Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?
Obrigado pelo teu interessantíssimo post.
É sempre bom juntar mais opiniões e dados para enriquecer as nossas informações e sensibilizar o público em geral.
O urso pardo fêmea de que tive notícia, andou perto da fronteira e não sei se a passou, mas é bastante provável que esse ou outro qualquer o faça uma vez ou outra. Hoje em dia a probabilidade ser alvejado acredito que seja menor, pois a mentalidade é diferente e a zona já é protegida. Existem também mais presas disponíveis hoje em dia, do que nessa altura.
Acho que para puderem voltar e estabelecer-se, só mesmo com algum esforço das pessoas e autoridades responsáveis. Provavelmente, como dizes, só daqui a umas décadas é que os veremos novamente. Ainda não se sabe... Mas tudo indicia que já entram cá.
Em relação ao tetraz, tenho algumas reservas quanto a um erro de transcrição, pois tenho aqui dados da sua presença até na Serra da Estrela, embora um pouco por alto. Na Peneda Gerês não tenho muitas dúvidas que tenha lá existido, porque existem topónimos no local referentes a ele e porque a informação sobre a sua presença nessa região está visível até na internet ( por exemplo, http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/...C-B3F11C52D303/0/RevistaAiroVol10_N1_1999.pdf). Agora resta saber, quais os dados que são verdadeiros ou falsos ( este link que postei mostra um artigo algo desactualizado ( em relação por exemplo ao estatuto da águia imperial ibérica em Portugal que está a voltar de forma notória)), mas provavelmente actualizado para a altura em que foi feito. É notória a falta de informações sobre numerosas aves mencionadas neste estudo ( usa-se demasiado a expressão possível, improvável, provável, para um estudo de âmbito científico). Não sabia que a ornitologia estava tão atrasada em Portugal, embora recentemente se tenha feito algum esforço «tímido» de monitorização. Já foram observadas em estado selvagem em Portugal cerca de 600 espécies ( e com novos registos em praticamente quase todos os anos) e uma parte dessa fatia é nidificante e sedentária.
Bom, mas o mais provável é que o tetraz tenha existido mesmo e esteja extinto como já tinha referido.
A população do Noroeste da Península Ibérica ( da qual pertence também a da Peneda-Gerês ), encontra-se em situação muito sensível talvez até de pré-extinção, enquanto a de Nordeste está um pouco melhor.
Penso no entanto que o tetraz está numa situação diferente em relação à cabra do Gerês, porque esta última não foi fornecida por Espanha a Portugal porque era considerada prémio de caça e não havia interesse em doá-la a Portugal para repôr as populações extintas, já em relação ao tetraz, não é prémio de caça em Espanha e podia ser que tal fosse aceite. Penso que aqui o necessário é fundos e interesse de algumas pessoas. Acredito que existam condições para haver a introdução de tetrazes em algumas montanhas mais remotas do norte do país, mas isso implicaria tentar descobrir se já lá existiram ou não. Para já penso que um projecto de reprodução em cativeiro, deveria ser conduzido.
Curiosamente o urso-pardo está também numa situação algo semelhante, com duas populações divididas ( com uma população ocidental e outra oriental), mas neste caso é a população ocidental a mais numerosa e em expansão.
E novamente queria agradecer pelo teu post, que tem informações que não encontrei em lado nenhum!
Oficialmente o urso-pardo desapareceu em 1650. Mas este registo baseia-se num animal que foi abatido junto à casa da neve, na serra Amarela (PNPG). O local ficou (ou já tinha) o nome de Quelha da Ursa. Mas é bem provável que a existência do urso no Gerês e em Portugal se tenha prolongado pelas décadas seguintes. Com efeito, existem algumas (muito poucas) referências de ursos nas montanhas do Alto Minho no século XIX. Nesta altura a ocorrência da espécie seria absolutamente casual - provavelmente exemplares errantes oriundos do norte da Galiza e (ou) do sul das Astúrias. Finalmente, o último urso morto na Peneda-Gerês (um urso meio perdido vindo provavelmente do Norte) sucedeu em 1946 em Padrenda, Galiza, no sopé do planalto de Castro Laboreiro. Circulava para cá e para lá, provocando, parece, estragos no gado. Foi abatido por um lavrador chamado Camilo Loves com a ajuda da guarda-civil. O homem que ainda vivia há 5 anos foi tratado no hospital de Melgaço, de ferimentos provocados pelo urso. Um outro homem partiu uma perna quando fugia do animal.
