Provavelmente apenas um lapsus-linguae ou até má transcrição jornalística, Pedro Viterbo é cientista com vasta obra publicada
(...)
Ontem dei comigo a pensar. "Tenho alguns conhecimentos de meteorologia e estes jornalistas são uns incompetentes. E se eles fizerem uma reportagem sobre outra área técnica, será que estou a ouvir a verdade?". Pois...
Ventos gélidos provenientes do Centro da Europa são responsáveis pela primeira vaga de frio deste Outono, que, na próxima madrugada, levará os termómetros a descerem aos três graus em Bragança e na Guarda.
Noites frias de bater o dente serão sentidas em todo o Interior do País. Em Beja, a temperatura mínima será, amanhã, de seis graus, tal como em Castelo Branco e Viseu. No Litoral, as noites permanecem mais amenas a Sul, com 11 graus em Lisboa e 14 em Faro. Contudo, a Norte do Cabo da Roca, o frio também será sentido: Leiria irá registar 4 graus, Braga, 5, e o Porto atinge os oito graus.
Segundo as previsões do Instituto de Meteorologia, os próximos dias reúnem "condições favoráveis para a formação de geada nas regiões do Interior" a Norte e Centro. O céu irá "permanecer pouco nublado ou limpo", pelo que a presença do sol ditará a manutenção de temperaturas máximas agradáveis em todo o território continental.
As previsões indicam que Santarém será a capital de distrito mais quente, com máxima de 24 graus, seguida de Setúbal (23 graus) e Lisboa, Leiria, Beja e Évora, com 22 graus. Temperaturas máximas inferiores a 20 graus só se irão registar em Trás-os-Montes e na Beira Alta, com 13 graus na Serra da Estrela e 14 em Bragança.
A descida de temperatura resulta da predominância de ventos de Leste, que, na sua passagem pelo interior da Península Ibérica, farão com que as temperaturas atinjam mesmo valores negativos em Segóvia, Salamanca e Soria (Espanha), com um grau negativo.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/noites-de-bater-o-dente
Quem me surpreendeu há uns tempos, por ter o assunto bem estudado, foi o Ricardo Araujo Pereira, que fez uma crónica muito gira sobre a "Meteoingenuidade" do pais em que vivemos:
Nobody expects the portuguese winter
Todos os anos, Portugal é surpreendido duas vezes: uma vez pelo Verão e outra pelo Inverno. Nunca estamos à espera deles. Para o resto do mundo, a natureza é cíclica, monótona e repetitiva. Para nós, é uma caixinha de surpresas. «Olha, lá vem o Verão outra vez. E não é que traz novamente muito calor, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às matas.
Ops!, tarde de mais, já está tudo a arder.» No Inverno, a mesma coisa.
«Olha, lá vem o Inverno outra vez. E não é que traz novamente muita chuva, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às sarjetas. Ops!, tarde de mais, já está tudo alagado.» E assim sucessivamente.
Nunca cansa. E, no entanto, imagino que os jornalistas usem sempre a mesma notícia. Há dois ou três pormenores que mudam, como a marca dos helicópteros que combatem o fogo ou o número de viaturas que são arrastadas pela enxurrada, mas o resto é igual: «Violento incêndio ali», «Fortes chuvas acolá». Até os adjectivos que qualificam as catástrofes são previsíveis: os incêndios são quase todos violentos e é raro as chuvas serem outra coisa que não fortes. Não há memória de fortes incêndios e violentas chuvas, por exemplo. Mas não é por isso que deixamos de receber as notícias com renovada surpresa. Temos dificuldade em acreditar que ainda não foi desta que a chuva deixou de causar os estragos próprios da chuva. É verdade que, este ano, a chuva deu novamente cabo das estradas e voltou a fazer vítimas, mas pode ser que, para o ano, chova mais civilizadamente. Todos os anos damos uma oportunidade à chuva. E, por um lado, ainda bem.
Não sei se consigo imaginar Portugal sem as calamidades. As calamidades ajudam-nos a organizar a vida. São pontos de referência. «Quando é que mudámos de casa? Foi depois dos incêndios de 91, porque eu já tinha o Citroën que foi levado pelas cheias de 94, mas ainda não tinha ficado sem a perna esquerda, que foi ao ar nos incêndios de 92.» Se as autoridades competentes começam a varrer as matas e a limpar as sarjetas, deixamos de ter a noção da passagem do tempo. Ainda vamos ter de comprar uma agenda. Com as calamidades, é dinheiro que se poupa.
E não só. Há gente cuja vida tem sido salva pelas calamidades. Gente que sobreviveu às cheias de 87 porque ainda estava no hospital a recuperar dos incêndios de 86. Gente que se salvou dos incêndios de 99 porque ainda tinha a casa alagada pelas cheias de 98 e usou a água para combater as chamas.
Enfim, gosto da esfera armilar, na nossa bandeira. Mas uma sarjeta entupida, entre o vermelho e o verde, também não ficava mal.
Boca do Inferno – Ricardo Araújo Pereira
In, http://my-nepenthe.blogspot.com
Tudo bem que os estragos foram avultados mas calma lá senhores, não foi nenhum furacão.
É preciso editar a imagem que o HotSpot fez há uns tempos