Mário Barros
Furacão
O ciclone de 15 de Fevereiro de 1941
O ciclone causou em Sesimbra grandíssimos desastres deixando a população na miséria
Muitos feridos e quatro mortos
"Não temos palavras que possam descrever a pavorosa catástrofe de Sesimbra, ocasionada pelo ciclone.
Sabemos apenas dizer que Sesimbra, no dia 15 do corrente, viveu um dos dias mais trágicos da sua vida.
Não há memória de tão grande cataclismo.
As pessoas mais idosas da terra não se recordam de tão violenta tempestade, mesmo o memorável S. Martinho de 1755, segundo ouviram dizer a seus pais.
O ciclone, na sua fúria, devastava casas, embarcações, árvores, postos telefónicos e telegráficos.
Homens, mulheres e crianças imploravam a Misericórdia Divina, para que a tempestade abrandasse, mas o temporal, inexorável e impiedoso, não cedeu aos rogos desta pobre e aflita gente, e, na sua acção devastadora, continuava cavando mais fundo o abismo desta terra, que ficou impossibilitada de exercer a sua faina da pesca.
O mar (...) tudo devastou, num ímpeto mortífero e destruidor.
Ondas alterosas vinham rebentar nos largos e ruas circunvizinhas à praia e estendiam-se pela parte baixa da vila.
Os estabelecimentos e armazéns à beira-mar foram inundados e todos os haveres arrebatados pelo mar.
O pavor apoderou-se dos sesimbrenses, quando viram que o mar já se estendia pela Rua Jorge Nunes e chegava ao Largo do Município.
Nesta ocasião, registaram-se actos de heroísmo de muitos homens, que, desprezando suas vidas, se lançaram com ferocidade no salvamento de pessoas que eram arrastadas pelas ondas.
Entre eles, contamos João dos Santos Laureano, que, junto ao sítio da Califórnia, salvou, entre adultos e crianças, 8 indivíduos. Carlos Ribeiro, o conhecido nadador sesimbrense, que muitas vidas salvou, mereceu os maiores encómios da população.
O vento, com uma velocidade apavorante, impedia os trabalhos de salvados e, assim, perderam-se centenas de embarcações e muito tráfego de pesca.
Pescadores, que tinham as suas pequenas indústias de pesca, ficaram na miséria.
Os Bombeiros Voluntários prestaram assinalados serviços de salvamentos e transporte de feridos para o hospital.
O seu material teve uma acção beneficente no esgotamento das casas inundadas de na remoção de escombros, tendo até descoberto o cadáver do inditoso pescador Emílio Gonçalves Correia, de 38 anos, que ficou soterrado junto ao prédio da Sociedade Musical Sesimbrense.
A esplanada do Atlântico ficou completamente destruída. A casa onde funcionava a sopa aos pobres, bem como a propriedade dos herdeiros de João Casimiro Rosa, tiveram a mesma sorte.
Muitas outras famílias ficaram sem lar, por o ciclone lhes ter derrubado as suas habitaçãoes.
O resto do pequeno paredão que existia em 'Angra' foi também destruído pelo mar, e as embarcações que lá se encontravam, poucas foram as que escaparam à fúria dos elementos.
A Avenida Mar e Sol também ficou muito danificada.
Há quem avalie os prejuízos causados em 6 mil contos (...)
Mortos
Nesta horripilante catástrofe, perderam a vida: Primo António Nero, de 48 anos de idade, que deixa viúva a sr.ª Maria do Rosário Ferreira e dois filhos; Emílio Gonçalves Correia, de 38 anos, que deixa viúva a sr.ª Mariana Rosa e oito filhos, tendo o mais novo 17 meses; Joaquim Pedro Gomes, de 43 anos, que deixa viúva a sr.ª Assucena Ambrósio Gomes; Amaro Morais, de 59 anos, que deixa viúva a sr.ª Sofia Amélia Morais.
