Nuvem de cinzas medida sobre Évora desde quarta feira graças a equipamento único em Portugal
O equipamento, que está a fornecer as primeiras medições reais sobre Portugal, não apenas dados de projeções meteorológicas, é um sistema RAMAN LIDAR (Light Detection And Ranging) multicanal. O LIDAR está no Centro de Geofísica (CGE) da Universidade de Évora e mede o perfil vertical dos aerossóis, partículas sólidas ou líquidas, com propriedades muito variadas, em suspensão na atmosfera e com influência no sistema climático.
O equipamento - emite um laser que é refletido nos constituintes atmosféricos, em vários comprimentos de onda, o que permite detetar as diversas partículas - integra a rede europeia EARLINET (European Aerosol Research LIDAR NETwork), que tem 30 destes sistemas, em 14 países europeus. O CGE já esperava, depois da primeira erupção do vulcão Eyjafjöll, a 14 de abril, que alguns aerossóis da pluma chegassem a Portugal continental e pudessem ser medidos.
Com o vulcão ainda em atividade, uma nova nuvem de cinzas foi libertada esta terça feira e provocou o encerramento temporário do espaço aéreo da Escócia e da Irlanda. Frank Wagner, responsável da estação do CGE na EARLINET, revelou hoje à agência Lusa que na quarta feira à tarde as imagens proporcionadas pelo LIDAR mostraram, pela primeira vez, "algumas cinzas vulcânicas" na atmosfera, sobre Évora.
"Podemos ver aerossóis a uma altitude de cerca de três a quatro quilómetros", disse, referindo, baseado num modelo meteorológico concebido para calcular a trajetória, que as partículas "vieram do norte". O responsável mostrou ainda à Lusa, em imagens de computador com as medições do LIDAR, que as cinzas ainda hoje são visíveis sobre Évora, mais ou menos à mesma altitude.
Contudo, por serem "pequenas concentrações" de cinzas, pelo menos de momento, Frank Wagner garantiu não existirem implicações para o tráfego aéreo em Portugal. Devido às suas características, os aerossóis das cinzas vulcânicas têm "implicações no clima" e "quando caem para a superfície terrestre, na biosfera e na saúde".
"Quando a concentração é baixa, como é agora o caso de Portugal, as implicações são pequenas. Mas, na Escócia, onde a concentração é maior, as implicações são maiores", frisou. Se o vulcão islandês continuar com erupções e estas forem de "maior intensidade", realçou o investigador alemão, "mais partículas chegarão a Portugal" e aí, "em princípio, poderão existir mais implicações".
Por exemplo, em termos climáticos, estes aerossóis, por refletirem a luz solar, fazem com que menos radiação chegue à superfície: "O vulcão Pinatubo, em 1991, provocou maiores impactos na atmosfera global, que arrefeceu meio grau". Já quanto à natureza, o positivo é que "as cinzas vulcânicas têm componentes fertilizantes para as plantas", mas, ao mesmo tempo, na ótica negativa, "muitos vulcões emitem sulfato de óxido que, com água, dá ácido sulfúrico, o que é prejudicial".
Os sistemas LIDAR, como o de Évora, são “muito importantes para verificar se as projeções meteorológicas da trajetória da pluma vulcânica estão corretas”, de forma a alertar o tráfego aéreo, e “identificar as propriedades das cinzas”, para “calcular o seu impacto no clima, nas nuvens e na qualidade do ar”, rematou.
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