Ir à Torre para ver neve, para além do elevado risco de a estrada ser cortada, é quase sempre uma tortura e não dá para aproveitar minimamente. Episódios com grandes acumulados de neve na Torre vêm quase sempre acompanhados por vento forte o que torna extremamente desagradável usufruir do evento, é difícil aguentar mais que uns minutos na rua (por experiência própria, é relativamente fácil aguentar os -20ºC de Rovaniemi sem vento durante cerca de 15/20 minutos; por outro lado, ainda hoje no alto da Sierra de Peña de Francia não aguentei 1 minuto com -2ºC e vento forte).
Na minha opinião, os melhores nevões ocorrem sem vento, dá para ouvir os flocos a cair e o manto branco é mais visível, uma vez que se aguenta sobre as árvores e as coberturas. E isso é praticamente impossível nos cumes das serras.
Deste modo, ver e usufruir de um bom nevão em Portugal, diria que é impossível em eventos de cotas altas, mas em eventos de cotas médias, especialmente entradas de Noroeste, há bastantes locais. Há que ter em conta que durante um nevão há muita coisa que pode correr mal, portanto há que ir para locais onde seja fácil chegar a apoio logístico em caso de ficarmos bloqueados. É provável que as estradas fiquem cortadas ou estejam extremamente perigosas, pelo que há que estar preparado para ficar num determinado local durante várias horas.
Na minha opinião, em Portugal o melhor local para ver neve (frequência, logística e qualidade do próprio nevão) é o planalto de Montemuro, entre os concelhos de Resende, Cinfães e Castro Daire. Várias localidades entre os 1000 e os 1200m, com restaurantes e alojamento, e caminho entre o mar e o planalto desobstruído de obstáculos orográficos na direção Noroeste.
Em 2020 passei umas noites na Gralheira e vi o melhor nevão a que assisti em Portugal, mas marquei 3 noites num alojamento com restaurante a 100m de distância. Se tivesse ido lá ver apenas, era improvável que lá chegasse, e impossível de sair no dia do evento. Mesmo que a estrada não esteja cortada, é perigoso andar no meio da neve, do nevoeiro e em estradas de montanha, onde muitas vezes não há sinal de telemóvel.
Mais no interior os melhores nevões estão os associados a cut-off e depressões vindas de Espanha, mas nestes eventos é tudo mais imprevisível, e muitas vezes a 48h de distância ainda não há grande concordância entre modelos.
Não longe daqui, e ainda mais favoráveis em eventos com cotas um pouco mais altas, a raia espanhola a Norte de Trás-os-Montes tem várias localidades acima dos 1000m e o maciço central ibérico, principalmente a Peña de Francia e Gredos, também. Estas últimas costumam ser bastante mais beneficiadas em entradas de Norte do que qualquer local em Portugal. Em Espanha há também a vantagem de as estradas serem muito mais seguras em caso de neve, uma vez que em qualquer estrada municipal é espalhado sal ou areia previamente ao evento. Enquanto a temperatura for próxima de 0ºC e se ouvir o sal a bater no fundo do carro é relativamente seguro seguir em frente.
Durante muitos anos tive que me contentar em esperar que a neve viesse ter até mim. Com o passar dos anos, e com o crescimento profissional, passou a ser-me possível ir atrás da neve. Quase todos os anos arranjo um ou dois fins de semana para ir até a locais onde está prevista neve. Se em dezembro é difícil arranjar voos pouco caros marcados de véspera, em janeiro e fevereiro é extremamente fácil. Esta semana cheguei a estudar uma viagem à zona de Munique/ Praga, mas os voos estavam a preços proibitivos (fim de semana prolongado em Portugal). Acabei por ir a Gredos e deu para matar saudades...