Reintrodução do corço vai melhorar dieta dos lobos da Serra do Montemuro
25/06 2011 às 15:27
A Serra do Montemuro, no distrito de Viseu, está a ser palco de um projecto de reintrodução do corço, espécie popularmente conhecida por bambi, para que os lobos tenham presas naturais e deixem de se alimentar de animais domésticos. O conjunto montanhoso constituído pelas serras de Montemuro, Gralheira, Arada e Freita alberga as mais importantes alcateias em Portugal a sul do Douro e é também ali que se encontram as populações de lobo mais meridionais de toda a Europa, avança a agência Lusa.
É por isso que a Associação de Preservação do Habitat do Lobo Ibérico (ACHLI) está a arrancar com um projecto que passa por devolver o corço - este cervídeo é, em Portugal, uma das principais presas naturais das alcateias - à Serra de Montemuro. Neste esforço estão ainda envolvidas as universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e de Aveiro (UA), autarquias e associações de caçadores da região.
Gonçalo Brotas, dirigente da ACHLI, um dos responsáveis que lida mais de perto com esta fase de reintrodução do corço no Montemuro, lembra que, para além do equilíbrio ecológico, evitar os conflitos com origem nos ataques de lobos a animais domésticos é "uma parte importante do projecto".
Neste momento, o trabalho de campo passa por avaliar as áreas de maior potencial para a reintrodução do corço, espécie que habitou estas paragens até há cerca de 200 anos, sendo a parte mais visível a existência de um cercado onde alguns animais servem para testar a sua adaptabilidade à região.
Mas é para proporcionar presas naturais ao lobo que este projecto de reintrodução do corço nasceu, como explica o dirigente da ACHLI: "Nesta região, o lobo depende muito dos rebanhos e faz sentido a reintrodução de presas naturais porque as alcateias preferem estas aos animais domésticos".
A ACHLI é financiada pelas empresas que exploram energia eólica, que, devido à instalação de parques em áreas importantes para a preservação do lobo, estão obrigadas a contribuir para um fundo destinado à sua preservação. E é também com o apoio do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (UA), sob o olhar do professor Carlos Fonseca, que já esteve por detrás do sucesso da reintrodução do corço na Serra da Lousã, há mais de uma década, que o projecto do Montemuro segue o seu caminho.
Nesta região, o facto de não haver presas naturais suficientes - como o corço, que foi extinto, ou o javali, que há mas é escasso -, "faz com que o lobo baseie a dieta em animais domésticos, devido à presença de grandes rebanhos, alguns com mais de 2.000 animais", adianta Carlos Fonseca. O professor da UA adverte, no entanto, que o processo de reintrodução "não pode ser encarado com simplicidade" porque "há exemplos que correm mal por isso".
"É preciso seguir um plano, trabalhado no campo, perceber quais são os bons sítios, definir áreas e, após as questões genéticas, sanitárias e legais estarem resolvidas, a reintrodução pode demorar dois anos", aponta. O corço é, de todos os cervídeos, "o mais esquivo" e, nota ainda o docente da UA, "é muito difícil observar na natureza". Ao contrário do veado ou do gamo, é muito tímido. Esta informação, refere ainda Carlos Fonseca, "é também importante para integrar as populações locais neste esforço".