorológica. Todo o cuidado é pouco.