Mais informações sobre o caso da Aroeira:
https://www.pnas.org/content/114/13/3397
Os autores avançam, com a (já algo esperada) possibilidade, de não se tratarem de Neandertais.
Interessante também a combinação algo peculiar de traços fisionómicos presentes no exemplar Aroeira 3.
Claro que é impossível (pelo menos para já) tentar perceber se este de tipo de hominídeos contribuiu de alguma forma, para a população Portuguesa moderna.
Existe uma grande diferença temporal.
De forma evidente, contudo, já se encontrou a influência da variante «Aurignacensis» do
Homo sapiens, que preservava/preserva alguns traços arcaicos e que alguns autores apontam como presente em Muge e em outros sítios arqueológicos.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Período_Aurignaciano
Está relacionado com os primeiros movimentos do
Homo sapiens na Europa (que se conhece).
O menino do Lapedo é dos poucos casos, relativamente bem documentados, de influência anatómica de
Neanderthal em
Homo sapiens.
Portanto não é impossível de todo, que este ramo Aurignaciano, transporte «arcaicos» e também um tipo mais antigo de
Homo sapiens, relacionado com os exemplares Skhul e Qafzeh.(
https://en.wikipedia.org/wiki/Skhul_and_Qafzeh_hominins), ou seja basicamente
Homo sapiens incipientes (que evidenciam alguma transição entre o ramo «
Heidelbergensis» e o ramo «
Sapiens»).
E em algumas análises, Skhul V, por exemplo, aparece como apenas
Homo sapiens, mas em outras análises, em que foi comparado com
Neanderthal, Heidelbergensis e S
apiens, aparece mais próximo dos ramos arcaicos (
Neanderthal/Heidelbergensis) do que dos modernos (
«Sapiens») e ainda mais próximo do ramo «
Heidelbergensis» do que o ramo «
Neanderthal».
Veja-se a posição de Sk5 (Skhul V)...
Referência:
Journal of Human Evolution (in press)
doi:10.1016/j.jhevol.2010.09.008
Para explicar esta incipiência, alguns falam de hibridização com o povo Neanderthal local com o qual viveram quase lado a lado, ou até de uma evolução gradual do
Neanderthal para o
Sapiens (
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1580351), mas tal aspeto não é consensual, como aliás se pode ver na comparação acima.
Aparentemente, esta população primitiva de
Homo sapiens, poderá não ter sido bem sucedida em colonizar a região, pois há cerca de 80.000 anos atrás, aparentemente desaparece do registo fóssil local, e apenas permanece aí o Homem de Neanderthal.
Entretanto, o exemplar mais antigo que se conhece de
Homo sapiens foi encontrado, bem aqui perto, em Marrocos:
https://www.sciencemag.org/news/2017/06/world-s-oldest-homo-sapiens-fossils-found-morocco
Não se sabe se estes primeiros «
Sapiens» marroquinos contribuiram directamente para o futuro dos humanos modernos, mas sabe-se que são os primeiros hominídeos que se conhece a evidenciarem algumas caraterísticas básicas dos humanos modernos.
Quanto ao ramo «Aurignaciano», poderá ter-se combinado com hominídeos arcaicos ou simplesmente, poderá ter preservado algumas características «
heidelbergensis».
O povo Skhul/Qafzeh, poderá ter desaparecido, mas uma linhagem semelhante pode ter persistido algures.
Na Ásia, encontraram-se fósseis recentemente, que resultam da combinação entre diferentes hominídeos arcaicos (inclusive ramo «
Denisova» X ramo «
Neanderthal»:
https://www.nature.com/articles/d41586-018-06004-0) e estudos mais recentes, usando a genética e mais fósseis, suportam estes achados.
Do ramo Aurignacoid, em alguns Portugueses modernos encontrou-se a influência Predmost e Combe Capelle (as principais, portanto).
Certos haplogrupos ainda presentes em Portugal, também podem evidenciar esta influência.
O exemplar Predmost 3, por exemplo, é considerado como semelhante em alguns aspetos (como o perfil) com Skhul IV, mas menos próximos neste aspecto entre si, do que 2 homens de
Neanderthal entre si (ok, isto seria de esperar). Mais estudos são necessários, para esclarecer este aspeto...
Crâneos Aurignacoid, Neanderthal, Skhul V:
Combe Capelle (França)
Neanderthal (?) e Combe Capelle (França)
Neanderthal (Saint Cesaire) e Predmost (número?)
Predmost (número?)
Skhul V
Aqui aparece de forma bem evidente, a presença de arcaísmo até tempos surpreendentemente recentes (primeiros registos de Combe Capelle surgem no Paleolítico Superior (Europa Central), mas estendem-se até ao Mesolítico (P. Ibérica, França, etc...), Neolítico (P. Ibérica, França) e até tempos modernos (P. Ibérica, França, Sardenha, etc...).
Mas a anatomia geral (como sobretudo no caso de Predmost), pode levar-nos ainda mais atrás.
Será que a influência do Predmost 3 está presente em Portugal? Não sei, na referência original, apenas falam em Predmost (termo geral). Tal subtipo foi descrito como presente em tempos modernos em Trás os Montes (e em poucos outros lugares do mundo), mas deverá ter certamente uma maior distribuição no nosso país, tendo eu já observado, como presente, em zonas menos remotas, como nos arredores de Óbidos.
Eventualmente, poderá é ser mais comum na Beira Interior e Trás-os-Montes, por exemplo.