A questão dos incêndios no Portugal Eurossiberiano, que é onde estão quase todos os nossos lobos, é muito complexa. Estamos a falar de áreas que naturalmente seriam ocupadas maioritariamente por carvalhos e em menor grau sobreiros e outras espécies de folhosas, como castanheiros ou bétulas, e agora o eucalipto, as acácias, as mimosas ou os pinheiros dominam vastas áreas da paisagem. As florestas de carvalho alternavam com pastagens para gado bovino e terras agrícolas, uma paisagem de Europa Média e não de Europa Mediterrânica.
O maior risco de incêndio está nos matos e nas silviculturas, não está nas florestas mais evoluídas como a mata da Albergaria.
De acordo com o tenho lido as grandes explorações de silvicultura, feitas por grandes empresas têm menor risco de incêndio, o problema maior está nas pequenas matas em pequena e média propriedade, estando muitas abandonadas. Conheço casos de emigrantes que têm pinhais abandonados na zona Centro, só visitam as propriedades de anos a anos para ver os marcos.
Portugal não tem uma distribuição populacional como os outros países europeus desenvolvidos, há um excesso de dispersão por montes, sítios, aldeias, tal deriva da ausência de uma verdadeira Rev. Industrial e Tecnológica nos últimos duzentos anos, e é uma prova do nosso atraso. No interior faltam grandes núcleos urbanos, e há um excesso de aldeias e montes, já no Litoral há um desmesurado despovoamento de cidades como Lisboa, Gaia (centro) ou Porto e uma hipertrofia dos subúrbios.
A compartimentação da propriedade, a distribuição da população, a pobreza, a falta de consciência ambiental, o facto do Estado se demitir de vigiar o território no Interior, tudo isso dificulta a protecção ambiental.
Há muito que se fala num mega inventário da propriedade rural em Portugal e numa cartografia do território, há 2 ou 3 anos ainda não tinha avançado por falta de dinheiro. Neste momento na serra algarvia já há muitas áreas sem dono, os proprietários faleceram, os marcos desapareceram ou foram criminosamente mudados, os herdeiros estão fora e não conhecem as terras.
Uma solução passaria por termos a Quercus ou a LPN a comprar terras, as reservas privadas poderiam substituir o Estado. No entanto falta dinheiro, em Portugal o ambiente é causa pouco popular e os sócios nem pagam as quotas. No Reino Unido a situação seria diferente. Se virmos bem as coisas, no passado a Igreja, o Rei e as Ordens Religiosas fizeram o papel do Ministério do Ambiente, protegendo matas e florestas, em constante atrito com as populações locais. Em Trás-os-Montes, por exemplo, há muitas terras baratas com bosquetes interessantes de espécies que só existem naquela região em Portugal, e isto nem é muito falado.