Frederico,
Vou explicar-te a razão de porque vês a mimosa sempre junto às bermas. Não é acção humana, é algo natural.
A mimosa é uma espécie pioneira e fixadora de azoto. Naturalmente está adaptada para ser a primeira espécie a crescer quando o solo fica de tal forma exposto, que perde a fertilidade. Isso acontece quando por exemplo, o solo é queimado, destruído durante a construção de uma estrada, ou quando o solo é lavrado de forma tão excessiva que perde a maioria da sua fertilidade.
Daí que vejas estas espécies oportunistas, pioneiras, a crescer em zonas queimadas, nas bermas das estradas (a seguir à sua construção) e muitas vezes nas cidades quando existe uma construção de um novo edifício. Ou em solos plantados com eucalipto, já que o eucalipto empobrece muito a fertilidade do solo, ao contrário do carvalho ou de árvores folhosas. A mimosa, ou a acácia, como são fixadoras de azoto, são a tentativa da natureza de corrigir o problema de fertilidade destruída. Na natureza, estas espécies são espécies pioneiras e fixadoras de azoto.
Outra coisa é que estas espécies (como a mimosa) acabam por reduzir-se e muito, durante a sucessão ecológica, que ocorre nas décadas posteriores, se não ocorrer mais nenhuma perturbação desse solo. O carvalho, castanheiro e outras nativas acabam por crescer após a mimosa e após décadas fazem sombra, o que vai matar a mimosa, que entretanto contribuição para a fertilidade do solo, que é necessária para o carvalho e outras espécies nativas se poderem estabelecer. Como vês, Frederico, este é o ciclo natural de um processo que se chama sucessão ecológica.
A mimosa é impossível de eliminar. É importada mas é a árvore em Portugal (neste momento) mais adaptada ao empobrecimento que os solos portugueses têm (causados quase só por acção humana) e também é a árvore mais adaptada ao nosso clima neste momento (mais ainda que o carvalho que entretanto sofre também com o aquecimento do clima e redução da precipitação). Daí que eu espere uma verdadeira explosão da mimosa a seguir-se ao cultivo massivo de eucaliptos que empobreceu os solos portugueses, ou dos danos causados ao solo como os resultantes da agricultura e construções de infraestruturas.
falando de soluções, a solução pode passar por arrancar algumas mimosas sim, mas esse processo em si é um pouco sem consequência (as mimosas acabam por voltar, porque deixam no solo um banco de sementes formidável, prontas a germinar após o próximo fogo ou revirar do solo). Mais eficiente e sendo planeamento de longo prazo é plantar folhosas nativas nos sítios em que a mimosa cresce presentemente. E sobretudo impedir os fogos! E claro que além dessas acções críticas, também se pode ir arrancando, cortando a mimosa (se possível deixando a rama no solo após o corte, já que esta acrescenta fertilidade ao solo, e nunca vai gerar novas plantas). Pode ser esse o trabalho das autárquias. Outras árvores como o castanheiro, sobreiro, etc, cresceriam bem, além de produzirem comida ou recursos de valor (e podem produzir madeira igualmente)- E claro há muita mais diversidade que pode ser plantadas além de carvalhos e castanheiros, árvores e outras plantas. E isto sim é verdadeira sustentabilidade e planear o futuro, com pés e cabeça.
E concordo com o dizes. Em Portugal há erros ambientais gravíssimos. E a gestão dos parques naturais é maioritariamente uma paródia. A do Gerês é vergonhosa como dizes. Não se pode deixar perder mata original, esses valiosos carvalhais, num parque nacional. Têm que haver mais motivação por parte das autoridades competentes e mais sensibilização. E sim, haver áreas sem acesso humano.