Devemos salientar aqui, também, as acções dos ex.mos Drs. Manuel José da Costa Junior, Alberto Augusto Leite e Manuel Florentino Matias, que foram incansáveis nos socorros prestados aos feridos, principalmente o dr. Matias, médico da Casa dos Pescadores.
Também muitas outras pessoas prestarm socorros aos pescadores, sendo justo salientar aqui o sr. dr. António Bernardo Ferreira, Conservador do Registo Civil.
A consternação é geral
As Direcções das colectividades recreativas, bem como o sr. João Batista Mota, empresário do Salão Recreio Popular, atendendo à consternação que lavra entre a população de Sesimbra, resolveram não realizar, este ano, bailes de máscaras, apesar de terem já efectuado contratos com grupos musicais (...)
No campo
Torna-se imposssível, por enquanto, descrevermos os estragos que o ciclone causou na freguesia do Castelo.
Todavia, sabemos, embora resumidamente, que a maioria das sementeiras foram devastadas, que milhares de árvores foram derrubadas, que muitas casas foram destruídas, etc.
Um verdadeiro pavor!
A miséria alastra-se, com todos os seus horrores, não se prevendo qual seja a sorte de Sesimbra."
Cabo Espichel
"O ciclone que desabridamente assolou o país causou, nesta região e arredores, muitos prejuízos.
O temporal, na sua fúria devastadora, derrubou chaminés, árvores, linhas telefónicas e telegráficas.
As casas anexas à Igreja de Nossa Senhora do Cabo encontram-se destelhadas, tendo os seus locatários abandonado os lares.
A casa do forno foi destruída.
Os prejuízos são importantes.
No farol, os estragos são também muito consideráveis, tendo abatido o prédio onde residia o faroleiro António Domingos, havendo mais casas destelhadas.
No lugar da Azoia, também a tempestade causou danos. O moinho do sr. Sebastião Marques foi destruído.
As sementeiras estão completamente perdidas."
Governador Civil de Setúbal
"No dia 19 do corrente, esteve em Sesimbra, o ex.mo sr. Barreiros Cardoso, ilustre Governador Civil de Setúbal, a fim de 'viso' observar os desastres causados pelo ciclone."
O cataclismo de Sesimbra
"A maioria da imprensa da capital tem-se referido às grandes desgraças que o ciclone do dia 15 causou à nossa terra." ("O Cezimbrense", n.º 762, 23.2.1941)
Ainda sobre o ciclone
"Os trágicos acontecimentos do dia 15 prejudicaram muito a classe piscatória, já tão duramente provadas, nestes últimos anos, pela falta de pesca.
Todos os jornais da capital - a propósito do ciclone, que do Norte ao Sul, impiedosamente, assolou o país inteiro - se referiram, também, aos desastres que Sesimbra sofreu, mas nenhum, a não ser 'A Voz', focava nos seus efeitos 'O Dia de Amanhã'.
Lemo-lo, ficando apenas a pensar na calamidade geral, abstraindo dos nossos prejuízos individuais.
Vemos com aprazimento as providências que aconselha ao Governo: 'para formar rapidamente uma Junta de Construções; que dê início à fabricação de barcos em série, e que, depois, os distribua com pagamentos a prazo'.
Após a catástrofe (...) deve (...) empreender-se a grande obra de reconstrução, a realizar quanto antes, pois estamos sem barcos e sem tráfego, coisas indispensáveis a Sesimbra, para continuar a exercer o seu labor, retomando o ritmo, suspenso devido ao ciclone.
A paralização da pesca é prejudicial não só a toda a população da vila mas também, e grandemente, à população de Lisboa, nosso principal mercado e que tanto aprecia e precisa do nosso peixe.
Até nas contas do Estado tem influência, pois o imposto do pescado, arrecadado pela alfândega, pesa grandemente no equilíbrio orçamental."
O efeitos do ciclone - A calamidade de Sesimbra
"Se relancearmos a vista pelos calamitosos estragos motivados pelo ciclone, verificamos que Sesimbra foi mortalmente ferida pelo cataclismo de 15 de Fevereiro.
