Período de secas se torna crítico no norte da Europa
A primavera deste ano lembra a de 2007. De acordo com Harry Geurts, porta-voz do Instituto de Meteorologia, a primavera daquele ano foi extremamente seca e as temperaturas altas quebraram recordes históricos. Os meses de maio e junho que se seguiram, porém, foram marcados por muita chuva. Os meteorologistas conseguem fazer previsões para apenas cerca de duas semanas. A partir daí, tudo não passa de especulação.
Anos trágicos - De acordo com Geurts, a situação agora é tão grave devido à confluência simultânea de vários fatores. Os meses de março e abril foram marcados por pouca chuva, mas há ainda outras causas: “Tem chovido um pouco, mas muito menos que o habitual. E o maior problema é, naturalmente, o calor em combinação com um tempo ensolarado, já que isso aumenta a quantidade de água que evapora... O problema acontece quando chove pouco e esse pouco evapora rapidamente. É aí que podemos falar de uma situação de seca extrema.”
Não seria a primeira vez que uma primavera extremamente seca se seguiria de um verão igualmente seco. Harry Geurts cita 2003, mas especialmente o catastrófico ano de 1976, que entrou para a história pela seca incomum. “É melhor esperar que isso não aconteça de novo.”
No que se refere às condições climáticas, os agricultores holandeses já vêm se acostumando com as diferenças no decurso dos últimos anos. Ainda assim, Remco Schouten, produtor de leite no sul da Holanda (na região de Berlicum, em Brabant), não se atreve a afirmar que os últimos anos tenham sido mais secos: “No ano passado, por exemplo, tivemos um outono com tanta chuva que nos vimos em apuros na hora de colher o milho. Por outro lado, a primavera de 2006 foi marcada por chuvas tão fortes que tivemos de atrasar a colheita. Sendo assim, o que tenho é mais a sensação de que as condições climáticas se tornaram extremas, mas não posso dizer que, em média, tenham se tornado especificamente mais secas.”
Aguardando as chuvas - A situação não é garantia de que esta temporada será demasiadamente seca, ainda que o problema afete muitas partes do norte da Europa. Harry Geurts afirma: “O fenômeno está acontecendo aqui ao lado. Países como a Inglaterra, a Dinamarca, a Alemanha, a França e a Bélgica já estão sofrendo com a seca. Por outro lado, em países do Mediterrâneo têm-se verificado justamente o oposto. Especialmente na Espanha choveu muito nas semanas que precederam à Páscoa.”
O pecuarista Schouten bem que gostaria que a Espanha mandasse algo de chuva para estes lados. A primavera é uma época de crescimento e agora as lavouras estão apenas esperando que finalmente chova. A falta de água faz com que as batatas não atinjam o tamanho desejado, o gado não tenha grama suficiente e uma alternativa como o milho não seja viável pelo alto custo.
Coca-cola em vez de leite - Schouten é produtor de leite. Na sua experiência, uma estação seca não pode ser compensada por um aumento no preço do produto. Ele e os outros fazendeiros veem ameaçados os seus rendimentos. Mas as consequências de uma temporada de plantio arruinada vão ainda mais longe. Tudo encarece, também o pão, os legumes e outras coisas em que não se pensa de imediato: “Sim, o consumidor pode até pensar que beberá mais coca-cola em vez de leite, mas se esquece que o açúcar contido na coca-cola também é um produto agrícola. Portanto, quanto mais seco o mês de maio, mais cara a coca-cola.”
Schouten vê a atual situação com preocupação, mas considera, pessoalmente, que o senso comum sempre acaba vencendo: “Não há muito o que se possa fazer. Faz parte do nosso trabalho lidar com a natureza com o maior cuidado possível.”
Incêndios - A Semana Santa viu a incidência de vários incêndios na Holanda. O maior deles devastou na segunda-feira a reserva natural de Fochteloërveen, na fronteira entre Drenthe e a região da Frísia. Foram queimados entre 50 e 100 hectares. Também nas dunas de Bergen aan Zee se verificaram no passado fim de semana dois incêndios num pequeno intervalo, mas os bombeiros conseguiram combater o fogo rapidamente.
No parque nacional de Mainweg, perto de Roermond, deu-se na manhã da segunda-feira outro incêndio, controlado pelos bombeiros em menos de uma hora e meia graças à rápida intervenção. O perigo de novos incêndios ainda não desapareceu. As regiões de Limburg, Utrecht e partes de Noord-Brabant estão em alerta vermelho, que representa um clima extremamente seco e o alto risco de incêndios em áreas florestais. Estão proibidos nessas áreas os churrascos e a queima de lixo.
Thijs Westerbeek van Eerten
Fonte:
Rádio Nederland