As concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera atingiram um novo recorde em 2013, segundo um novo balanço da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
A quantidade de dióxido de carbono (CO2) – o principal vilão do aquecimento global – chegou a 396 partes por milhão (ppm), tendo subido, entre 2012 e 2013, a um ritmo sem precedentes desde 1984. O aumento foi de 2,9 ppm, contra uma média de 1,5 ppm por ano desde 1990 e de 2,1 ppm por ano na última década.
A esta velocidade, a simbólica marca dos 400 ppm vai ser ultrapassada em 2015 ou 2016, conforme já previa a Organização Meteorológica Mundial no ano passado. Este limite já foi ultrapassado pontualmente nalgumas estações de medição de CO2. Os cálculos OMM são, no entanto, uma média global, com base em várias estações em terra, em navios e aviões.
Até ao final de 2013, a concentração de CO2 correspondia a quase uma vez e meia (142%) da que havia na era pré-industrial (1750), antes das fábricas e dos automóveis. Outros gases com efeito de estufa também estão com concentrações mais elevadas. O metano (CH4) chegou a 253% dos níveis pré-industriais e o óxido nitroso (N2O), 121%.
As emissões de CO2 proveniente da queima de petróleo, gás e carvão – ou seja, a quantidade expelida por centrais térmicas, refinarias, fábricas e automóveis – têm vindo a subir globalmente. Nos dez anos entre 2003 e 2012, aumentou em média 3,3% ao ano, segundo dados do Global Carbon Atlas.
Embora na Europa e nos Estados Unidos tenham vindo a cair neste período, os ganhos estão a ser anulados sobretudo pela China, que está no caminho inverso, com 10% de aumento anual em média desde 2003. A China tornou-se o maior emissor mundial de CO2 em 2006 e tem hoje quase o dobro das emissões dos Estados Unidos, o segundo da lista.
A OMM diz, no entanto, que o rápido aumento na concentração de CO2 não tem a ver com a subida nas emissões. Cerca de 55% do CO2 lançado para a atmosfera é absorvido pelos oceanos e pelas plantas ou outras formas de vida terrestres. Uma variação na quantidade de CO2 capturado pela biosfera terrestre será a explicação mais plausível.
“Ainda é muito cedo para dizer que factores são responsáveis pela subida maior do que o normal da média entre 2012 e 2013”, refere o relatório da OMM.
Os cientistas também não sabem ainda explicar cabalmente por que é que, perante um aumento cada vez mais rápido da concentração de gases com efeito de estufa, o termómetro global não está a subir na mesma proporção. Segundo dados da NOAA, a agência norte-americana para o mar e a atmosfera, as temperaturas médias anuais estão mais ou menos estabilizadas desde 2000, embora num patamar que nunca tinham atingido pelo menos desde 1880.
A principal explicação será a de que parte da energia excedente está a ser absorvida pelo oceano, aquecendo-o em profundidade.
O relatório inclui também, e pela primeira vez, uma análise sobre o nível de acidificação dos oceanos, que, segundo a OMM, "parece não ter precedentes, pelo menos nos últimos 300 milhões de anos". Segundo a OMM, "as potenciais consequências da acidificação dos oceanos nos organismos marinhos são complexas", mas a maior preocupação diz respeito ao corais, algas e moluscos.
A divulgação do balanço da OMM ocorre a duas semanas de uma cimeira mundial, em Nova Iorque, convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para acelerar as negociações para um novo tratado climático global, que se arrastam há anos.
“Sabemos, sem sombra de dúvida, que o nosso clima está a mudar e as condições meteorológica estão a se tornar mais extremas devido a actividades humanas como a queima de combustíveis fósseis”, disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, num comunicado. “Temos de reverter esta tendência, reduzindo as emissões de CO2 e outros gases com efeito de estufa. Estamos a ficar sem tempo”, completou.
Numa campanha de sensibilização, a OMM está a divulgar uma série de vídeos com boletins meteorológicos fictícios para 2050, envolvendo apresentadores conhecidos de meteorologia em vários países.
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