Biodiversidade na Serra do Caldeirão, situação preocupante!
A serra do Caldeirão apresentou no passado uma biodiversidade riquíssima. O lince-ibérico e o lobo-ibérico faziam parte da fauna local, bem como uma grande diversidade de aves de rapina e de anfíbios.
Infelizmente, nos últimos anos a destruição da serra tem vindo a ser massiva, sem que haja qualquer movimento de defesa a nível nacional.
Até 2004 existiam pequenos e interessantes bosques de azinheiras, sobreiros, medronheiros e outras espécies vegetais, com árvores centenárias, localizados nas zonas mais isoladas, que foram dizimadas pelos incêndios de2004, que afectaram especialmente os concelhos de Loulé e de Tavira. Para além disso, as escassas galerias ripícolas de freixo que ainda subsistiam em alguns cursos de água foram em larga medida dizimadas.
É possível que o carvalho-de-monchique (Quercus Canariensis) tenha marcado presença nesta serra, uma vez que na vizinha serra de Aracena na província de Huelva existem importantes bosques desta espécie, e para além disso as vertentes mais elevadas e húmidas dos concelhos de Loulé e de Tavira possuem as suas condições ideais em termos de habitat. O carvalho-cerquinho também terá marcado presença, mas de momento não conheço registos da presença destes dois carvalhos na serra.
São várias as ameaças à biodiversidade. As mega plantações de pinheiros-mansos continuam, bem como de eucaliptos e de pinheiros-bravos. Grande parte da serra está fragmentada em reservas de caça, e continua a plantação de cereais para alimentação de espécies cinegéticas em solos inclinados e degradados, altamente sensíveis à erosão.
A extracção de água dos ribeiros e ribeiras para rega durante os meses mais secos é constante, levando rapidamente a partir de Maio e de Junho à sua secura total, pondo em risco espécies tão raras como o saramugo.
Toda a serra carece de um plano integrado para recuperação da biodiversidade. Aqui deixo algumas propostas:
- Campanhas de eliminação de espécies invasoras nas margens dos cursos de água e plantação de vegetação ripícola autócne;
- Interromper a florestação com pinheiros-mansos e substituí-la pela florestação com sobreiros, azinheiras, carvalhos autócnes e castanheiros. Adequar as espécies à precipitação, estado do solo, altitude, etc;
- Estudar a reintrodução do lince ibérico;
- Proibir as captações de água nos ribeiros e nas ribeiras. Incentivar os pequenos agricultores a construírem tanques e cisternas para armazenamento da água da chuva;
- Identificar núcleos de vegetação autócne e promover estratégias de conservação;
- Valorizar e divulgar os produtos da região cuja producção é compatível com modelos de desenvolvimento sustentável. Exemplos: mel, cortiça, queijos, presuntos e enchidos, plantas aromáticas ou pão regional.
Um exemplo a seguir para toda a serra do Caldeirão é o da serra de Aracena, em Huelva. Esta serra apresenta bosques muito desenvolvidos de sobreiro, azinheira, carvalho-de-monchique e castanheiro. Tem uma considerável producção de presunto, enchidos e carne de porco ibérico, entre outros produtos, como a castanha ou a cortiça.