A divergencia tem a ver com o Rafael...
Tem, de facto:
As diferenças a partir de dia 20 entre ECMWF e GFS são avassaladoras, com o GFS a manter a previsão da manutenção da instabilidade (nas últimas saídas de maneira bastante intensa) até próximo de dia 25, enquanto que o ECMWF, apesar de já não ter a dorsal mesmo em cima de Portugal continental, como tinha nas duas saídas operacionais de ontem, está bastante mais seco que o modelo americano. Ambas as saídas operacionais estão relativamente bem sustentadas pelo respectivo ensemble, e como é habitual, temos o GEM em sintonia com o GFS, e o UKMO em sintonia com o ECMWF.
Apesar de por aqui a divergência só se verificar a 120 horas, o momento decisivo ocorre a cerca de 72 horas, e passa pela interacção do Rafael, junto à costa este do Canadá, com uma depressão polar. Estas situações são de modelação complicada, tivemos há cerca de um mês algo similar com a Nadine nos Açores.
Mas vejamos a diferença, a 72 horas:
GFS (à esquerda) coloca a TS Rafael a deslocar-se rapidamente para norte, situando-se já à latitude de Nova Iorque, enquanto que o ECM (à direita), mantém-na ainda bastante a sul, à latitude da Florida:
24 horas depois, o GFS já extratropicalizou por completo o Rafael, enquanto que o ECMWF mantém-na (já bastante fraca) totalmente independente da circulação global. Graças à ciclogénese na Terra Nova, que o GFS mostra, causada pela interacção do Rafael com a depressão polar, a dorsal é impedida de subir na costa este americana, já no ECMWF, essa dorsal começa a aparecer, impulsionada por uma outra depressão polar presente nos estados do Mid-west:
A 120 horas, o GFS já tem a depressão da Terra Nova menos profunda, o ECMWF ainda mantém o Rafael no Atlântico oeste. Ambos têm uma perturbação a dirigir-se para os Açores, bastante mais vincada no GFS onde é o sistema dominante e vai interagir com a depressão situada na Irlanda, que vai originar a frente de dia 18, enquanto que no ECMWF, o sistema dominante é o originado pelo remanescente do Rafael:
Consequências disto tudo, a ciclogénese no Atlântico que se sucede, ocorre segundo o GFS a este dos Açores e afectará o continente português poucas horas depois, induzindo um fluxo muito perturbado e húmido de sul, enquanto que para o ECMWF a ciclogénese ocorre a oeste dos Açores, não só pela presença do remanescente do Rafael, como também pela advecção de ar frio polar pelo anticiclone que se formou na costa leste da América, devido à subida da dorsal que se iniciou às 96 horas:
Em conclusão, pode-se dizer que os modelos convergirão em poucas horas, assim que resolverem a questão da extratropicalização do Rafael. Geralmente, o GFS e o GEM modelam bastante melhor estas situações, portanto inclino-me mais para estes dois modelos, apesar de nas últimas vezes em que houve uma grande divergência na modelação de uma extratropicalização tenha prevalecido a opção que apontava para a manutenção dos dois sistemas independentes por mais tempo, algo que prevêem de momento os modelos europeus.