Não precisavas de responder como se o recado fosse para ti...
Basicamente, isso é tudo muito bonito, mas fica a sensação que estamos entregues a Deus.
Eu sei que a meteorologia não é uma ciência exacta. Tal como a pesca, atirar uma cana com linha ao mar não significa apanhar peixe. Se assim fosse, a actividade não se chamava pesca.
As especificidades dos Açores e da Madeira requerem um serviço meteorológico munido de ferramentas e tecnologia que, neste momento, não passam de uma miragem. Sim, falo sobretudo dos radares.
No tópico do seguimento dos Açores e Madeira do mês anterior tinha escrito que aquela linha de instabilidade estaria a ser subvalorizada, mas, como é óbvio, é sempre mais fácil ver as reportagens dos estragos nas TV's nacionais, que até então estavam mais preocupadas em filmar pessoas a fazer anjos na neve e a escrever o próprio nome com urina na mesma.
Aqui, nos Açores, os solos estão completamente
saturados de água. Não é preciso muito para acontecer uma tragédia.
Eu já tive oportunidade de ver os equipamentos da estação de Santa Luzia (o nome que está escrito nos modelos GFS) e garanto que são mais velhos que nós, os dois, juntos. Há dias em que mais vale ao meteorologista de serviço molhar o dedo na boca e levantá-lo em direcção ao céu para adivinhar direcção e velocidade do vento. O pouco equipamento bom que existe está todo na sede da Protecção Civil (poiso de
boys socialistas) e, mesmo assim, ainda emitem avisos mais atrasados que, por exemplo, o MetOffice.
Quanto aos modelos mesoescala da Universidade dos Açores, não servem de referência alguma, dado que, a UAÇ está completamente falida e nem dinheiro tem para arranjar as estações meteorológicas que ficaram danificadas devido aos famosos cortes de energia da EDA (Electricidade dos Açores). Isto foi a meados de 2012... Mais uma vez, vejo os modelos, mas não lhes reconheço capacidade tecnológica para tal.
Convém perceber, sim, potencialidades e limitações, mas não podemos obrigar o mais leigo dos leigos a fazer o mesmo porque se esse trabalho for mais preciso ou (no mínimo) mais aproximado, facilita muito a prevenção e, em última instância, o acto de salvar vidas. Afinal de contas, o lema é: "Para que outros possam viver".
Sigo com céu limpo e 9º de temperatura.
Daqui a um par de horas o mau tempo deverá chegar. Se, no entanto, confirmar-se a pressão de 986 hPA será pressão atmosférica de tempestade, julgo.
Cumprimentos,
Post Scriptum: Usei a analogia errada, reconheço. Deveria ter utilizado a história de um jogador brasileiro do Sport Recife que durante muito tempo foi falado para reforço do Sporting. Acabou no Lusitânia dos Açores na 2ª Divisão B e, posteriormente, terceira divisão. Ficámos amigos e posso garantir que não era lá "grande pistola" como jogador, mas - tal como servirá certamente aos senhores do GFS - era garantidamente um bom rapaz...