Importante centro de pesca, e vivendo única e exclusivamente desta indústria, perdeu um grande número de barcos da sua frota, redes e mais aparelhos de pesca, impossibilitando assim que a classe piscatória possa angariar os meios de subsistência (...)
A situação de Sesimbra é grave. Assim o compreendeu o ilustre deputado da Nação, ex.mo sr. dr. Formosinho Sanches(que) reconhecendo a misréria em que ficavam os pescadores (...) no dia 21 de Fevereiro, ergueu a sua voz na Assembleia Nacional e, ocupando-se da trágica situação resultante do temporal para os pescadores, salientou que: 'na laboriosa classe há centenas de famílias sem abrigo, gente com fome e frio, homens de bem, sãos e valentes, que se enontram impossibilitados de trabalhar, porque o mar lhes arrebatou e destruiu os seus barcos, os seus aparelhos, o seu ganha-pão.
E barcos, redes e aparelhos não os podem obter, porque não têm dinheiro para os comprar.
É indispensável, é urgente que lhos forneçam (...)
Sr. Presidente: Peço a V. Ex.ª que seja intérprete junto do sr. Presidente do Concelho, do sr. Ministro da Marinha, do sr. Ministro das Obras Públicas, do país inteiro, para que se acuda imediatamente a essa plêiade de lutadores (...)
Eu peço, sr. Presidente, a tenção dos poderes públicos para esta medida imediata: a construção de novos barcos, redes e aparelhos dos nossos pescadores'.
O Governo - que após o temporal tomou as necessárias providências, para, na medida do possível, acudir às regiões devastadas e às vítimas da catástrofe - levou na mais alta consideração o humano e patriótico apelo do ilustre deputado, ordenando que, por intermédio da Junta Central da Casa dos Pescadores, fôsse feito um minucioso inquérito, para se avaliar quais os prejuízos causados à classe piscatória, para lhes ser prestada a assistência devida.
Em Sesimbra, esse inquérito está sendo feito pela Casa dos Pescadores.
Até à hora em que redigimos esta notícia, foi-nos fornecida a nota seguinte:
Embarcações partidas - 113
Custo das reparações - 133.940$00
Embarcações desaparecidas - 196
Valor da frota perdida - 342.750$00
Substituição da frota, segundo valor atribuído - 508.000$00".
Socorros à classe piscatória
"Na semana finda, estiveram, em Sesimbra, os srs. Comandante Henrique Tenreiro e António Pereira de Torres Fevereiro, membros da Junta Central da Casa dos Pescadores, e D. Maria Luísa Cardoso, visitadora da Casa dos Pescadores, a fim de informar das necessidades dos pescadores que ficaram sem os seus haveres e para lhes ser prestados socorros (...)
Também esteve, nesta vila, a observar os estragos ocasionados pelo temporal, o sr. Jaime Hanaory, um grande amigo e admirador de Sesimbra (que) condoído pela miséria dos pescadores, mandou distribuir, por 60 homens do mar, 1 quilo de arros, 2 quilos de batatas e meio quilo de pão, por pessoa.
O sr. Hanaory mandou, ainda entregar alguns géneros de primeira necessidade à viúva e órfãos do inditoso Emílio Correia Gonçalves, vítima do temporal". ("O Cezimbrense", n.º 763, 2.3.1941)
Sesimbra
Efeitos do ciclone
"A Junta Central da Casa dos Pescadores ordenou que fôssem reparados todos os barcos danificados pelo temporal de q5 de Fevereiro findo, tomando este organismo a responsabilidade do seu pagamento.
Aos sinistrados serão feitos bónus de 20% sobre o valor do custo das referidas reparações, ficando ao pescador o encargo de 80%, que pagarão conforme o produto da pesca.
Reparadas todas as embarcações partidas, proceder-se-á à construção de novos barcos, para substituir a frota perdida".
