Árvores e Florestas de Portugal

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O Sul de Espanha não tem muita tradição de jardim público. O que é típico do Sul de Espanha é isto:

- praças com palmeiras-das-Canárias
- pátios interiores com poço, fonte, vasos, canteiros
- um extenso pinhal, azinhal ou sobral ao lado do limite urbano da povoação com uma capela da Virgem
- em Sevilha há jardins privados em palácios mas têm um desenho diferente do que se encontra em Portugal, há ali muitas influências muçulmanas.

A partir do final dos anos 60 deu-se em Portugal uma explosão urbanística com total desprezo pela presença de árvores e jardins públicos.

Os artigos médicos mostram hoje em dia que a presença de áreas verdes com árvores e não impermeabilizadas em espaços urbanos é uma medida de saúde pública que ajuda até na prevenção de doenças auto-imunes.

Enquanto que Lisboa ainda tem Monsanto e Sintra, o Porto não tem uma única área de mata nativa pública que tenha uma área decente na sua área urbana.
 
Praça em Ayamonte, com palmeiras, ladrilhos e azulejos.

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Um pátio interior em Sevilha.

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Capela de Pedras Albas, perto de Castelejo, rodeada por um azinhal.

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Jardim em Palácio de Sevilha, notar a presença de palmeiras, limoeiros, azulejos, laranjeiras, vasos, canteiros.

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Num passado assim não muito distante fizeram-se avenidas e passeios com galerias de árvores nativas ou folhosas da nossa latitude cujas copas eram preservadas intactas, sem podas radicais. Infelizmente nas últimas décadas esse costume perdeu-se.

Uma dessas galerias existe em Ponte de Lima e data de 1901:

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Estas árvores pertencem à espécie Platanus x hispanica Miller ex Münchh.,a mais plantada em Portugal. Esta espécie é um híbrido resultante do cruzamento entre o plátano-americano (Platanus occidentalis L.) e o plátano-europeu (Platanus orientalis L.).
No entanto, em publicações mais recentes, considera-se que este plátano é uma variedade do plátano-europeu, designada por Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton.

Os plátanos desta magnífica alameda terão sido plantados em 1901, de acordo com o blogue Dias com Árvores, estando classificados como sendo de interesse público desde 1940.

Todos os presidentes de câmara deste país deveriam ser obrigados a visitar esta avenida e, talvez deste modo, alguns percebessem a suprema estupidez daquilo que se passa todos os anos nas cidades e vilas portuguesas, com a mutilação de vários plátanos. (Alguns responsáveis autárquicos, mais dados ao humor negro, costumam referir-se a estes actos de barbárie como podas; alguns ainda, mais ousados, até pensarão que estão a fazer podas de correcção! A estes vale, que a dita estupidez, ainda é das poucas coisas não sujeitas a IVA neste país).

Por cá, entenda-se na Covilhã, todos os anos assistimos a este espectáculo. Este ano, por exemplo, decidiram embirrar com os plátanos que ladeiam a estrada que liga esta cidade ao Tortosendo, como no passado fizeram o mesmo aos que se encontravam no Canhoso; mutilados foram também dois plátanos situados junto ao novo jardim da Ponte Mártir-in-colo, que embora sendo ainda jovens, se mostravam bastante vigorosos e com uma copa bastante harmoniosa.

Neste caso, como em tantos outros, tudo resulta da falta de planeamento, ou seja, plantam-se árvores próximas umas das outras e depois tenta-se resolver o "problema", cortando, quase literalmente,o mal pela raiz.

Na cidade, por mutilar, resta praticamente o conjunto magnífico formado por 3 plátanos à beira da estação de caminhos-de-ferro. Até quando?

http://sombra-verde.blogspot.com/2006/08/nem-todos-os-pltanos-se-abatem.html
 
No Algarve era tradição a plantação de palmeiras-das-Canárias (Phoenix canariensis) junto a casas rurais, especialmente as que pertenciam a famílias de classe elevada. O chalet com uma ou várias palmeiras que se avistavam ao longe era uma das características da paisagem Algarve do litoral e do barrocal. A maioria destas quintas foi abandonada nas décadas de 60/70. Quando era criança, nos anos 90, as casas já estavam em ruínas. Muitas tinham elevado valor estético e algumas eram centenárias. Em anos recentes, a maioria destas palmeiras morreu. Mas nas décadas de 80 e de 90 já tinham desaparecido dezenas de palmeiras em processos de urbanização do litoral. Muitas foram vendidas para Espanha a preços altíssimos.

