Ria Formosa, antes que desapareça o Parque Natural...
A Ria Formosa constitui uma das principais áreas protegidas portuguesas em termos de protecção da avifauna. São quase 200 espécies de aves, algumas bem raras no nosso país, como o caimão. A juntar à riqueza da fauna, temos a presença de espécies vegetais cuja conservação é prioritária, incluindo endemismos algarvios, presentes na vegetação dunar e nalguns pequenos bosques de sobreiro e pinheiro-manso que ainda subsistem.
Infelizmente, constitui uma das áreas mais amaeaçadas do nosso país. O avanço do tecido urbano nas imediações de ecossistemas fundamentais como o sapal e as salinas tem sido assustador. Nos arredores de Tavira, o betão continua a ocupar terrenos agrícolas junto da zona húmida a um ritmo assustador. O mesmo sucede em Olhão e em Faro. Cada vez mais o parque está rodeado por uma muralha cerrada de betão.
Nos arredores de Faro, o Pontal constitui a principal mancha verde do litoral sul, um dos raros bosques de sobreiro e de pinheiro-manso que ainda subsistem. Contudo, a pressão para betonizar esta zona verde, situada entre a cidade e a Quinta do Lago é enorme.
Para além disso, surgem outras ameaças. A pressão humana na época balnear nas ilhas barreira, derivada do aumento exponencial da área urbana, põe em risco a sua conservação, pois aumenta o pisoteio dunar e a acumulação de lixo. Propostas para a construção de pontes pedonais para as ilhas barreira a ser concretizadas agravarão a situação.
E depois temos a instalação de grandes empreendimentos turísticos na área do parque, como a Quinta do Lago, e mais recentemente da Quinta da Ria, bem como de várias aldeias turísticas e pequenas urbanizações que não param de crescer.
A atitude dos autarcas e da população não tem sido sempre a melhor, considerando o parque como um entrave ao progresso.
A ausência de uma área de conservação entre os sapais e salinas e a área urbana leva a que as habitações sejam por vezes construídas quase dentro da zona húmida.
E por fim, existe o problema das construções nas ilhas barreira, que por enquanto está sem fim à vista.
Esta seria a minha proposta para salvar o pouco que resta:
- recuperar esteiros e canais de água em áreas que foram drenadas;
- salvaguardar os bosques de sobreiro e pinheiro manso;
- demolir as construções ilegais integralmente;
- travar a expansão urbana nas imediações do parque;
Infelizmente, neste momento já não é possível criar um corredor ecológico no litoral sotavento, para espécies como o camaleão, que pelas minhas perspectivas não tardará muito e estará extinto.
Mas para além da degradação ambiental, há que referir a degradação urbana. Os centros de Faro e de Olhão possuem vários edifícios abandonados, em ruínas, muitos com um valor arquitectónico considerável. Paradoxalmente, a expansão urbana continua, de forma desorganizada, sem que sejam criados verdadeiros espaços verdes, criando uns subúrbios onde impera a fealdade paisagística.