Eu não disse em nenhum lado que era uma ótima entrada continental, apenas quis complementar o meu primeiro post e não desvalorizar totalmente a saída, porque na minha opinião não era caso para isso. No entanto eu acho que nem vale muito a pena estarmos a ter esta discussão, porque eu duvido que esta saída não se trate de um devaneio do ECMWF, ou não estaríamos no tópico das previsões incomuns ou de sonho. Publiquei porque achei interessante a tendência que o ECMWF estabeleceu apesar da grande improbabilidade que havia.
É evidente que não é das melhores entradas continentais que já vi, e nisso estamos de acordo, e nesse ponto faço até um comparativo abaixo, com a entrada continental que tivemos antes do famoso dia 10 de Jan de 2010, as diferenças são claras, e o frio instalado na época foi mais, tanto aqui como na Europa, com uma iso de -4ºC aos 850hPa em todo o interior quando nevava, e havia alguma precipitação a chegar do Oceano, mas convém não esquecer que aquele evento deu cotas de neve inferiores a 300m, em muito locais a cota bateu nos 100m e menos, como se viu no litoral norte e noutros pontos.
Cá estão as duas cartas:
2010 (não consegui arranjar a carta do ECMWF para este dia, por isso fui buscar a carta do GFS):
2018:
Nesta carta, e reitero a minha opinião, a cota de neve (se houvesse precipitação) deveria rondar os 400m, há uma iso de -3ºC aos 850hPa em muitos locais do interior, e bastante frio aos 500hPa com uma iso de -33ºC, sendo que no extremo norte deveria ser inclusivamente mais baixa talvez também ligeiramente abaixo dos 300m, e eventualmente em alguns locais mais junto à fronteira onde se acumulasse mais frio, ainda agora o nosso colega joralentejano no dia 7 de Janeiro com aquela cut-off no interior espanhol viu umas amostras de neve, e o frio que o GFS modelava não era nada de mais, uns -30ºC aos 500hPa, e pouco menos que 0ºC aos 850hPa e essa cut-off também não foi originada tão pouco de uma entrada com muitos traços continentais.
Os eventos de neve com características continentais são muito mais imprevisíveis que as famosas entradas oceânicas, os modelos globais por norma não modelam muito bem as cotas, e acabam por ficar abaixo do previsto.
Agora e também a título comparativo, com uma entrada atlântica precisas de uns -4ºC aos 850hPa e -35ºC aos 500hPa para teres alguma neve acumulada aos 400m, enquanto que também dá para ter neve acumulada com menos frio em altura e numa entrada continental, do ponto de vista da precipitação é preciso ter sorte em ambos os casos, porque se em algumas situações o pós-frontal é insuficiente nas horas de maior frio, nas entradas continentais também é difícil arranjar instabilidade. Agora é natural que me digas que já viste mais neve com entradas oceânicas do que com continentais, mas para isso basta olhar para a frequência com que ocorrem as entradas continentais, e em quantas dessas houve instabilidade.