Mas não era só no Algarve que se plantavam há séculos estas palmeiras. No Porto há vários exemplares em casas de «brasileiros» e chalets. E em Sintra, ou no Litoral Centro, junto em casas apalaçadas, em chalets de quintas ou casas de «brasileiros», e mesmo em espaços públicos. Era uma espécie de símbolo para dizer a quem passava, «aqui mora gente de classe social mais elevada»...

A sua utilização em praças e espaços públicos em geral, contudo, parece-me mais recente, e popularizou-se nos anos 60, 70, 80 e 90. No jardim da Foz há várias, mas não sei o ano em que foram plantadas.

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O jardim do Coreto de Tavira também tinha várias, mas infelizmente muitas morreram.

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As de Coimbra foram perdidas em 2013.

A Câmara Municipal de Coimbra começou esta quinta-feira a abater as palmeiras “históricas” do Parque da Cidade, “algumas quase centenárias”, no âmbito do combate ao escaravelho que destrói estas espécies.

O vereador Luís Providência, que detém o pelouro Ambiente, disse à agência Lusa que cabe à autarquia remover dos espaços públicos da cidade “todas as palmeiras afectadas pela praga” do Rhynchophorus ferrugineus, o nome científico do escaravelho-vermelho.

Algumas das árvores abatidas no Parque Manuel Braga tinham pelo menos 20 metros de altura e a sua plantação remonta aos anos 20 do século passado, quando foi construído aquele espaço público, também conhecido por Parque da Cidade.


https://www.publico.pt/2013/01/03/l...s-destruidas-pelo-escaravelhovermelho-1579388

Infelizmente a manutenção destas palmeiras é caríssima e a tendência é para irem desaparecendo da nossa paisagem como árvore ornamental.
 
Última edição:
Em Portugal o cipreste (Cupressus sempervirens) é cultivado desde pelo menos o tempo do Império Romano. A população associou a árvore aos cemitérios e muitos portugueses não querem o cipreste nos seus jardins e ruas pois pensam que dá azar. No entanto, noutros países europeus a árvore é amplamente usada em jardinagem.

Os romanos cultivavam o cipreste junto às estradas e a tradição permanece em Itália,como se vê neste caminho rural da Tuscânia:

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A árvore também é muito utilizada no jardim italiano, francês ou grego, como neste jardim em Como.

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Mas em Portugal ficou associado aos cemitérios, especialmente no Sul do país.

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O cipreste era associado pelos romanos ao mundo dos mortos e a sua madeira era usada em ritos funerários. A romanização foi muito mais intensa a Sul de Coimbra. Não é por acaso que a espécie é menos comum nos cemitérios do Norte do país, mas pode ser encontrada com frequência em cemitérios do Sul e em algumas estradas nacionais mais antigas a Sul do Tejo. É que para os gregos era também a árvore das encruzilhadas e a sua madeira para os primeiros cristãos era sagrada e utilizada para fazer cruzes que eram amuletos protectores.


Lamentavelmente, por negligência, incúria, desconhecimento e desmazelo das autoridades os nossos ciprestes estão a morrer.

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https://www.acipn.pt/2016/09/12/ciprestes-condenados-a-morte-lenta/

Podem saber mais sobre esta doença aqui:

https://www.isa.ulisboa.pt/files/lpvva/pub/Mundo das Plantas e Jardinagem_N1_FEV2009.pdf

Idealmente todas as árvores doentes devem ser sinalizadas para ser tratadas ou cortadas e assim prevenir a expansão do fungo, e devem ser substituídas por clones resistentes, que julgo não estarem ainda disponíveis em Portugal.
 
Última edição:
O género Phoenix tem fósseis encontrados no sudoeste da Europa, e o mais próximo que temos geograficamente, é a Phoenix canariensis, que provavelmente é uma descendente dessa linhagem europeia.
Em tempos, quando a Europa era mais quente, deviam existir palmeirais naturais dessa espécie, em alguns locais.

A Chamaerops humilis também é uma descendente desses tempos, mas essa ainda conseguiu sobreviver na Europa até aos dias de hoje. Dados antigos (e ainda não confirmados), descrevem a presença dessa palmeira em locais pouco habituais, como na Arrábida, por exemplo.
 
