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Super Célula
Boa noite a todos,
Já acompanho este fórum há algum tempo, entenda-se alguns anos, mas até à data nunca cheguei a colocar nenhum comentário. Quer seja por comodismo, quer seja por falta de disponibilidade. Sempre utilizei este espaço como consumidor. A minha consulta aumenta durante o período onde em média a precipitação tem mais probabilidade de ocorrer, entenda-se Outono e Inverno.
Bem-haja a todos pelos seus contributos. Aqui aprende-se. Mas desculpem a minha sinceridade e perdoem-me a frontalidade, aqui também se desespera com algumas considerações que de racionais e de teor científico não têm nada.
Vivendo no Sul de Portugal, fácil de perceber pelo meu perfil, a quantidade de precipitação durante o ano é uma preocupação e que acompanho sempre com alguma apreensão. Dito isto e face aos recentes desenvolvimentos que aqui no fórum têm ocorrido tomei a iniciativa e a liberdade de fazer algumas considerações.
Em primeiro lugar gostaria de referir que como tudo na vida, o bom senso, a educação e o respeito pelas opiniões antagónicas têm que prevalecer num tom de cordialidade e respeito. Na ciência os pontos de vista diferentes são bem vindos. Mas esses pontos de vista têm que ser suportados e validados com dados. Não basta ter opinião. O nosso discurso tem que ser fundamentado e construído com base em teorias comprovadas e devidamente consolidadas.
Na ciência o cpeticismo deve imperar e devemos nos questionar sobre tudo. A climatologia e/ou a meteorologia não deverá ser diferente. Só assim a Humanidade evolui e progride para o bem de todos.
O senso comum e as conclusões rápidas nunca foram as melhores respostas para as questões cientificas com que o Homem se depara.
Agora o que noto nos últimos dias aqui neste fórum é que muitos dos princípios que acima refiro são constantemente violados. Desde quase a ofensa entre os membros desta comunidade, até à infantilidade de desejar que aconteça em Portugal fenómenos que só outras latitudes estão habituadas, passando pela “choradeira” da monotonia do “nosso tempo” leva-me a crer que a nossa realidade climática não é conhecida nem entendida.
Agora abordando especificamente o tema que ultimamente tem sido aqui discutido, “A Besta”, “O Antílope”, o ”AA” ou o demónio (aqui o termo é meu, para manter a mesma linha de linguagem) é preciso saber onde vivemos. Portugal Continental localiza-se numa área de influência de predominância de um anticiclone e este quer gostemos ou não irá reinar sempre em pleno, pelo menos na dinâmica da atmosfera hoje conhecida. As secas sucedem-se aos períodos de mais precipitação e estes às secas. Não é uma realidade nova. Deixo alguns dados para reflexão:
- “As situações de seca são frequentes em Portugal Continental, com consequências gravosas particularmente na agricultura e na pecuária, nos recursos hídricos e no bem-estar das populações, sendo de destacar, nos últimos 65 anos, sete episódios de seca com maior severidade: 1943/46, 1965, 1976, 1980/81, 1991/92, 1994/95 e 1998/99 e 2004/06 . As regiões a Sul do Tejo são as mais vulneráveis, e as que têm sido mais afectadas. Das secas referidas, as mais graves foram: Seca 1943-46 – a mais longa ocorrida nos últimos 65 anos, 1990-92 a 2ª mais longa, 2004-06 e 1980-81 foram as 3ª mais longas. Seca de 2004-06 – a de maior extensão territorial (100% do terriório afectado) e a mais intensa (tendo em conta os meses consecutivos em seca severa e extrema).” Fonte: IPMA.
- “Verifica-se uma forte irregularidade inter-anual dos índices da precipitação. A maior seca ocorreu em 1693/94; há numerosas notícias de gravíssima seca no Outono, no Inverno e na Primavera desse ano. Manuel de Almeida refere que não choveu entre Dezembro de 1693 e o dia de S. João (24 de Junho de 1694)…” Fonte: Alcoforado, Maria João. Variações climáticas do passado: chave para o entendimento do presente? Exemplo referente a Portugal (1675-1715)
- As condições térmicas e pluviométricas observadas em Portugal provam que, no SW da Europa as situações sinópticas terão sido LMM (Late Maunder Minimum) semelhantes às actuais, apenas com uma maior frequência de ocorrência de situações anticiclónicas no Inverno e Primavera…” Fonte: Alcoforado, Maria João. Variações climáticas do passado: chave para o entendimento do presente? Exemplo referente a Portugal (1675-1715).
Bom… O discurso já vai demasiado longo. Tenham calma… Estamos neste rectângulo há muitos séculos e já vivemos períodos de seca e chuva extremos. Aqui só há uma nova realidade… O uso sustentável dos nossos recursos é completamente distinto do que era antes e fazemos muitos erros no uso da natureza. Campos de golfe, culturas de regadio, relva verde, culturas intensivas de pecuária com consumo excessivo de água, perdas nas redes de distribuição de água, entre outros, não são práticas que se adequam ao nosso clima, nem ao nosso planeta. Mas isto dava muito mais conversa… Por isso tenham calma e discutam cordialmente com base em argumentos científicos e não empiricos. Termino pedindo compreensão e desculpa se ofendi alguém. Não era essa a minha intenção.
Caro "conterrâneo"!
Saúdo o ingresso no fórum e logo com uma participação séria e factual
Assim é que se discute este e outros assuntos. Obrigado pelo belo texto!