("O Cezimbrense", n.º 766, 23.3.1941)
http://expresso.sesimbra.pt/node/3775
O ciclone causou em Sesimbra grandíssimos desastres deixando a população na miséria
Muitos feridos e quatro mortos
"Não temos palavras que possam descrever a pavorosa catástrofe de Sesimbra, ocasionada pelo ciclone.
Sabemos apenas dizer que Sesimbra, no dia 15 do corrente, viveu um dos dias mais trágicos da sua vida.
Não há memória de tão grande cataclismo.
As pessoas mais idosas da terra não se recordam de tão violenta tempestade, mesmo o memorável S. Martinho de 1755, segundo ouviram dizer a seus pais.
O ciclone, na sua fúria, devastava casas, embarcações, árvores, postos telefónicos e telegráficos.
Homens, mulheres e crianças imploravam a Misericórdia Divina, para que a tempestade abrandasse, mas o temporal, inexorável e impiedoso, não cedeu aos rogos desta pobre e aflita gente, e, na sua acção devastadora, continuava cavando mais fundo o abismo desta terra, que ficou impossibilitada de exercer a sua faina da pesca.
O mar (...) tudo devastou, num ímpeto mortífero e destruidor.
Ondas alterosas vinham rebentar nos largos e ruas circunvizinhas à praia e estendiam-se pela parte baixa da vila.
Os estabelecimentos e armazéns à beira-mar foram inundados e todos os haveres arrebatados pelo mar.
O pavor apoderou-se dos sesimbrenses, quando viram que o mar já se estendia pela Rua Jorge Nunes e chegava ao Largo do Município.
Nesta ocasião, registaram-se actos de heroísmo de muitos homens, que, desprezando suas vidas, se lançaram com ferocidade no salvamento de pessoas que eram arrastadas pelas ondas.
Entre eles, contamos João dos Santos Laureano, que, junto ao sítio da Califórnia, salvou, entre adultos e crianças, 8 indivíduos. Carlos Ribeiro, o conhecido nadador sesimbrense, que muitas vidas salvou, mereceu os maiores encómios da população.
O vento, com uma velocidade apavorante, impedia os trabalhos de salvados e, assim, perderam-se centenas de embarcações e muito tráfego de pesca.
Pescadores, que tinham as suas pequenas indústias de pesca, ficaram na miséria.
Os Bombeiros Voluntários prestaram assinalados serviços de salvamentos e transporte de feridos para o hospital.
O seu material teve uma acção beneficente no esgotamento das casas inundadas de na remoção de escombros, tendo até descoberto o cadáver do inditoso pescador Emílio Gonçalves Correia, de 38 anos, que ficou soterrado junto ao prédio da Sociedade Musical Sesimbrense.
A esplanada do Atlântico ficou completamente destruída. A casa onde funcionava a sopa aos pobres, bem como a propriedade dos herdeiros de João Casimiro Rosa, tiveram a mesma sorte.
Muitas outras famílias ficaram sem lar, por o ciclone lhes ter derrubado as suas habitaçãoes.
O resto do pequeno paredão que existia em 'Angra' foi também destruído pelo mar, e as embarcações que lá se encontravam, poucas foram as que escaparam à fúria dos elementos.
A Avenida Mar e Sol também ficou muito danificada.
Há quem avalie os prejuízos causados em 6 mil contos (...)
Mortos
Nesta horripilante catástrofe, perderam a vida: Primo António Nero, de 48 anos de idade, que deixa viúva a sr.ª Maria do Rosário Ferreira e dois filhos; Emílio Gonçalves Correia, de 38 anos, que deixa viúva a sr.ª Mariana Rosa e oito filhos, tendo o mais novo 17 meses; Joaquim Pedro Gomes, de 43 anos, que deixa viúva a sr.ª Assucena Ambrósio Gomes; Amaro Morais, de 59 anos, que deixa viúva a sr.ª Sofia Amélia Morais.