Última edição:
O cipreste era associado pelos romanos ao mundo dos mortos e a sua madeira era usada em ritos funerários. A romanização foi muito mais intensa a Sul de Coimbra. Não é por acaso que a espécie é menos comum nos cemitérios do Norte do país, mas pode ser encontrada com frequência em cemitérios do Sul e em algumas estradas nacionais mais antigas a Sul do Tejo. É que para os gregos era também a árvore das encruzilhadas e a sua madeira para os primeiros cristãos era sagrada e utilizada para fazer cruzes que eram amuletos protectores.


Lamentavelmente, por negligência, incúria, desconhecimento e desmazelo das autoridades os nossos ciprestes estão a morrer.

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https://www.acipn.pt/2016/09/12/ciprestes-condenados-a-morte-lenta/

Podem saber mais sobre esta doença aqui:

https://www.isa.ulisboa.pt/files/lpvva/pub/Mundo das Plantas e Jardinagem_N1_FEV2009.pdf

Idealmente todas as árvores doentes devem ser sinalizadas para ser tratadas ou cortadas e assim prevenir a expansão do fungo, e devem ser substituídas por clones resistentes, que julgo não estarem ainda disponíveis em Portugal.

Já me tinha perguntado a mim mesmo o que seria ao certo, que estava a levar á morte os ciprestes, tenho visto alguns a morrerem e que aos poucos vão alastrandoa outros, só não sabia do que se tratava ao certo, parece-me que deve-se suceder o mesmo que se passou com o as palmeiras devido ao escaravelho, ou com a vespa asiática, em que ninguém quis saber logo no inicio antes de tomar proporções alarmantes, e depois já pouco ou nada se pode fazer, pois é preciso também grandes investimentos por parte de particilares, e de municipios.
 
O género Phoenix tem fósseis encontrados no sudoeste da Europa, e o mais próximo que temos geograficamente, é a Phoenix canariensis, que provavelmente é uma descendente dessa linhagem europeia.
Em tempos, quando a Europa era mais quente, deviam existir palmeirais naturais dessa espécie, em alguns locais.

A Chamaerops humilis também é uma descendente desses tempos, mas essa ainda conseguiu sobreviver na Europa até aos dias de hoje. Dados antigos (e ainda não confirmados), descrevem a presença dessa palmeira em locais pouco habituais, como na Arrábida, por exemplo.

Belém eu já vi palmeiras-anãs no litoral alentejano. A menos de 100 kms da Arrábida em linha recta...
 
Já me tinha perguntado a mim mesmo o que seria ao certo, que estava a levar á morte os ciprestes, tenho visto alguns a morrerem e que aos poucos vão alastrandoa outros, só não sabia do que se tratava ao certo, parece-me que deve-se suceder o mesmo que se passou com o as palmeiras devido ao escaravelho, ou com a vespa asiática, em que ninguém quis saber logo no inicio antes de tomar proporções alarmantes, e depois já pouco ou nada se pode fazer, pois é preciso também grandes investimentos por parte de particilares, e de municipios.

As arvóres doentes têm de ser sinalizadas, e tratadas ou abatidas, para que o fungo não se espalhe. E devem ser substituídas por clones resistentes. O que podemos fazer quando virmos uma árvore assim em espaço público é tirar foto e enviar e-mail a várias entidades, a começar pela junta de freguesia e câmara municipal. Pelo que li noutros países europeus têm sido tomadas medidas e a doença está a regredir. Em Portugal está em expansão!
 
As arvóres doentes têm de ser sinalizadas, e tratadas ou abatidas, para que o fungo não se espalhe. E devem ser substituídas por clones resistentes. O que podemos fazer quando virmos uma árvore assim em espaço público é tirar foto e enviar e-mail a várias entidades, a começar pela junta de freguesia e câmara municipal. Pelo que li noutros países europeus têm sido tomadas medidas e a doença está a regredir. Em Portugal está em expansão!

Pois, por cá em Portugal ninguém quer saber de nada, aqui perto de mim está uma sebe com eles, no terreno das piscinas locais, que devem de ter mais de 25 anos, e muitos deles estão já totalmente secos, começaram assim há pouco mais de ano, com os sintomas.
 
Praça em Ayamonte, com palmeiras, ladrilhos e azulejos.

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Um pátio interior em Sevilha.

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Capela de Pedras Albas, perto de Castelejo, rodeada por um azinhal.

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Jardim em Palácio de Sevilha, notar a presença de palmeiras, limoeiros, azulejos, laranjeiras, vasos, canteiros.

