Os anos passam, a europa pinta-se de branco de norte a sul e invariavelmente para nós sobram os resquícios... A neve teima em não voltar a paragens menos habituais, quando voltar a acontecer talvez ache que é mentira, ou então que estou a sonhar acordado, é só mais um ano... Enfim, pensarão alguns: "mas nós nem chuva temos e vem-me para aqui este tipo falar de neve
..."
O evento que está a ser a modelado lá para o fim da próxima semana, deverá ser de facto bastante generoso para cotas altas (entenda-se acima dos 700/750m) abaixo disso duvido que a neve passe muito dos 600m, eventualmente nos extremos norte e nordeste do país a cota possa descer até bem menos e nevar a cotas bastante mais baixas, muito dependendo da existência de precipitação (para variar deve escassear especialmente nas regiões mais interiores).
Na generalidade aquilo que se vê neste momento é uma massa de ar frio com características sobretudo oceânicas (embora reabsorvida num fluxo algo continental) e com grande dificuldade em se estender ao longo de PT continental (ou não resultasse da vinda de uma depressão do sul da Gronelândia a bordo do jato, jato esse que de algum modo impede que o frio se estenda de modo mais uniforme pelo território). Portanto, como resultado será uma entrada de NO, que deverá originar cotas um pouco mais altas que as modeladas, mas para além disso saliente-se que aos 500hPa não existe um frio extraordinário modelado, e se olharmos aos 850hPa o cenário talvez seja ainda pior sendo que se observa uma distribuição extremamente errática deste, para além de que estranhamente não há uma sincronicidade entre os momentos mais frios aos 500hPa e 850hPa (neste ponto a paralela, presumível operacional do GFS, tem estado melhor, mas numa área muito restrita do território). Aquilo que provavelmente ajudaria seria uma corrente de jato com sentido mais de norte, assim o frio chegaria mais facilmente, no entanto a cerca de 125h ainda há espaço para alguns ajustes e veremos se as condições agora previstas não pioram mais
, do mesmo modo que pode ainda haver alguma melhoria, apesar de que no que toca ao frio, os modelos parecem estar já bastante convictos. Existem algumas perturbações no GEFS que simulam o que acabei de dizer relativamente à existência de um jet de norte mas, não acredito muito...
Ainda a propósito das correntes de jato, um dos falhanços deste SSW, pelo menos até ao momento, é que não ocorreu uma união entre os fragmentos das correntes de jato polares e subtropicais, pelo menos numa região que nos favorecesse (tem havido algumas tentativas mas sem grande sucesso), vê-se efetivamente estas uniões algures na península Arábica e um pouco pela Ásia em geral, mas nada no Atlântico... Se esta união tivesse ocorrido, seria muito mais fácil a presença de ciclogéneses por cá, e teríamos por certo mais chuva, dado podermos beneficiar de ar mais energético e instável.
O El Niño parece também estar a abrandar, muito embora não saiba precisar ao certo que efeitos é que isso terá no que nos resta do inverno. Estamos também numa fase de fluxo de oeste da QBO, o que regra geral pode ajudar numa transição para um período mais chuvoso e com temperaturas mais amenas (o que deste ponto de vista para os amantes da neve como eu podem não ser as melhores notícias), mas com a divisão do vórtice e o estado caótico da circulação pelo hemisfério norte tudo se torna uma grande incógnita.