Boas noites
A situação de amanhã apresenta alguma gravidade...
Destaco a situação bastante complicada para a agricultura, pois a previsão de celulas bastante fortes, com granizo e rajadas de vento localmente intensas, pode ser catastrofica para as plantas que agora estão em adientado estado de desenvolvimento dos frutos ou floração.
Caro Stormy (e restantes membros):
Queria pedir-vos uma reflexão sobre este assunto:
- admitindo que as previsões meteorológicas
a longo prazo, bem como a caracterização climática, podem ajudar tanto os agricultores como as seguradoras a estimarem e a gerirem riscos;
- sabendo que a natureza de um evento como o que se desenha para o final da semana (células, granizo, possibilidade de mesociclones)
não se enquadra com qualquer tipo de reacção útil por parte de um agricultor para proteger as suas culturas;
- podem, no entanto, ser motivo de alerta para os serviços de protecção civil;
Porquê dar ênfase ao facto de que a queda de granizo ou saraiva podem ser catastróficos para a agricultura? Ou mesmo ventos fortes? A alguns dias do possível evento, nada se pode fazer. Os agricultores devem gerir o risco ao planear a sua actividade (com ou sem o recurso a seguros financeiros), com meses de antecedência. Quando a "catástrofe" ocorre, já nada se pode fazer! Quem geriu bem o risco pode perder alguns campos ou culturas mas salvar outros, ou receber o dinheiro do seguro. Quem não o fez pode perder tudo. Acontece. Também é gestão de risco admitir que num ano se perca tudo, se nos anos anteriores se economizou para essa eventualidade (história das vacas gordas e das vacas magras).
De alguma forma, sinto que os portugueses têm inculcada na cabeça a ideia de que os pobres agricultores são constantemente vítimas de adversidades atmosféricas. De que os coitadinhos têm que ser ajudados pelo Estado. E se o Estado vai na cantiga (fica muito bem ajudar os coitadinhos, é popular e até nem custa tanto) uma parte dos nossos agricultores ficarão eternamente na infância sem saberem que é possível eles próprios gerirem o seu risco, muito menos como o fazer. Outra parte, os que sabem gerir o risco mas também sabem chorar quando faz falta, esfregam as mão de contentes porque conseguem receber "ajudas" de que não precisam.
Uma geada é um fenómeno que tem um determinado período de retorno, de acordo com cada região e com a época do ano. É possível planear a longo prazo uma exploração sabendo que, em cada cinco anos, um pode ser de perdas dramáticas. Antes de tudo, é possível determinar que culturas podem ou não ser desenvolvidas numa região com risco de geadas. Os anos sem geadas devem cobrir o risco de que haja tal número de anos com geadas.
Os fenómenos extremamente raros (períodos de retorno de muitos anos ou décadas) são isso mesmo, extremamente raros. Muitos não acontecem mais do que uma vez numa vida, por exemplo, um tornado destruir uma estufa.
Quando as adversidades se sucedem em ciclos curtos, algo está mal com o planeamento, há que adaptar-se! É verdade que o clima mediterrânico é mais imprevisível do que o clima temperado do centro da europa, mas isso tem que entrar nas contas do agricultor, ainda que leve à inevitável conclusão de que uma boa parte das culturas são impossíveis em Portugal, por não darem boas garantias a longo prazo.
Não devem ser sustentadas más práticas agrícolas pelo Estado, com subsídios ou compensações. Se as seguradoras aceitarem fazer o seguro, é porque o risco é comportável, se nem as seguradoras aceitarem, é porque o plano da exploração está mal adaptado à realidade.
Etc... etc.. etc... Enfim, tudo isto para dizer, mais uma vez, sem detrimento da solidariedade de cada um quando as catástrofes acontecem, que é preciso acabar com os guarda-chuvas e deixar que a nossa agricultura cresça e amadureça. Isso só será possível quando os agricultores tiverem que assumir as suas responsabilidades nas consequências das adversidades meteorológicas.
É claro, já sabemos, também, que
-
uma boa parte da imprensa portuguesa já tende a ser irresponsável (numa atitude sensacionalista e reaccionária em que interessa mais produzir quaisquer conteúdos vendáveis do que vender conteúdos razoáveis);
Já imaginaram se um jornalista perguntasse a um agricultor, a quem uma saraivada destruiu os cereais, se tinha economizado o suficiente nos anos anteriores para essa eventualidade? E se, ao receber uma resposta como "não tenho rendimentos suficientes para economizar" lhe perguntasse... "Então porque não muda de ramo?"
Penso que é o género de atitude que deveria ter a sociedade como um todo... Sem excluir a solidariedade, cobrar responsabilidade.
E isso, caro Stormy, não se consegue sofrendo antecipadamente com os agricultores que possam vir a ser afectados por possíveis ocorrências de trovoadas, granizo ou mesociclones.
Claro que passar esta mensagem é mais difícil e demorado (perdoem-me, por isso, que por tê-lo tentado tenha chegado a um tão
longo off-topic... É mais rápido e tem mais impacto destacar situações complicadas... Gritar que vem lá a tempestade...
Por isso, para concluir, apelo a quem tiver paciência, tempo e latim para
perder que equacione sempre a utilidade de lhes
dar uso...