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Esses jardins e pátios comuns em cidades do sul de Espanha são muito bonitos.
Nessa última foto a palmeira do lado direito parece-me uma tamareira.
 
Num passado assim não muito distante fizeram-se avenidas e passeios com galerias de árvores nativas ou folhosas da nossa latitude cujas copas eram preservadas intactas, sem podas radicais. Infelizmente nas últimas décadas esse costume perdeu-se.

Uma dessas galerias existe em Ponte de Lima e data de 1901:

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Estas árvores pertencem à espécie Platanus x hispanica Miller ex Münchh.,a mais plantada em Portugal. Esta espécie é um híbrido resultante do cruzamento entre o plátano-americano (Platanus occidentalis L.) e o plátano-europeu (Platanus orientalis L.).
No entanto, em publicações mais recentes, considera-se que este plátano é uma variedade do plátano-europeu, designada por Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton.

Os plátanos desta magnífica alameda terão sido plantados em 1901, de acordo com o blogue Dias com Árvores, estando classificados como sendo de interesse público desde 1940.

Todos os presidentes de câmara deste país deveriam ser obrigados a visitar esta avenida e, talvez deste modo, alguns percebessem a suprema estupidez daquilo que se passa todos os anos nas cidades e vilas portuguesas, com a mutilação de vários plátanos. (Alguns responsáveis autárquicos, mais dados ao humor negro, costumam referir-se a estes actos de barbárie como podas; alguns ainda, mais ousados, até pensarão que estão a fazer podas de correcção! A estes vale, que a dita estupidez, ainda é das poucas coisas não sujeitas a IVA neste país).

Por cá, entenda-se na Covilhã, todos os anos assistimos a este espectáculo. Este ano, por exemplo, decidiram embirrar com os plátanos que ladeiam a estrada que liga esta cidade ao Tortosendo, como no passado fizeram o mesmo aos que se encontravam no Canhoso; mutilados foram também dois plátanos situados junto ao novo jardim da Ponte Mártir-in-colo, que embora sendo ainda jovens, se mostravam bastante vigorosos e com uma copa bastante harmoniosa.

Neste caso, como em tantos outros, tudo resulta da falta de planeamento, ou seja, plantam-se árvores próximas umas das outras e depois tenta-se resolver o "problema", cortando, quase literalmente,o mal pela raiz.

Na cidade, por mutilar, resta praticamente o conjunto magnífico formado por 3 plátanos à beira da estação de caminhos-de-ferro. Até quando?

http://sombra-verde.blogspot.com/2006/08/nem-todos-os-pltanos-se-abatem.html

Frederico, obrigado pela citação (ainda que, assumo, involuntário). Mantive o blogue "sombra verde" ativo vários anos e um dos motivos (não foi o único...) que me levou a deixar de escrever foi sentir que esta questão das podas em meio urbano não tem remédio.
Isto chegou ao ponto de, no ano passado, ter ido uma discussão nas redes sociais com alguém que defendia a rolagem de plátanos numa via em grande parte urbana, nos arredores da Covilhã, como uma medida abrangida pela Lei 76/2017, a tal lei ao abrigo da qual se têm cortado tanto árvore monumental com a pretensa desculpa da proteção contra incêndios.
 
Em Portugal o cipreste (Cupressus sempervirens) é cultivado desde pelo menos o tempo do Império Romano. A população associou a árvore aos cemitérios e muitos portugueses não querem o cipreste nos seus jardins e ruas pois pensam que dá azar. No entanto, noutros países europeus a árvore é amplamente usada em jardinagem.

Os romanos cultivavam o cipreste junto às estradas e a tradição permanece em Itália,como se vê neste caminho rural da Tuscânia:

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A árvore também é muito utilizada no jardim italiano, francês ou grego, como neste jardim em Como.

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Mas em Portugal ficou associado aos cemitérios, especialmente no Sul do país.

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O cipreste é uma árvore muito elegante.

Além das colinas com vinhas, essas alamedas de ciprestes ladeando caminhos rurais são um dos cartões postais da Toscana. A própria Via Appia também é ladeada por ciprestes.
Diria que, a par do pinheiro manso, o cipreste é a árvore símbolo de Itália.

Em Portugal de facto onde se vê mais ciprestes é nos cemitérios, mas já vão aparecendo em jardins públicos e em jardins de moradias privadas. Em contexto natural a sua presença é mais rara.

Sim, o cultivo do cipreste junto a caminhos é reflexo da presença romana, veja-se as ruínas de Miróbriga.
 
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