Após furacões, Cuba enfrenta grandes problemas econômicos
Após a passagem de dois fortes furacões pela ilha em pouco mais de uma semana, Cuba enfrenta atualmente um drama econômico, enquanto crescem os relatos dos membros do Governo do general Raúl Castro sobre prejuízos e a gravidade da situação. O sol saiu hoje no oeste de Cuba, já fora da área de influência do furacão "Ike", mas as conseqüências de sua passagem ainda deixam um panorama muito escuro em um país que começa a ficar consciente do desastre em termos de destruições a casas, agricultura e infra-estruturas.
"É um dos piores dramas que este país já viveu do ponto de vista econômico", disse à Agência Efe um economista cubano. A ministra interina de Agricultura cubana, Carmen Pérez, foi contundente ao afirmar que agora é preciso potencializar os cultivos de ciclo curto, porque isso possibilita que os cubanos possam ter comida nos próximos meses, segundo informa hoje o jornal "Granma", órgão oficial do Partido Comunista de Cuba.
Cuba importa 80% dos alimentos que consome, que custariam cerca de US$ 2 bilhões este ano a mais, número que pode ser ainda maior dependendo dos danos causados no setor agrário, especialmente nas províncias de Havana, Ciego de Ávila e Matanzas. A destruição deixada pelo furacão "Ike", entre domingo e quarta-feira, e "Gustav", em 30 de agosto, poderiam custar de US$ 90 milhões a US$ 135 milhões, segundo cálculos da imprensa local. No entanto, a tempestade tropical "Noel", de poder destrutivo muito menor que os dos furacões, causou perdas de US$ 500 milhões no leste de Cuba, segundo notificou o Governo em novembro.
Atualmente, ao longo da ilha se vêem centenas de milhares de hectares completamente arrasados e "prejuízos consideráveis" em produtos como banana, café, mandioca e milho, além de danos à avicultura e armazéns. Os balanços preliminares contabilizam pelo menos 340 mil casas danificadas - entre elas cerca de 30 mil completamente destruídas - em um país com um déficit reconhecido de um milhão de casas e onde há cada ano cerca de 50 mil novos imóveis.
O golpe para o setor do açúcar também parece grande. Províncias importantes como Holguín e Las Tunas foram muito castigadas pelo furacão, assim como Granma, onde as chuvas causaram grandes inundações. Além disso, há as perdas na indústria e na mineração, especialmente de níquel, cuja produção está paralisada, embora os danos não sejam tão grandes, segundo fontes consultadas pela Efe.
O país continua praticamente paralisado por uma semana como conseqüência das evacuações e porque a eletricidade e outros serviços ainda não foram restaurados em muitos pontos da ilha. Tudo ocorre menos de um mês e meio depois que o presidente cubano previu um sombrio panorama econômico mundial e advertiu aos cubanos sobre más notícias sobre o assunto. O primeiro vice-presidente cubano, José Ramón Machado Ventura, reconheceu que a economia nacional, já muito precária antes da passagem dos furacões, sofre atualmente "um golpe muito duro". Ventura pediu a seus compatriotas que sejam "racionais e eficazes" na aplicação das medidas previstas na fase de recuperação vivida pelo país.
Já o vice-presidente Carlos Lage declarou, em reunião em Pinar del Río, província pela qual passaram os dois furacões, que "a recuperação levará tempo e demandará recursos". O ex-presidente Fidel Castro afirmou, em carta divulgada na quarta-feira, que é tempo para "a análise dos fatores objetivos, o uso racional (...) dos recursos materiais e humanos, que deve tornar-se concreto em cada lugar". Até mesmo o 2º Festival Jam Session, presidido pelo pianista cubano Chucho Valdés, que teria início nesta quinta-feira, foi suspenso devido aos graves efeitos do furacão "Ike" deixou na ilha, informaram hoje seus organizadores. O festival tem sua sede no balneário turístico de Varadero, situado na província ocidental de Matanzas, também impactada pelo devastador furacão.
O Festival Nacional de Teatro, que acontece na cidade de Camagüey, programado para 12 a 21 deste mês, também teve que ser adiado, segundo informou à imprensa local o presidente do Conselho Nacional das Artes Cênicas, Julián González.
clicabrasília
FAO pede ajuda urgente para Haiti após furacões
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) lançou hoje um apelo para conseguir US$ 10,5 milhões para ajudar o Haiti. O país ficou com grande parte de suas terras agrícolas inundadas, após a passagem de quatro tormentas tropicais. O país sofreu com as tempestades Fay, Hanna, Gustav e Ike, em uma rápida sucessão, durante o período mais importante de crescimento das colheitas. Como resultado, toda a produção dessa safra foi perdida ou seriamente afetada.
Os fundos servirão para restabelecer os meios de subsistência dos camponeses, reativar a produção de alimentos e combater a propagação de doenças em animais, informou um comunicado do órgão da ONU. Segundo avaliações ainda não concluídas, o dano no setor agrícola se estende por nove dos dez departamentos (Estados) do país. As colheitas de milho, sorgo, feijões, mandioca e batata, assim como as plantações de bananas, foram destruídas pelas inundações, pela erosão e pelos deslizamentos.
Mais de dois mil cabeças de gado se afogaram e é necessário reconstruir quilômetros de canais de irrigação e drenagem, bem como numerosas infra-estruturas rurais. Rodovias e instalações elétricas do país também foram destruídas. Esse é um fator que complica a recuperação do setor agrícola e a comercialização de seus produtos. Teme-se que os principais afetados sejam os pequenos agricultores. Esse fator deve gerar graves problemas para a população em geral, sobretudo os mais pobres.
Os furacões tiveram um grande impacto sobre os camponeses e as comunidades rurais no Haiti. Mais de 50 mil pessoas perderam o acesso a suas fontes usuais de alimentos e também seus meios de subsistência. O Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental e já sofre com uma falta crônica de alimentos para parte da população. A situação ainda é agravada pelas altas dos preços dos alimentos no mundo todo.
A Tarde