A perg
Caríssimo Micael, agradeço o seu "retorno".
Mas olhe que quer os pinhais puros (erradamente chamados de "monoculturas") quer muitas outras florestais que são dominadas por uma única espécie têm muito mais diversidade biológica do que imagina, tudo depende da forma como são geridas!
Os pinhais das dunas, plantados no século XX, são hoje habitats prioritários, totalmente protegidos pela Rede Natura 2000! E, normalmente, quanto mais "biodiversidade", maior o perigo de incêndio, porque as continuidades de matos e herbáceas são muito maiores também! Muitas das florestas por esse mundo fora são dominadas por uma só espécies, mesmo sendo ecossistemas absolutamente "naturais", é um erro grave pensar que é tudo como as selvas tropicais..
Por isso é que os pinhais e os eucaliptais "limpos", sem mato ou com pouco mato, são mais resistentes aos fogos. Por outro lado, se se deixar de limpar um eucaliptal ele pode transformar-se... num sobreiral ou num azinhal, ou num carvalhal!!
Os eucaliptais menos biodiversos são, por regra, aqueles que foram plantados em terrenos anteriormente com culturas agrícolas ou matos degradados, que já eram extremamente pobres em espécies arbustivas.
Veja só aqui um exemplo de eucaliptal cheio de carvalhos nascediços (fotografia tirada no distrito de Aveiro).
É que se for abandonado, um eucaliptal normalmente tem boas condições para ser "invadido" por outras espécies, sejam arbustivas ou arbóreas (ao contrário do que sucede com as mimosas ou as acácias, com quem toda a gente deveria estar seriamente preocupada).
É uma verdadeira treta a maior parte do que se ouve e vê escrito por aí sobre os pinhais ou os eucaliptais, as pessoas simplesmente metem uma "pala" e desligam o seu sentido crítico - e bastava só observar cuidadosamente a paisagem!
Outra discussão é o tipo de floresta que os portugueses, enquanto sociedade, querem, mas isso já é uma conversa diferente.
Muito bom dia caro, bandevelugo:
Queria deixar este pequeno video produzido por alguém que fala com grande conhecimento do tema:
É que depois de ler os seus comentários fiquei com a sensação de que parece querer dizer que não há rigorosamente nada a apontar aos eucaliptos, poderá ser a sua opinião, e só temos de a aceitar e respeitar, mas considero que então estaríamos a deitar ao lixo todos os estudos científicos feitos a respeito desta temática.
Falou muito bem aí em espécies invasoras, como as acácias, isto é, para si há problema das acácias se propagarem interminavelmente pelos ecossistemas. Mas pergunto-lhe se já não há problema de ocupar quase metade do país com outra espécie exótica e a meu ver, também invasora, como o eucalipto.
Sei que alguns não consideram o eucalipto como uma espécie invasora,
mas para mim considero-a como tal, basta ver na sua foto a quantidade de eucaliptos que estão a nascer sem que aparentemente ninguém os tenha plantado.
Os eucaliptos permitem, muito raramente, a colonização de outras espécies arbóreas, e aquilo que se verifica é que essas mesmas árvores possuem dificuldades acrescidas no seu ciclo de vida, devido à grande rapidez com que os nutrientes gastos pelo eucalipto circulam. Repare que nessa foto, os carvalhos estão a crescer numa zona mais periférica do eucaliptal, mas daqui por uns anos, o mais provável é que os pequenos eucaliptos da foto, impeçam a desenvoltura desses carvalhos, atrofiando o ecossistema. Não quero com isto dizer que não hajam por aí exceções mas regra geral é o que acontece. Até porque o carvalho privilegia um solo algo húmido, algo que os eucaliptos, com os seus consumos estimados de 30 litros por dia, tratam de aniquilar, tornando o solo seco e destruindo lentamente possíveis aquíferos.
Ainda assim gostaria de saber a que "boas condições" se refere por parte dos eucaliptais adultos, para serem invadidos por outras espécies, de modo que elas proliferem sem constrangimentos.
A respeito também da biodiversidade dos eucaliptais, refere aí uma situação que talvez seja uma das poucas vantagens do eucalipto na prevenção dos incêndios, é que de facto por ter um poder repulsivo de outras espécies, afasta bastantes herbáceas das plantações, mas em regra não há eucaliptal nenhum que não sendo limpo, não possua qualquer planta rasteira. Aqui por estas redondezas é frequente encontrar por lá, por exemplo, os fetos.
E por falar em limpeza das matas, é também preciso saber limpar, muitos quando limpam uma propriedade, limpam tudo quanto é verde e que se encontre no solo. Contudo aquilo que é verdade é que muitos desses arbustos e herbáceas são o sustento de várias espécies de insetos, que possuem por vezes um papel fundamental na conservação e bom funcionamento de um ecossistema, do mesmo modo que é preciso estar suscetível à presença de pequenas árvores autóctones em crescimento, para não as cortar.
Ainda a este respeito deixo aqui esta publicação do Público:
https://www.publico.pt/2009/06/07/c...ipotecar-biodiversidade-das-florestas-1385515
Relativamente à resistência dos eucaliptos:
" As espécies florestais portuguesas são mais vulneráveis ao fogo?
Pinheiro-bravo, eucalipto e sobreiro são as três espécies florestais que mais área ocupam no país, de acordo com o Inventário Florestal Nacional (2005
2006). As primeiras duas são especialmente atreitas a incêndios e entram em ignição mais facilmente, devido às suas características intrínsecas, explica Joaquim Sande Silva, investigador em fogos florestais na Escola Superior Agrária de Coimbra e no Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves. As folhas do eucalipto e do pinheiro-bravo têm menor teor de humidade em relação a outras espécies. Para agravar o cenário, estas árvores têm óleos (eucaliptos) e resinas (pinheiro), lembra Joaquim Sande Silva. Mas não é tudo."Estes povoamentos florestais criam um ambiente seco ao nível do solo, propício aos incêndios", disse, lembrando que os fogos começam sempre na vegetação. Já o sobreiro, a nossa folhosa autóctone com maior representação, "resiste muito ao fogo por ter uma casca grossa, apesar de também arder como as outras árvores". Os montados conseguem manter mais humidade ao nível do solo.
" in Publico 22/08/2010
Com limpeza ou sem limpeza das florestas, é impossível negar a resistência das árvores autóctones, ainda que seja só enquanto retardadoras ligeiras das frentes de fogo.
Mas eu pergunto, o que é que é preferível? É uma floresta constituída por árvores autóctones capazes de retardar em algo um incêndio, ou pinheiros resinosos e eucaliptos que propagam incêndios como se fossem balões de S. João?
Agora algo que é incontestável, é que uma floresta com espécie x, y ou z, sem limpeza e planeamento, arde na mesma.
De facto quem olha para os eucaliptais dos grandes produtores de papel e afins, nota que as suas propriedades não ardem, mas isso é fruto de um planeamento florestal previamente pensado, algo que para a maioria não existe. Mas convém também que referir que esses mesmos produtores têm a necessidade de fazer correções ao nível do solo e de o enriquecer com nutrientes, com vista a impedir a diminuição de produtividade e a própria destruição do solo.
Bom com ou sem eucalipto, o que importa é que a nossa floresta seja seriamente requalificada, porque deixar tudo como está não vai diminuir o nº de incêndios.