Não me parece que o urso regresse a Portugal nos tempos mais próximos(décadas). O que resta das florestas portuguesas é pouco para sustentar uma população viável. Os carvalhais galaico-portugueses estão profundamente retalhados (apesar de tudo, em melhor estado que nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do século X).
O mesmo para o galo-montês (Tetrao urogallus) aqui referido. Aliás não existem provas credíveis da sua existência. Receio mesmo que o único dado conhecido, uma referência encontrada num manuscrito setecentista da região do Gerês, enferme num erro de transcrição.
De qualquer das formas é provável tenha existido no Gerês, onde existem topónimos provavelmente ligados ao galo, mas isto, como disse, no tempo em que a composição e sobretudo a extensão do coberto vegetal permitia a existência da ave.
Finalmente de pouco vale reproduzir o galo em cativeiro quando as condições do meio não permitem a sua sobrevivência. Por outor lado seria necessário reunir um grupo de fundadores (reprodutores) da subespécie do noroeste da Península (diferente do galo das montanhas do nordeste, na estrutura do bico, porte etc. e mais adaptado aos pinhais de pinheiro silvestre) e não me parece que as autoridades espanholas estivessem de acordo depois do episódio da cabra-montês do Gerês.
Obrigado pelo teu interessantíssimo post.
É sempre bom juntar mais opiniões e dados para enriquecer as nossas informações e sensibilizar o público em geral.
O urso pardo fêmea de que tive notícia, andou perto da fronteira e não sei se a passou, mas é bastante provável que esse ou outro qualquer o faça uma vez ou outra. Hoje em dia a probabilidade ser alvejado acredito que seja menor, pois a mentalidade é diferente e a zona já é protegida. Existem também mais presas disponíveis hoje em dia, do que nessa altura.
Acho que para puderem voltar e estabelecer-se, só mesmo com algum esforço das pessoas e autoridades responsáveis. Provavelmente, como dizes, só daqui a umas décadas é que os veremos novamente. Ainda não se sabe... Mas tudo indicia que já entram cá.
Em relação ao tetraz, tenho algumas reservas quanto a um erro de transcrição, pois tenho aqui dados da sua presença até na Serra da Estrela, embora um pouco por alto. Na Peneda Gerês não tenho muitas dúvidas que tenha lá existido, porque existem topónimos no local referentes a ele e porque a informação sobre a sua presença nessa região está visível até na internet ( por exemplo, http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/...C-B3F11C52D303/0/RevistaAiroVol10_N1_1999.pdf). Agora resta saber, quais os dados que são verdadeiros ou falsos ( este link que postei mostra um artigo algo desactualizado ( em relação por exemplo ao estatuto da águia imperial ibérica em Portugal que está a voltar de forma notória)), mas provavelmente actualizado para a altura em que foi feito. É notória a falta de informações sobre numerosas aves mencionadas neste estudo ( usa-se demasiado a expressão possível, improvável, provável, para um estudo de âmbito científico). Não sabia que a ornitologia estava tão atrasada em Portugal, embora recentemente se tenha feito algum esforço «tímido» de monitorização. Já foram observadas em estado selvagem em Portugal cerca de 600 espécies ( e com novos registos em praticamente quase todos os anos) e uma parte dessa fatia é nidificante e sedentária.
Bom, mas o mais provável é que o tetraz tenha existido mesmo e esteja extinto como já tinha referido.
A população do Noroeste da Península Ibérica ( da qual pertence também a da Peneda-Gerês ), encontra-se em situação muito sensível talvez até de pré-extinção, enquanto a de Nordeste está um pouco melhor.
Penso no entanto que o tetraz está numa situação diferente em relação à cabra do Gerês, porque esta última não foi fornecida por Espanha a Portugal porque era considerada prémio de caça e não havia interesse em doá-la a Portugal para repôr as populações extintas, já em relação ao tetraz, não é prémio de caça em Espanha e podia ser que tal fosse aceite. Penso que aqui o necessário é fundos e interesse de algumas pessoas. Acredito que existam condições para haver a introdução de tetrazes em algumas montanhas mais remotas do norte do país, mas isso implicaria tentar descobrir se já lá existiram ou não. Para já penso que um projecto de reprodução em cativeiro, deveria ser conduzido.
Curiosamente o urso-pardo está também numa situação algo semelhante, com duas populações divididas ( com uma população ocidental e outra oriental), mas neste caso é a população ocidental a mais numerosa e em expansão.
E novamente queria agradecer pelo teu post, que tem informações que não encontrei em lado nenhum!