"Se o tempo piorar não sabemos o que poderá acontecer"
Muros e árvores caídos, estradas condicionadas, caves alagadas e coberturas arrancadas pela força dos ventos. É este o cenário deixado pelo mau tempo um pouco por todo o distrito de Viana do Castelo, com relevo para os concelhos do Alto Lima: Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, onde muitos são os residentes que afiançam ser este o Inverno mais chuvoso "de que há memória".
Residentes no altaneiro lugar de S. Mamede, em Lavradas, no último daqueles concelhos, Manuel Ferreira e Custódia Pereira viram, ontem de madrugada, desaparecer parte do telhado da moradia, levada pelos ventos. "Nunca sentimos um vento tão forte nem temos memória de tempo tão ruim", vaticina Manuel, confidenciando a esposa que a sala "ficou logo cheia de água". Quanto aos estragos, asseguram que "apesar de tudo, não são muitos. Já o nosso receio de que tal volte a suceder é bastante". Ao lado, um vizinho viu, também, desaparecer a cobertura de abrigo de animais.
Situada na estrada que liga a vila à fronteira de Lindoso, a freguesia de Touvedo S. Lourenço assistiu, em finais do mês passado, à derrocada de parte do caminho que liga o lugar de S. Romão à estrada nacional, o que impede, desde então, a circulação automóvel no local. "É situação que nos traz chateados e preocupados. Se o tempo piorar não sabemos o que poderá, ainda, vir a acontecer", insurge-se Almerinda Meireles, com moradia à face do caminho. Apreensiva, Maria do Céu Dias acrescenta: "Moro cá vai para perto de 20 anos e nunca tinha assistido a tal coisa. No dia em que o caminho ruiu, fiquei com medo. E não terei sido a única".
Segundo o presidente da Câmara barquense, Vassalo Abreu, os prejuízos causados pelo mau tempo no património público - principalmente, em muros e vias de comunicação - está contabilizado pela autarquia em mais de um milhão de euros. Vila Nova de Muía, Sampriz e a própria sede de concelho contam-se entre as localidades mais atingidas.
No vizinho concelho arcuense, o rio Vez voltou, anteontem, a galgar as margens e a cortar a estrada, em Aboim das Choças. "Foi a terceira vez este Inverno", assinala Eduardo Matos, que mora junto ao rio, acentuando que uma moradia vizinha (habitada apenas durante as férias) "ficou completamente isolada pelas águas".
JN