Pelo que vejo, a temperatura aqui tem andado elevada. E tudo por causa da seguinte frase pacífica do IM:
«O utilizador, com a inserção de conteúdos no site, quer sejam comunicados, relatos, fotografias, vídeos ou outros, transfere todos os direitos de autor ou de propriedade intelectual sobre os mesmos para o Instituto de Meteorologia, I. P.»
A prudência aconselhar-me-ia a procurar climas (tópicos) mais temperados mas não consigo resistir. Aqui neste tópico (fora do meu contexto de intervenção no fórum), a minha opinião é, com certeza, completamente irrelevante, mas vai sair:
DO PONTO DE VISTA ESPECÍFICO
É perfeitamente normal que, numa sociedade com 'propriedade intelectual' legalmente instituída, para uma entidade poder utilizar livremente uma 'ideia' tem de ter a sua propriedade, e isto não significa que ela deixe de ter o seu 'pai biológico'.
Quando se compra um cão (eu não compro), a propriedade é transferida mas o pai e a mãe do cão não são apagados da história, e até vêm registados no boletim de identidade.
Quando um trabalhador de uma empresa produz uma 'ideia' para a empresa, essa ideia é propriedade da empresa, o que não significa que deixa de ter sido produzida por aquele trabalhador específico.
Qual é a dúvida?
Quando um cidadão entrega ao IM uma 'ideia' via programa MeteoGlobal, a 'ideia' tem de passar a ser propriedade do IM para que este a possa utilizar sem restrições, o que não quer dizer que o seu pai deixe de ser o Sr. Fulano de Tal integrado no contexto MeteoGlobal. Se o cidadão não quiser assim, fica com ela no seu harém ou vende-a a algum comerciante de 'ideias' - é a lógica da propriedade intelectual.
DO PONTO DE VISTA GERAL
Sou contra a escravatura. Seja de seres humanos, seja de seres não humanos.
Uma ideia, uma pedra não são seres? Sei lá! O que sei é que, depois de uma ideia ser parida (por mais irrelevante que seja), ela passa a existir independente da sua 'mãe' e vai sobreviver e ocupar o seu espaço em função da sua própria relevância. Qual é a diferença relativamente a um ser humano? O ser humano será mais que uma simples ideia (à parte quanto à matéria de fabrico)?
Porque é que os seres humanos não devem ser escravizados mas as ideias, essas podem ser propriedade de outros seres?
Por mim, entendo a minha (fraca) produção intelectual como completamente livre depois de criada. Reconhecerei e defenderei sempre os meus 'filhos ideias' mas eles vão tratar das suas vidas livremente. Não vão ser vendidos nem lhes vou impor restrições de vivência.
Alguém sabe quem é que concebeu a Davis? Quanto muito sabemos quem a comercializa. A Davis valerá por aquilo que é e, provavelmente, será tratada por cada 'dono' não como uma propriedade mas como um 'ser' companheiro nas andanças meteorológicas.
Propriedade intelectual? Bah!
Espero muito sinceramente que, tal como foi (quase) abolida a escravatura, também seja, um dia, abolida a propriedade intelectual. E espero que a 'net' continue a ter nisso um papel impulsionador e revolucionário.
Sim, sim, sim... coitadinhos dos (descendentes dos) escritores e, blá, blá, blá... no tempo da escravatura o comércio de escravos dava muito jeito para o financiamento da expansão do reino (e para os bolsos dos expansionistas), e uma ideia não é vida nem é um ser humano, e ... friskies saquetas.
Entretanto, como prezo a democracia, respeito outras opiniões. Sim, porque entendo a democracia como a menos má das soluções de vivência social – mas isto (mais o associativismo em 'lobbies') é outro assunto.
Os meus cordiais, mas desrespeitosos, cumprimentos a quem pensa diferente sobre esta matéria, e a minha solidariedade para com as 'ideias' ainda escravas.
E viva o MeteoGlobal.