Devemos salientar aqui, também, as acções dos ex.mos Drs. Manuel José da Costa Junior, Alberto Augusto Leite e Manuel Florentino Matias, que foram incansáveis nos socorros prestados aos feridos, principalmente o dr. Matias, médico da Casa dos Pescadores.
Também muitas outras pessoas prestarm socorros aos pescadores, sendo justo salientar aqui o sr. dr. António Bernardo Ferreira, Conservador do Registo Civil.
A consternação é geral
As Direcções das colectividades recreativas, bem como o sr. João Batista Mota, empresário do Salão Recreio Popular, atendendo à consternação que lavra entre a população de Sesimbra, resolveram não realizar, este ano, bailes de máscaras, apesar de terem já efectuado contratos com grupos musicais (...)
No campo
Torna-se imposssível, por enquanto, descrevermos os estragos que o ciclone causou na freguesia do Castelo.
Todavia, sabemos, embora resumidamente, que a maioria das sementeiras foram devastadas, que milhares de árvores foram derrubadas, que muitas casas foram destruídas, etc.
Um verdadeiro pavor!
A miséria alastra-se, com todos os seus horrores, não se prevendo qual seja a sorte de Sesimbra."
Cabo Espichel
"O ciclone que desabridamente assolou o país causou, nesta região e arredores, muitos prejuízos.
O temporal, na sua fúria devastadora, derrubou chaminés, árvores, linhas telefónicas e telegráficas.
As casas anexas à Igreja de Nossa Senhora do Cabo encontram-se destelhadas, tendo os seus locatários abandonado os lares.
A casa do forno foi destruída.
Os prejuízos são importantes.
No farol, os estragos são também muito consideráveis, tendo abatido o prédio onde residia o faroleiro António Domingos, havendo mais casas destelhadas.
No lugar da Azoia, também a tempestade causou danos. O moinho do sr. Sebastião Marques foi destruído.
As sementeiras estão completamente perdidas."
Governador Civil de Setúbal
"No dia 19 do corrente, esteve em Sesimbra, o ex.mo sr. Barreiros Cardoso, ilustre Governador Civil de Setúbal, a fim de 'viso' observar os desastres causados pelo ciclone."
O cataclismo de Sesimbra
"A maioria da imprensa da capital tem-se referido às grandes desgraças que o ciclone do dia 15 causou à nossa terra." ("O Cezimbrense", n.º 762, 23.2.1941)
Ainda sobre o ciclone
"Os trágicos acontecimentos do dia 15 prejudicaram muito a classe piscatória, já tão duramente provadas, nestes últimos anos, pela falta de pesca.
Todos os jornais da capital - a propósito do ciclone, que do Norte ao Sul, impiedosamente, assolou o país inteiro - se referiram, também, aos desastres que Sesimbra sofreu, mas nenhum, a não ser 'A Voz', focava nos seus efeitos 'O Dia de Amanhã'.
Lemo-lo, ficando apenas a pensar na calamidade geral, abstraindo dos nossos prejuízos individuais.
Vemos com aprazimento as providências que aconselha ao Governo: 'para formar rapidamente uma Junta de Construções; que dê início à fabricação de barcos em série, e que, depois, os distribua com pagamentos a prazo'.
Após a catástrofe (...) deve (...) empreender-se a grande obra de reconstrução, a realizar quanto antes, pois estamos sem barcos e sem tráfego, coisas indispensáveis a Sesimbra, para continuar a exercer o seu labor, retomando o ritmo, suspenso devido ao ciclone.
A paralização da pesca é prejudicial não só a toda a população da vila mas também, e grandemente, à população de Lisboa, nosso principal mercado e que tanto aprecia e precisa do nosso peixe.
Até nas contas do Estado tem influência, pois o imposto do pescado, arrecadado pela alfândega, pesa grandemente no equilíbrio orçamental."
O efeitos do ciclone - A calamidade de Sesimbra
"Se relancearmos a vista pelos calamitosos estragos motivados pelo ciclone, verificamos que Sesimbra foi mortalmente ferida pelo cataclismo de 15 de Fevereiro.
