Caro Micael Gonçalves,
Enfim... no Portugal do século XIX e início do século XX o grande causador dos incêndios eram os matagais e os baldios ao abandono... arborizaram-se os matagais e depois a culpa dos pavorosos incêndios passou a ser dos pinhais... Substituiram-se os pinhais por eucaliptais e agora a culpa dos incêndios é dos eucaliptos...
MAS NINGUÉM NOTA AQUI UM PADRÃO???!!!!
Esse dito padrão, não passa de um profundo desconhecimento e tentativa de enriquecimento das populações, que levaram a uma falta de planeamento florestal colossal, e para além disso, que preocupação têm as pessoas e os madeireiros com o ambiente?
Mas não tapemos o sol com a peneira relativamente ao poder inflamável do pinheiro e do eucalipto, e às capacidades destrutivas dos ecossistemas deste último. E como o
@Micael Gonçalves referiu, uma floresta monocultural não é por certo uma floresta que suporte um ecossistema saudável e bem estruturado. A questão, é que à luz das necessidades dos tempos modernos, a população e os empresários, não conseguem subsistir sem a plantação desmesurada de eucaliptos e pinheiro para a exploração da pasta de papel, e para a comercialização de madeiras a diferentes níveis.Talvez não seja solução acabar repentinamente e por completo com o eucalipto, mas continuar a plantar sem o mínimo de cuidados ao nível de planeamento florestal só porque sim, é que não parece solução. A solução talvez passe é por estudar outras espécies que não sejam tão prejudiciais como o eucalipto, mas que possuam uma rentabilidade aceitável.
As populações possuem um profundo desconhecimento ao nível das ciências florestais. Como exemplo concreto, dou o caso das plantações de castanheiro, vejo por vezes grandes plantações de castanheiro a altitudes baixas, e os proprietários a queixarem-se de que mais valia terem plantado eucalipto ou pinheiro, porque passados alguns anos as árvores secaram... esquecendo-se que na verdade o castanheiro só devia ser plantado altitudes relativamente elevadas, talvez altitudes superiores aos 700m, para evitar as pragas e doenças. Mas para além destes casos de ignorância que desmotivam as populações a plantar árvores autóctones, há aqueles que entendem e se fazem de desentendidos e preferem continuar a agir sem o mínimo de cuidados nas suas propriedades. Outra coisa que a mim me parece indiscutível é a resistência que as árvores autóctones oferecem aos incêndios, não sei como está a lei a este nível mas para mim devia ser obrigatório plantar pelo menos um mínimo de árvores autóctones por uma certa área de terreno, e se possível usá-las como proteção para os incêndios, estudando convenientemente as formas de planeamento florestal. Sei que nem todas as pessoas têm posses, verbas ou saúde para levar um projeto destes avante, mas no passado os governos já deram incentivos à limpeza das matas e afins, e não se viu nada, alguém deve ter enchido os bolsos mais uma vez. Mas ainda bem que se fala agora nesses casos na anexação dos terrenos para o estado, veremos é que cuidados eles terão após os anexarem.
Mas voltando ao eucalipto.... Para além da propagação de incêndios, os eucaliptos trazem outros perigos para o futuro e o presente dos ecossistemas. Como se sabe os eucaliptos não são originários do nosso país, e mesmo os pinheiros só deveriam fazer parte da faixa costeira portuguesa, mas realmente por questões de rapidez de crescimento e dinheiro, o nosso país virou uma área eucaliptal e de pinhal, o que veio dar origem à destruição progressiva da comunidade clímax dos nossos ecossistemas. Em termos de sucessões ecológicas estima-se que certas florestas portuguesas se tenham formado após cerca de 150 anos, e infelizmente aquilo que fazemos com os incêndios ou com a plantação das espécies que referi acima, é levar os ecossistemas a regressar a sucessões secundárias, os quais terão de evoluir de novo de de uma comunidade pioneira ou de uma comunidade muito ténue e levar mais cerca de 150 anos a atingir comunidades mais complexas até à comunidade clímax. O eucalipto é uma árvore que através dos seus óleos voláteis, entra em combustão com as elevadas temperaturas, mas não se fica só por aqui... O eucalipto traz sérios problemas ao solo, como a erosão e o empobrecimento do mesmo. A erosão é mais sentida nas encostas de montanhas ou de outras elevações onde o facto da folhagem destas árvores ser reduzida, permite a entrada de mais água para o solo, que deverá escorrer. Esta escorrência originará ao longo dos anos um processo de erosão que irá colocar a nu a rocha mãe, que permitiu após longos anos de transformações, dar seguimento às nossas florestas, falo desde os primeiros musgos e líquenes que geraram matéria orgânica, para que fossem evoluindo os primeiros arbustos, ervas, fetos e posteriormente abetos, carvalhos, vidoeiros, nogueiras etc. E associado à erosão e à escorrência de água, podem estar a associados os perigos de inundação/cheias. Não sei se já repararam na pobreza de biodiversidade das áreas eucaliptais.
É que não estamos na Austrália, onde os coalas tratam de se alimentar das folhas de eucalipto! Cá a realidade de um eucaliptal é um deserto verde, onde os insetos e microorganismos não proliferam por não conseguirem consumir ou decompor a matéria vegetal dos eucaliptos. Já as espécies vegetais não se atrevem também a competir com as necessidades excessivas de consumo de nutrientes dos eucaliptos, tais como potássio, cálcio, magnésio, nitrogénio, fósforo e água. Aliás as únicas espécies que parecem ainda se atrever nos eucaliptais, são os fetos que por si só também só complicam a propagação de incêndios. O excessivo consumo de água (causa do elevado tamanho destas árvores e da sua ótima adaptação a Portugal) em conjunto com estes nutrientes, empobrece o solo não permitindo que outras plantas se desenvolvam, e muitas das vezes este solo é também submetido à erosão. Por todos estes perigos pergunto se é assim tão viável destruirmos o passado secular das nossas florestas por motivos económicos, e colocarmos os nossos ecossistemas em tamanhos riscos.
Ainda bem que estão a ser tomadas medidas ao nível da reforma das florestas portuguesas e para o controlo do eucalipto, mas o mais provável é cair tudo em saco roto, como de costume, esperemos que não.
Peço desculpa por me ter alongado tanto, talvez esta mensagem devesse até estar colocada no tópico "Árvores e Floresta de Portugal".