Chuva e vento varrem o país e tiram o teto a 92 pessoas
Chuva intensa e vento forte açoitaram o país, este sábado, numa combinação que desalojou dezenas de pessoas e afetou a navegação por mar, ar e terra.
A Proteção Civil contabilizou, até às 20 horas, 8205 ocorrências num país em pantanas, assolado por uma tempestade onde não faltou, sequer, um pequeno sismo ao largo de Aljezur, no termo de um dia caótico. Além de arrancar árvores e destruir muros e colheitas, carros e infraestruturas, provocou inundações, cortou energia elétrica e telecomunicações, fechou as barras à navegação, desviou aviões, fechou linhas de comboio e parou autoestradas. E deixou sem teto pelo menos 92 pessoas.
A maioria em Peniche, cujos serviços sociais tiveram de realojar 60 na Casa Municipal da Juventude. As frágeis construções de madeira e plástico onde moravam 26 famílias foram impotentes para suster a ventania que fustigou o território nacional a 130 quilómetros por hora, acompanhada de bátegas que arrancaram o telhado de zinco de uma casa no Moinho de Vento, Elvas, desalojando o casal residente e o filho. Em Tomar, o vento levou a casa de duas pessoas, uma delas com deficiência, realojadas pelo serviço municipal; ocorrência semelhante deixou sem teto outra pessoa em Abrantes.
Minho varrido
O Minho também não foi poupado, com os deslizamentos de terras e cheias a expulsarem de casa pelo menos 27 pessoas. Em Guimarães, oito famílias, congregando cerca de 20 pessoas, ficaram em casa de familiares e hotéis devido às cheias do rio Ave, na zona em que divide as freguesias de Silvares e Brito. Emília Faria, de Silvares, foi uma delas; acordou às 2.45 da madrugada com o miar dos gatos e já a água estava a 20 centímetros. Pegou "no que estava à mão" e saiu a correr. Não teve tempo de trazer os animais: "A água chegou a meio metro e não tinha onde meter as coisas. Foi roupa, mobílias, frigorífico, perdi tudo". Com 76 anos, não se recorda de inundação assim e tão nefasta.
Em Carapeços, Barcelos, a queda de um muro de suporte, na noite de sexta feira, danificou uma casa de Carapeços, Barcelos. Os seis membros da família residente pernoitaram em casa de familiares. Técnicos da Autarquia avaliaram, ontem, a segurança do muro que pende sobre a habitação.
"Sempre tive medo deste muro, aqui pendurado sobre as casas", dizia Domitilia Coutada, lamentando os prejuízos. "Tinha ali os coelhos e os frangos. Nem lenha tenho para o fogão", lamentou a moradora de Pernido que, com filhos e noras, dorme em casa de familiares. No mesmo concelho, houve necessidade de evacuar casas em Lama e Airó.
No Alto Minho, uma viúva solitária foi realojada devido à derrocada que lhe atingiu a casa. Matilde Barbosa, de 73 anos e moradora no lugar de Cotos, Crasto, Ponte de Barca, dormia quando, pelas 2 da madrugada, um deslizamento de terras lhe entrou casa adentro. "Oh!, meu Deus! Eram portas no chão, tudo virado, assustei-me. Não hei de ter medo? A casa não foi abaixo, mas foram as portas. Para voltar lá, vão ter de ser arranjadas", disse. As portas de Matilde e praticamente o país inteiro.