Vince, em parte isso da chuva da Primavera não é assim tão linear, do tipo, chove, ameniza, e menos incêndios.
Dependendo da vegetação e da região, pelo contrário pode ser pior, bem pior.
Em anos no geral secos, em que o Verão venha a ser quente (e que não tenha ardido muito nos anos anteriores...) em boa parte de Portugal vai arder muito mais se parte da Primavera for chuvosa, do que se não for, e porquê? Porque se for chuvosa, vai crescer mais vegetação, mais mato, mais "fuel" para arder...
Portanto sim, está tudo "check" até agora, e se a Primavera for algo chuvosa, mas não diluviana (o mais provável), poderá piorar as coisas devido a este aumento de matéria para arder, isto caso o Verão depois tenha períodos muito quentes claro, isso é essencial...
Como dizes, também a quantidade de vegetação que cresce na Primavera é um factor muito importante. Os piores anos são aqueles em que chove muito no Inverno, permitindo o grande crescimento de mato nos meses de Março, Abril, e depois uma Primavera seca e quente que retire a humidade aos solos e seque a vegetação que antes tinha crescido em abundância.
De facto este ano pode até nem ser dos mais problemáticos em termos de incêndios se chover pouco nos próximos 3 meses, na minha opinião, pois o Inverno foi muito seco e temos a vegetação ainda muito rasteira, pouco desenvolvida.
Por outro lado, à parte destes factores pré-Verão, a própria circulação da atmosfera nessa estação é importantíssima. Está mais que provado que Verões com circulação marcadamente de Este/Noroeste são terríveis para os incêndios...
Bom, fala-se sempre muito nisso da vegetação do Inverno e Primavera, mas qual será o peso disso em todos os restantes factores ?
É difícil de saber. A biomassa acumulada não é apenas a que nasce nas estações que antecedem a época de incêndios, é biomassa que acumula ao longo de muitos anos, e se estiver tudo seco e ressequido devido a uma seca, só pode agravar a situação.
O factor mais importante é claro o meteorológico, ondas de calor/circulação de leste. No que toca ao resto, varia muito:
Em 2003 tivemos bastante chuva em Janeiro e Abril, e tivemos depois uma parte do Verão escaldante, e foi o pior ano de sempre em incêndios.
Mas em 2005, não tivemos chuva, tivemos uma grande seca parecida com a actual (até agora) e tivemos um Verão que sem ter tido extremos como 2003, o Verão no seu todo (JJA) foi na altura o mais quente de sempre até à data. E foi também um ano trágico nos incêndios.
(Em 2011 terão sido uns 70/80 mil hectares)
Nos últimos anos tivemos Invernos e primaveras de vegetação exuberante, e em 2010 apesar de um Verão muito quente com várias ondas de calor, tivemos muitos incêndios mas não chegámos aos números apocalípticos de outros anos como 2003 ou 2005.
Encontro muitas analogias entre 2005 e 2012. Pelo que na minha opinião, se chegarmos ao Verão e tivermos o azar de ter bastante calor com circulação de leste, a coisa pode ficar preta. Tal como nas conversas recentes sobre a morte de idosos em que se falou de um padrão que poderia ter despertado maior atenção, acho que os responsáveis pela prevenção e luta de incêndios nesta altura devem olhar para tudo isto e acender uma luzinha de alarme lá nos seus gabinetes, que é para não serem apanhados de surpresa.