Importante centro de pesca, e vivendo única e exclusivamente desta indústria, perdeu um grande número de barcos da sua frota, redes e mais aparelhos de pesca, impossibilitando assim que a classe piscatória possa angariar os meios de subsistência (...)
A situação de Sesimbra é grave. Assim o compreendeu o ilustre deputado da Nação, ex.mo sr. dr. Formosinho Sanches(que) reconhecendo a misréria em que ficavam os pescadores (...) no dia 21 de Fevereiro, ergueu a sua voz na Assembleia Nacional e, ocupando-se da trágica situação resultante do temporal para os pescadores, salientou que: 'na laboriosa classe há centenas de famílias sem abrigo, gente com fome e frio, homens de bem, sãos e valentes, que se enontram impossibilitados de trabalhar, porque o mar lhes arrebatou e destruiu os seus barcos, os seus aparelhos, o seu ganha-pão.
E barcos, redes e aparelhos não os podem obter, porque não têm dinheiro para os comprar.
É indispensável, é urgente que lhos forneçam (...)
Sr. Presidente: Peço a V. Ex.ª que seja intérprete junto do sr. Presidente do Concelho, do sr. Ministro da Marinha, do sr. Ministro das Obras Públicas, do país inteiro, para que se acuda imediatamente a essa plêiade de lutadores (...)
Eu peço, sr. Presidente, a tenção dos poderes públicos para esta medida imediata: a construção de novos barcos, redes e aparelhos dos nossos pescadores'.
O Governo - que após o temporal tomou as necessárias providências, para, na medida do possível, acudir às regiões devastadas e às vítimas da catástrofe - levou na mais alta consideração o humano e patriótico apelo do ilustre deputado, ordenando que, por intermédio da Junta Central da Casa dos Pescadores, fôsse feito um minucioso inquérito, para se avaliar quais os prejuízos causados à classe piscatória, para lhes ser prestada a assistência devida.
Em Sesimbra, esse inquérito está sendo feito pela Casa dos Pescadores.
Até à hora em que redigimos esta notícia, foi-nos fornecida a nota seguinte:
Embarcações partidas - 113
Custo das reparações - 133.940$00
Embarcações desaparecidas - 196
Valor da frota perdida - 342.750$00
Substituição da frota, segundo valor atribuído - 508.000$00".
Socorros à classe piscatória
"Na semana finda, estiveram, em Sesimbra, os srs. Comandante Henrique Tenreiro e António Pereira de Torres Fevereiro, membros da Junta Central da Casa dos Pescadores, e D. Maria Luísa Cardoso, visitadora da Casa dos Pescadores, a fim de informar das necessidades dos pescadores que ficaram sem os seus haveres e para lhes ser prestados socorros (...)
Também esteve, nesta vila, a observar os estragos ocasionados pelo temporal, o sr. Jaime Hanaory, um grande amigo e admirador de Sesimbra (que) condoído pela miséria dos pescadores, mandou distribuir, por 60 homens do mar, 1 quilo de arros, 2 quilos de batatas e meio quilo de pão, por pessoa.
O sr. Hanaory mandou, ainda entregar alguns géneros de primeira necessidade à viúva e órfãos do inditoso Emílio Correia Gonçalves, vítima do temporal". ("O Cezimbrense", n.º 763, 2.3.1941)
Sesimbra
Efeitos do ciclone
"A Junta Central da Casa dos Pescadores ordenou que fôssem reparados todos os barcos danificados pelo temporal de q5 de Fevereiro findo, tomando este organismo a responsabilidade do seu pagamento.
Aos sinistrados serão feitos bónus de 20% sobre o valor do custo das referidas reparações, ficando ao pescador o encargo de 80%, que pagarão conforme o produto da pesca.
Reparadas todas as embarcações partidas, proceder-se-á à construção de novos barcos, para substituir a frota perdida".
("O Cezimbrense", n.º 766, 23.3.1941)
http://expresso.sesimbra.pt/node/3775