Nova “chuva de aves” nas estradas do Lousiana adensa mistério
Afinal, o mistério da “chuva de aves” parece ainda não ter terminado. Apenas dois dias depois de cerca de 5000 aves terem caído mortas no estado norte-americano do Arkansas, esta segunda-feira de manhã apareceram mortos 500 animais nas estradas no estado vizinho do Louisiana. Com dois dias de diferença e a cerca de 500 quilómetros de distância, 500 aves apareceram mortas numa estrada rural da região de Pointe Coupee, no Louisiana. Os especialistas foram apanhados de surpresa com mais este fenómeno e ainda não sabem o que causou a morte destas aves.
As autoridades do Arkansas e do Louisiana enviaram alguns animais para serem analisados por investigadores na Universidade de Geórgia e no Centro Nacional de Saúde da Vida Selvagem em Madison, no Wisconsin. Este centro recebeu 42 aves do Arkansas e começou ontem à tarde a realizar as necrópsias. Segundo o site do Channel3000, os investigadores recolheram amostras de tecido do cérebro das aves para ver se os pesticidas tiveram algum papel nestas mortes. Mas poderá demorar até uma semana a conclusão das análises às amostras que ajudem os cientistas a determinar a causa da morte daqueles animais. Hoje, o Centro de Madison vai começar a estudar cinco das aves que foram encontradas mortas no Lousiana.
Ainda não foi estabelecida nenhuma ligação entre os dois casos. "Os cientistas ainda estão a investigar o que aconteceu às aves no Louisiana e no Arkansas. Mas as primeiras informações indicam que estes incidentes isolados foram, provavelmente, causados por uma perturbação e desorientação", explicou em comunicado Greg Butcher, director de conservação das aves na Audubon Society, uma das mais antigas organizações norte-americanas de Ambiente.
Segundo o responsável, em teoria, "as mortes em massa de aves podem ser causadas por fome, tempestades, doenças, pesticidas, colisões com estruturas feitas pelo ser humano ou perturbação humana".
Especialista em recuperação de animais selvagens descarta pânico como a única causa - Ricardo Brandão, médico veterinário do CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens) em Gouveia, admite que é "estranho" morrerem tantas aves em tão curto espaço de tempo e afirma não ter "registo de uma mortalidade tão assustadora". As causas poderão ultrapassar o pânico sentido pelas aves. "Já temos visto aves que, perante uma situação de fogo-de-artifício, saem dos sítios onde estão a dormir e voam assustadas, mas estão vivas", acrescentou. Fazendo valer que não arrisca avançar explicações, Ricardo Brandão admite que "não seria de descartar a hipótese de doença" ou algo "que está a acontecer há mais tempo" e que tenha passado despercebido. O responsável lembrou o ano de 2002, quando o vírus do Nilo causou uma elevada mortalidade nas aves dos Estados Unidos, afectando sobretudo corvídeos.
No CERVAS não existem aves que padecem de stress. "Mesmo quando há incêndios e as aves sentem pânico, acabam por chegar a este centro por outras razões. Há sempre uma outra causa por trás", como por exemplo ferimentos. "Não é fácil interpretarmos as demonstrações de stress e pânico numa ave", considerou. De acordo com Ricardo Brandão, "segundo os casos que temos, as aves têm stress associado à nossa própria intervenção, quando chegam ao centro e nos aproximamos delas" para fazer um diagnóstico. Por exemplo, a águia-cobreira manifesta o stress deitando-se e agachando-se a um canto. "Temos aqui uma águia-cobreira há quatro ou cinco meses [em recuperação] que ainda se agacha quando chegamos perto".
Luís Costa, director da Spea (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), comentou ao PÚBLICO que este "é um caso estranho" e que o segundo episódio, no Louisiana "veio baralhar um pouco as coisas". "Os especialistas norte-americanos ainda não conseguiram perceber o que está a acontecer. Talvez tenha ocorrido uma mudança súbita na pressão atmosférica", opiniou.
"O destino das aves está ligado ao nosso" - Os animais encontrados mortos - tordos-sargentos ou pássaros-pretos-da-asa-vermelha (Agelaius phoeniceus), o estorninho-comum (Sturnus vulgaris), o corvo Quiscalus quiscula e o Molothrus ater -são espécies abundantes que se reúnem em bandos de milhares de aves para passarem a noite durante os meses de Inverno. A Audubon Society garante que está a acompanhar a situação. "Precisamos de estar atentos à evolução dos acontecimentos", disse Melanie Driscoll, da organização. "Mas se estes incidentes forem casos isolados, não representam uma ameaça significativa para as populações destas aves. Muito mais preocupante, a longo prazo, é a miríade de outras ameaças que as aves enfrentam, desde a destruição do habitat às alterações climáticas e espécies invasoras."
Neste momento, muitas das espécies mais comuns nos Estados Unidos têm as suas populações em decínio, "muito devido às actividades humanas", lembrou Butcher. "É vital que as pessoas tomem atenção a isto porque muitas vezes o destino das aves está ligado ao nosso. As aves respiram o mesmo ar que nós e fazem parte da mesma cadeia alimentar que nos sustenta a todos."
Helena Geraldes
PÚBLICO (Ecosfera)
ACTUALIZAÇÃO A 7 DE JANEIRO DE 2010:
Esclarecida a morte das aves nos EUA
Especialistas revelam que não há nada de sobrenatural na causa da morte das cerca de cinco mil aves que caíram dos céus na noite de passagem de ano, no Arkansas, EUA. Ornitólogos norte-americanos explicaram que a morte de milhares de aves na noite de ano novo resultou do choque com as casas, ao fugirem das árvores assustados, em voo baixo, devido ao
fogo de artifício.
Os ornitólogos - citados pelo jornal El Mundo - garantiram que o ocorrido nada tem de paranormal. Bem pelo contrário, tem uma explicação bem plausível. Segundo explicaram, este tipo de acidentes mortais de debandadas de aves ocorrem por todo o mundo.
Na sua origem, estão fenómenos naturais, como os meteorológicos, ou causas da actividade humana, como parece ter sido o caso, que perturbam os animais e os conduzem a situações de perigo. No que se refere ao Arkansas, as cerca de 3000 aves, na sua maioria turpiais e estorninhos, de pequeno porte, foram contra edifícios, carros e outras estruturas da cidade ao serem espantados pelos fogos de artifício de celebração do ano nova.
Os cientistas expllicaram que são aves que não voam à noite e dormem abrigadas, em grupo. Além do mais, as condições climatéricas naquela noite eram más, com fraca visibilidade e muito vento. Assim, assustados, os pássaros fugiram desnorteados e em voo baixo, o que os levou contra as edificações.
Habitantes da cidade de Beebe, no Arkansas, testemunharam o sucedido. "Ouvimos petardos e um minuto depois ouvimos os pássaros a bater contras as janelas", recordou um dos populares ouvidos pela Audubon Society, a autoridade máxima ornitológica dos EUA.
JN