Banquete ilegal de veado é investigado na GNR
por LICÍNIO LIMA07 Dezembro 2008
Castelo Branco. Um veado com cerca de cem quilos morreu na IP2 em resultado de um acidente com uma viatura. O caso chegou ao Ministério Público porque, alegadamente, o comandante da BT de Castelo Branco autorizou que o animal virasse petisco para si e para soldados do departamento
Um veado morreu atropelado na IP2 e acabou por servir de refeição a alguns guardas da GNR do destacamento de trânsito de Castelo Branco, segundo uma queixa entrada na Procuradoria-Geral da República (PGR). De acordo com a lei, deveria ter sido queimado ou entregue a uma instituição social. Mas há um outro mistério que perdura. Alguém arrancou os chifres ao animal e levou-os para casa, mantendo-se desconhecido o autor do "desimplante". Oficialmente, surgiu na estrada com a cabeça já "desarmada".
Depois da PGR, a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) também tomou conhecimento do caso e mandou o comando-geral da GNR averiguar. Entretanto passaram-se quase dois anos e não se conhecem conclusões. Os intervenientes no repasto correm o risco de expulsão.
A PGR tomou conhecimento do caso em Março de 2007, através de queixa anónima de alguém que se apresentou como sócio de uma associação de defesa dos animais. Segundo essa denúncia, a que o DN teve acesso, o acidente aconteceu a 15 de Fevereiro de 2007 ao Km 149 da IP2, na direcção da Barragem do Fratel, cruzamento de Gardete, envolvendo um ligeiro de mercadoria de marca Mercedes e um animal de caça grossa, veado, com cerca de 100 quilos.
Ao local acorreram dois guardas da Brigada de Trânsito (BT) da GNR que terão pedido instruções sobre o que fazer com o animal moribundo. Enquanto aguardavam, um deles agarrou-se aos cornos do bicho e arrancou-os, exclamando "estes já são meus", conforme se lê na queixa à PGR. Entretanto, terão recebido uma indicação do graduado de serviço que se encontrava no posto no sentido de que seria necessário encontrar um número de telefone de uma instituição interessada em consumir o animal.
Neste impasse, segundo o mesmo documento, entre os dois guardas surgiu a ideia de o veado virar petisco. Era uma tentação de cem quilos. Então, um dos soldados telefonou a um outro que estaria fora de serviço. Este, por sua vez, terá contactado o comandante do destacamento, tendo este dado o aval à concretização da ideia.
Entretanto, chegou ao local o graduado de serviço que logo perguntou pelos chifres do bicho, tendo-lhe sido informado que já teria surgido ali naquele estado. Era noite - o acidente dera-se por volta das 20.00 -, mas o sargento , com a ajuda de uma lanterna, ainda se meteu mata adentro na tentativa de encontrar as hastes. Em vão. Os dois soldados informam-no em seguida que o comandante do destacamento já estava a par do assunto e que o animal já teria destino. O sargento contactou o comandante que lhe terá confirmado a informação recebida.
Pouco tempo depois surge no local o tal soldado que se encontrava fora de serviço, e que foi contactado quando surgiu a ideia de o animal virar petisco. A carrinha em que se deslocou até ali era propriedade de um civil residente na Lardosa, Castelo Branco. Alegadamente, o veado foi transportado para um restaurante e, passado uns dias, terá servido de repasto a alguns militares da GNR e amigos.
Um dos soldados que tomou conta da ocorrência , contactado pelo DN, recusou-se a falar. O segundo soldado já está reformado, e o número de telefone que conseguimos está desactivado. O comandante do destacamento, o tenente Correia da Silva, confirma a ocorrência, mas garante que a queixa apresentada na PGR "é um filme inventado por alguém que quis difamar a instituição". Instado sobre o destino dado ao animal, o tenente diz não se recordar, frisando que a morte de animais na estrada ocorre com alguma frequência. O DN questionou o comando geral da GNR sobre este assunto na quarta-feira através de um e-mail com algumas perguntas. Mas, até ontem, não obtivemos resposta. Os demais intervenientes estiveram sempre incontactáveis.