Para a seca não há solução mas tem de haver solução para a vida dos agricultores e criadores, e das condições de vida das populações das áreas atingidas, e se se disser que não há seca a afectar ninguém, que afinal no geral até está melhor do que algum antes, e não se insistir em contrariar essa ideia feita, o problema parece que cai no esquecimento de quem tem poder e tem que responder pelas responsabilidades que lhes estão incumbidas.
Solução não é, certamente, tentar calar quem está sempre a lembrar que o problema existe e não deixa de existir por o ignorarmos, porque neste país parece que é assim que os problemas não se resolvem, por ficarem esquecidos.
Temos opiniões dispares.
Em lado nenhum se disse que não havia seca. O que se disse, e não é mentira nenhuma, é que a norte do Tejo as coisas estão bem melhores que estavam o ano passado.
Generalizar a seca, como dizia em cima, é banalizar um problema que é real. Além do mais, neste momento, todas as capitais de distrito a norte do Tejo estão com precipitação acima da média para o mês de Junho, e com casos pontuais de enormes chuvadas - bastante noticiadas. Ou seja, a grande maioria da população, com memória meteorológica bastante seletiva, viu chover nos últimos dias.
E quando se fala: mas o Alentejo ou o Algarve estão em seca, a resposta é dura: "Mas aí é normal. Eles estão sempre em seca." Ententes?
O facto de termos praticamente todas as albufeiras do norte e centro acima dos 80 ou mesmo 90%, diminui ainda mais o entendimento "da seca". Mas as barragens e os seus gestores cumpriram, desta vez e de forma exemplar, a sua função, que foi armazenar a água no período (ainda que em alguns locais curto) em que choveu.
E atenção que houve lugares, mesmo no Alto Alentejo, onde a precipitação foi muito abundante, com escorrências significativas. Soubesse aproveitar/canalizar essa água para onde não choveu? Não!
Ano marcado pela pandemia e que reduziu altamente o turismo, uma das áreas que o PIB português mais depende, portanto, não é de surpreender.
Deve haver adaptação à nova realidade, é um facto, mas falar é fácil e num país onde muitos projetos nunca saem do papel, é ainda mais complicado as pessoas deixarem de estar dependentes daquilo que o tempo lhes dá. O que podem fazer? Desistem daquilo que sempre foi o seu sustento e que sempre gostaram de fazer?
As pessoas certamente vão até à última para conseguirem aguentar as consequências da seca. Só quem trabalhar diariamente na agricultura ou em criação de gado, sabe o quão dramática é a situação.
Como alentejano e tendo familiares que toda a sua vida têm trabalhado na agricultura, é de facto triste ver pessoas a rirem-se ou a negar uma situação que é claramente muito complicada. Depois vai-se ver e não percebem nada do assunto, mas enfim.
@joralentejano felizmente nem tudo é turismo. E não se pode desprezar a importância de empresas
que se modernizaram e estão em contra ciclo. Apesar da crise, da seca e da inflação.
O EDIA tem cada vez mais um papel relevante no Alentejo. Em 2022 saiu altamente penalizado com o galopante preço da energia. Abriram os olhos e lançaram concursos e projetos para aumentar entre 10 a 20 vezes a produção de energia fotovoltaica para se tornarem autossuficientes. Claro que vai levar anos. Mas quando assim for haverá energia para fazer chegar a água do Alqueva para muitas albufeiras a preços acessíveis. Levantar-se-á outro problema: fazer chegar água ao Alqueva (que não deverá chegar para tudo e todos). Isso serão outros quinhentos. Provavelmente só se tomarão medidas quando o gigante lago ficar vazio.
O
@Davidmpb deu algumas soluções possíveis que vão contra o que disseste: "desistir daquilo que sempre foi o seu sustento". Se não é sustentável, e se gostam do que fazem, então há que inovar. "Ah e tal, porque sempre assim foi." E se tivéssemos que sustentar/subsidiar todos os ardinas, lavadeiras, varinas, vendedores (videoclubes, enciclopédias) e telefonistas desta vida, como era?
Por norma a sociedade evolui quando enfrenta grandes dificuldades. Esperemos que sim.