Concordo que deviam disponibilizar toda a informação sísmica nos Açores em tempo real, a Islândia, a Espanha são exemplos a seguir..
Mas temos os boletins sísmicos mensais do IM (bastante completos), onde informam toda a actividade sísmica nos Açores, com informação detalhada da localização, chegada das ondas e que estações sísmicas registaram, só que vem com um mês e tal de atraso...
@jpmcouto
Se tiveres mesmo interessado em "monitorizar" a actividade sísmica na zona do Fogo-Congro, podes aceder aos dados da estação sísmica CMLA (Na Chã da Macela) facilmente..tb com recurso a um programa podes visualizar praticamente em tempo real (delay de alguns segundos), todos os canais da estação..mas aconselho mesmo fazer download do ficheiro, aplicar uns filtros e ver o que pode conter..porque a estação tb tem ruído (maioritariamente durante o dia), mas não esperes ver 20 ou 30 sismos num dia! A crise tambem não é assim tão intensa..
Sobre as Caldeiras da Ribeira Grande, acho que a culpa daquilo estar assim é da SOGEO (Entidade que explora a Central Geotérmica).. este fds passei nas Caldeiras e vi que estavam a fazer um novo furo, mas não sei se para remediar o mal que fizeram ou se é para fazer uma nova exploração.
No último mês, todas as semanas tenho um ou mais registos de sismos às 11.58 (hora marcada), por vezes é acompanhado por um segundo registo ao 12:05 e só acontecem durante os dias de trabalho, nunca registei nada ao fim de semana. Já à algum tempo que venho a pensar o que provoca estes registos, neste momento não temos grandes obras aqui na ilha, pelo que penso deve ser da Central Geotérmica. Hoje registei novamente, mas foi às 12:02.
Andei a fazer umas pesquisas sobre a relação sismos-centrais geotérmicas e encontrei esta entrevista ao Vitor Hugo Forjaz (vulcanólogo). Na altura uma central geotérmica na Suiça, provocou diversos sismos e fecharam a central.
Diário Insular – A Suiça acaba de encerrar uma das suas principais centrais geotérmicas por induzir sismicidade para além de níveis aceitáveis. Estes “efeitos colaterais” são um dado novo, não previsível no desenvolvimento da exploração de energia geotérmica?
VHF – Em determinadas circunstâncias, no geral já conhecidas, para cada área em exploração ao longo de diversos anos o aparecimento do que se denomina “sismicidade induzida “ é um fenómeno controlável.
O surgimento de pequenos sismos isolados ou de crises sísmicas de consequências catastróficas (caso de Travalle, na Itália) relaciona-se com diversos factores desde os meramente naturais (excitação de falhas dum campo geotérmico por vibrações sísmicas em falhas exteriores ao campo) aos motivados por uma má gestão do campo geotérmico (aliás a causa mais vulgar).
DI – Poderemos ficar sujeitos nos Açores a crises sísmicas provocadas pela exploração geotérmica, que, para já, avançou em S. Miguel e está em fase de perfurações na Terceira? Essa possibilidade terá sido estudada devidamente desde o início do processo?
VHF-Levantei essa questão em 1989, aquando da grande crise sísmica que se desenvolveu na área central de S. Miguel.
Considerei que a execução do poço ribeiragrandense de 2000 m CL1 tinha sido desastrosa (técnica e economicamente) e que a exploração e respectivos ensaios eram irresponsáveis. Fui muito criticado e até veio uma missão da UNESCO verificar a situação, não se chegando a um acordo, mas levantando-se suspeitas. Anos mais tarde um estudo de impacto ambiental executado pelo Centro de Vulcanologia da Universidade dos Açores, anexo ao texto principal da empresa COBA (que então me foi enviado para parecer e destinado à GEOTERCEIRA) admite a possibilidade de sismicidade induzida nos Açores, facto que causou engulhos a muita gente agora muito, muito geotérmica, mas antes muito anti-geotérmica. Poderei dizer nomes e narrar factos mais tarde.... Aliás, o citado director foi calmamente substituído em 1991, sem processos ou reprimendas. O contrário seria um desfecho muito incómodo ...
DI – Os dados disponíveis sobre a geotermia nos Açores já permitem tirar conclusões mais precisas?
VHF -A central suíça ora em causa é tecnicamente diferente das dos Açores. Mas como se trata de um país civilizado, o assunto não foi abafado e até circula entre os especialistas, sem segredos. No caso dos Açores, a sobre-exploração geotérmica pode conduzir a sismicidade induzida e a situações críticas de vulcanicidade (descompressão do tecto de câmaras magmáticas por rebaixamento excessivo dos fluídos geotérmicos em equilíbrio) .
Depois encontrei este artigo de um geógrafo, que critica a forma como foi criada/construida a central e os furos (e a verdade é que a subir à Lagoa do Fogo pela vertente Norte, aqueles tubos monstruosos são um grande contraste com o resto da paisagem).
http://www1.ci.uc.pt/nicif/riscos/downloads/t16/geotermia.pdf
Na página 16, fala da relação da grande crise sísmica na zona do Fogo/Congro de 1989 com a abertura do primeiro furo da central geotérmica
-A 11 de Abril abriram pela primeira vez o furo, libertação de grandes quantidades de vapor.
-A 13 de Julho fecharam a válvula de escape (impedindo a libertação do vapor)
E aí começou uma grande crise sísmica na zona que durou até Setembro. Pode ter sido uma grande coincidência...
Depois veio em 2007 outra grande sísmica na zona.
Neste momento estamos com outra actividade sísmica que começou em finais de Agosto, cerca de 2 meses depois começam a surgir variadas notícias relacionadas com a central geotérmica. Ou foi a zona de desgaseificação ou foi contaminação de uma nascente ou são tubos corroídos..
Será que andam a brincar com o Fogo (literalmente..)? Será que ao explorar uma zona já de si muito instável, não anda a provocar crises sísmicas? E pensando bem, podia ter provocado algo bem pior..