JPAG
Cumulus
Infelizmente e pelo que estive a analisar muito rapidamente, penso que serão novamente alegações sem fundamento...
O caso recente de Vinhais, não aconteceu em Vinhais, mas em Espanha, ainda que a poucos quilómetros da fronteira:
http://visao.sapo.pt/verde/2017-11-20-Sera-que-o-urso-vai-regressar-a-Portugal-
O caso de Miranda do Douro, penso que também foi em Espanha (Zamora), mas também relativamente perto de Portugal (será o caso registado em 1998?).
Agora claro que há também a hipótese de alguns terem entrado mesmo cá, só que ninguém se apercebeu. Nem todos os ursos são seguidos por Espanha.
No entanto, vou contatar na mesma o ICNF.
Posto isto, penso que existem 3 posições, relativamente à situação do urso-pardo em Portugal.
1-Existem uns que aparentemente rejeitam a hipótese de entrarem ursos em Portugal, e que salientam que o último registo (1843), já era de um animal dispersante.
Acreditam também que não existem condições no Norte de Portugal, para os ursos voltarem e que se o urso quisesse voltar, não teria nada para comer.
Para sustentar este ponto de vista, alegam ter havido demasiados transformações no que seria um bom habitat para o urso, nomeadamente a destruição do bosque caducifólio, o fogo e a expansão da cultura do milho, do pinhal, do eucaliptal, etc...
2-Existem uns que aparentemente acreditam que existem ursos dispersantes em Portugal (numa franja que vai da Peneda às zonas raianas do parque natural de Montesinho). Falam em avistamentos, pegadas e dizem que o ICNF, está a par de alguns destes acontecimentos..
3-Existem uns que acreditam que existe a possibilidade de ursos dispersantes entrarem ou de virem começar a entrar em Portugal (tal tanto pode já ter acontecido recentemente, como poderá acontecer nos próximos tempos), sobretudo na zona do Parque Natural de Montesinho e arredores.
Mencionam que tal ponto de vista, é sustentado pela expansão notória da população ocidental ibérica de urso-pardo (e também com o crescente numero de registos relativamente perto da fronteira Portuguesa) e reforçam este ponto de vista, com uma comparação entre os habitats usados em Espanha, pelo urso, com os presentes no extremo Nordeste Português, alegando existir alguma semelhança em vários aspetos chave e com um estudo que apresenta esta zona, como tendo habitat com potencial para albergar a espécie (ainda que em numeros baixos (sobretudo dispersantes, e com baixa taxa de ocupação permanente e com muito baixa taxa de reprodução)).
Por último apontam a crescente baixa densidade da população humana, e a elativamente numerosa população de lobos-ibéricos na região (tanto no lado Português, como no lado Espanhol) como um bioindicador favorável para os ursos.
Uma crítica construtiva a todos estes pontos de vista:
1)As transformações que alegam ter transformado o habitat do urso ao ponto de este não ter alimento, muito provavelmente, não podem ser aplicadas a toda a zona raiana do Norte de Portugal e o urso pode ser considerado como sendo um animal com uma dieta bastante generalista, tendo sido observado na Europa do Leste, a frequentar lixeiras, a viver bem perto de aldeias habitadas em Espanha e a seguir alcateias de lobo na América do Norte para ter acesso aos despojos das caçadas.
O urso-pardo também não vive exclusivamente em bosques caducifólios, como já foi demonstrado neste tópico, tanto na P. Ibérica, como em vários outros países, escolhendo antes diferentes tipos de habitat, consoante a época do ano, a região, etc...
Também me parece que têm negligenciado o crescente número de incursões de ursos-pardos até zonas próximas da fronteira.
2- Infelizmente a verdade é que não existem provas credíveis sobre a presença de ursos-pardos em território nacional (tanto quanto sei, pelo menos desde o caso de 1843) e não deviam nunca, enveredar por fotografias, testemunhos e informações duvidosas para dizer que a presença do urso está confirmada, pois isto em nada contribue para a melhoria da situação do urso-pardo no nosso país e afasta as pessoas com potencial para fazer algo de relevante.
