Abutres subnutridos aproximam-se das pessoas em zonas urbanas no Alentejo
Medidas aplicadas em 2002 na sequência da doença das vacas loucas vieram contribuir para a escassez de alimento das espécies necrófagas nas regiões do interior do país.
Tornou-se um fenómeno recorrente no interior alentejano, sobretudo nesta altura do ano, o aparecimento de grifos poisados em praças e ruas dos centros urbanos apresentando evidentes sinais de subnutrição. A primeira reacção das pessoas é de medo, dada a corpulência desta ave, que tem contra si um imaginário ligado à morte. Isto acontece desde que a legislação comunitária determinou, em 2003, a recolha dos cadáveres de animais como medida profiláctica contra a transmissão de doenças como a BSE ou a tuberculose animal.
O efeito desta decisão passou a afectar as populações das três espécies de abutres existentes em Portugal: o grifo (
Gyps fulvus), o abutre-negro (
Aegypius monachus) e o abutre-do-egipto (
Neophron percnopterus), e de outras aves com hábitos necrófagos, nomeadamente a águia-imperial (
Aquila heliaca adalberti).
Assim, e à medida que as regras sanitárias se foram tornando cada vez mais restritivas, obrigando a que as carcaças dos animais mortos fossem retiradas dos campos para serem eliminadas, criou-se um problema grave de escassez de alimento para estas aves selvagens protegidas, forçando-as a procurar alimento em zonas habitadas.
O exemplo mais recente aconteceu em Reguengos de Monsaraz. Militares do Núcleo de Protecção Ambiental (NPA) recuperaram no dia 7 de Dezembro um grifo que foi encontrado na Zona de Peixinhos, Vila Viçosa, “apresentando sinais de subnutrição, o que não lhe permitia voar”, adiantou ao PÚBLICO o capitão Ricardo Samouqueiro, oficial de Comunicação e Relações Públicas do comando de Évora da GNR.
A falta de alimento está a potenciar, nalguns pontos do interior do país, ataques das aves necrófagas a crias de bovinos acabadas de nascer. Os produtores, alarmados, “recorrem ao abate das aves ou ao seu envenenamento”, denuncia Samuel Infante.
http://www.publico.pt/local/noticia...ximamse-das-pessoas-nas-zonas-urbanas-1717161