" A investigadora diz que o facto de apenas agora ser publicado o primeiro livro vermelho para os invertebrados de Portugal mostra algo sobre a nossa relação com estes organismos: “Esta diferença histórica traduz o facto de os invertebrados serem os ‘parentes pobres’ da conservação. São pouco acarinhados pelos decisores políticos e pela sociedade, de um modo geral, devido sobretudo à falta de empatia que suscitam e ao facto de haver pouca consciência sobre a sua importância nos ecossistemas.”
Mário Boieiro corrobora esta ideia. “Os invertebrados, com excepção das borboletas diurnas, das joaninhas e alguns outros grupos, suscitam sentimentos negativos, em alguns casos medo – como aranhas, abelhas, vespas – ou repulsa, como no caso das baratas, moscas ou lesmas”, admite o investigador. Assim, o facto de os invertebrados serem uns “mal-amados” faz com que sejam ignorados em acções de conservação ou estudos de impacto ambiental, acrescenta.
Por vezes, parece que o seu papel crucial nos ecossistemas passa despercebido. Os organismos deste grupo polinizam plantas, filtram água, distribuem sementes que serão alimentos para outros animais e reciclam nutrientes. “Na última década, tem sido evidente que enfrentamos uma crise global de biodiversidade, mas no caso dos invertebrados é uma crise silenciosa”, realça Mário Boieiro.
“Só nos damos conta dela quando vemos as consequências da sua ausência, como a necessidade de recorrer a polinização manual em algumas áreas já sem polinizadores, a suplementação com fertilizantes dos solos cada vez mais pobres em nutrientes, ou a insalubridade de muitas massas de água por ausência de organismos filtradores que não resistem à poluição dos rios e ribeiras.”
O novo livro vermelho pode dar palco a estes “mal-amados” tão essenciais para o planeta. E, quem sabe, mudar a imagem que algumas pessoas têm deles. "
Avaliado risco de extinção de mais de 800 espécies de insectos, aranhas, gastrópodes, bivalves e crustáceos. É a primeira vez que se publica o Livro Vermelho dos Invertebrados de Portugal continental.
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