Seguramente também não serve em nada para refletir sobre a possibilidade da entrada de ursos em Portugal ou sobre possíveis alterações da lei ou de gestão territorial do nosso país.
Por último, se por acaso, encontrarem mesmo algo que prove a presença de um urso, acho que devem dirigir-se a autoridades como o ICNF ou a investigadores sérios e imparciais, e evitem indicar as localizações precisas dos achados ao público.
3-Esta é a minha linha de pensamento, por isso, como é óbvio, não tenho muito a criticar, excepto talvez que tenha que ter em mente, que apesar de existirem corredores ecológicos entre o Nordeste Português e o sistema Sanabria-Culebra, tal colonização, a realizar-se, poderá ser algo lenta e se envolverá reprodução, dentro de território português, só o tempo dirá.
Penso que é necessário atualizar a informação sobre o que se passa neste território, e em Espanha e sugerir alguma atenção às autoridades competentes, sobre a possível entrada de animais dispersantes oriundos de Espanha (e de propôr um plano adaptado à realidade local, para também introduzir o tema junto das populações locais, escolas, (etc), tendo em vista a sensibilização da população (inclusive grupos ambientais regionais)).
Eventualmente este plano (que poderá estender-se até a outro lado da fronteira), e também irá propôr o reforço das massas boscosas locais, com espécies e variedades locais, que não só favorecem o urso, mas toda uma série de seres vivos. As populações locais, poderão e deverão participar nestes plantios em ações de voluntariado e será incutido um ambiente alegre e festivo, aos eventos.
A criação da Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica, também impulsionou-me a enveredar por esta linha de pensamento.
Excelente comentário. Concordo com tudo o que disse.
A 1ª posição que apresenta penso que está colocada como fora de hipótese neste momento pelos entendidos na matéria. Não faz sentido nenhum acreditar que o urso não entrou ou entrará em Portugal nos últimos/próximos anos. Só nós, humanos, é que vimos as fronteiras como limites administrativos e sabendo que os ursos têm andando pela região a cerca de 10/20 km da fronteira não me faz muito sentido que este limite não tenha sido já ultrapassado. Estamos a falar de um território que apresenta uma igualdade florística e faunística dos 2 lados da fronteira, de um território que felizmente tem conseguido fazer crescer algumas populações de animais em risco, como o lobo ou a cabra (e teve o ano passado também a boa notícia da charrela ter aparecido), ou seja, as condições necessárias para que os ursos entrem no nosso território estão lá e não me parece que desculpas como diferença de habitats e falta de alimento façam sentido de acordo com as semelhanças que há entre os territórios.
Acerca da Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica, é sem dúvida um excelente indicador de que as coisas estão a ser bem feitas e bem planeadas. Aliás, estas iniciativas só pecam por escassas. e deviam a continuar a ser implementadas, tanto em Portugal como no resto do mundo. Não faz sentido olhar-se para o território de forma desarticulada e através das fronteiras administrativas. No entanto acho que esta Reserva ainda está um pouco aquém do potencial que apresenta... percebo que nesta altura embrionária do projeto ainda se olhe muito para as questões de divulgação e aspetos económicos da região (principalmente turismo), mas esta terá que ter um papel mais interventivo na criação e gestão de projetos de conservação da natureza. Mas no geral o trabalho desenvolvido tem sido bom.
Não sendo um grande entendido na matéria, nem sabendo muito bem todos os requisitos necessários para a criação de estas reservas transfronteiriças, custa-me a perceber como é que ainda não foi criada nenhuma (nem se ouviu falar, que eu saiba), para a região do Guadiana (Vale do Guadiana-Picos de Aroche-Serra de Aracena, p.ex).