Seguimento - Incêndios 2024

Ainda em relação às ignições de Nelas (acabei por não responder na segunda-feira).



De memória, a encosta a sudeste da vila de Nelas que se estende até ao Mondego (onde passa a N231) e às Caldas da Felgueira arde sucessivamente há uns 20 anos, com incêndios relevantes a ocorrerem em intervalos de 3-4 anos no máximo. Não me lembro de nenhuma zona próxima, quer no concelho de Nelas quer nos vizinhos, que tenha um padrão tão marcado.

Socorrendo-me do mapa do EFFIS, a área a verde ardeu no verão passado, a partir de uma ignição imediatamente acima da Póvoa da Roçada (marcada no mapa), em dia de vento forte, e só foi dominada junto ao Mondego e já perto de Vila Ruiva.
Se a localização das ignições de Senhorim e do Folhadal no site da proteção civil estiverem corretas, porque foram ambas alteradas com o decorrer do incêndio, a primeira ocorreu numa zona agrícola em declive a leste do Casal Sandinho, em princípio mais fácil de combater; a segunda numa zona complicada de matagal imediatamente a oeste da área ardida em 2023, entre o Folhadal e a Póvoa da Roçada. Note-se que o alerta para estas duas ignições ocorreu com 19 minutos de distância, primeiro em Senhorim, depois no Folhadal, mas não me parece crível que a segunda ocorrência tenha resultado de uma projeção, porque o fogo de Senhorim se desenrolou inicialmente junto à vila, contornando a mesma, e possivelmente sem a capacidade de realizar projeções a tão grande distância (4 km) mesmo com o vento. Fica em aberto a possibilidade desta primeira ignição ser resultado de uma projeção do incêndio de Penalva, que por essa hora já estaria pelo concelho de Mangualde uns 20 km a NE, embora tal me pareça improvável. Mais ainda porque, olhando ao mapa, ambas as ignições foram em pontos que permitiam com a ajuda do vento "completar o trabalho" começado no ano anterior.

Ver anexo 14489

Por tudo isto, não me custa mesmo nada a acreditar que se trate de mais um episódio da longa lista de fogos postos nesta área.
Outra zona com uma predominância de fogos bem acima da média há uns anos era o vale do Dão a norte de Santar/Casal Sancho, não sei se te lembras disso mas também era cíclico. De há uns 10 (?) anos para cá, como que por magia, passou a ser raríssimo haver ali um incêndio... :)
A zona que falas na encosta do Mondego é(as tentativas) todos os anos. Não sei se haverá forma de saber, mas o número de incêndios a começar entre Senhorim, a zona da lixeira, a Póvoa da Roçada (junto à estrada nacional) e Folhadal deve ser uma coisa absurda.
Dificilmente o do Folhadal terá começado por projeção do de Senhorim. O De Senhorim até esteve "calmo", piorou bastante depois da dispersão de meios, pois a situação complicou-se rapidamente no Folhadal.
Sim lembro-me bem dos incêndios da encosta do Dão, pois sou de Casal Sancho. existiam incêndios todos os anos. Alguns relacionados com a pastorícia. Chegou mesmo a ser apanhado um incendiário, que queimava para depois nascer o pasto para as ovelhas. Felizmente não tem sido assim ultimamente e por favor que assim continue :)
Voltando à zona de Nelas, já por lá andou a arder novamente hoje e ao que parece (não tenho como confirmar) com perseguição (sem bons resultados,) da GNR, a um carro que saía da zona do incêndio. Reitero que não tenho certeza que esta parte seja mesmo verdadeira.

PS: para quem não conhece, o concelho de Nelas é muito pequenino e a distância entre as localidade que referi é relativamente curta.
 
Então arderam os moinhos de Jancido? :( acredito que o trilho tenha ido...
As voltas de BTT onde a natureza era rainha resta agora um manto negro..

Trilho dos moinhos de jancido.
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Então se foi o Pinhal o primeiro a arder, eu já fico mais descansado :D.

Ninguém aqui pensa ou disse que o eucalipto é o único factor. Na televisão, pelo menos do que vi, idem.

Mas não é o que se ouve mais? Eucaliptos, incendiários, privados, etc, etc ? Não é essa a conversa habitual ?

O que eu quero dizer é que para aí 95% do que se discute é ruido, e é assim há décadas, desde que me lembro.
Continuamos a enganar-nos a nós próprios.

Referi atrás que a expansão do Eucalipto deu-se em Portugal na sequência de grandes incêndios que começaram a ocorrer a partir dos anos 70-80, e isso começou a ocorrer com a transformação social que tinha começado nos anos 60/70, e depois agravou-se com outra transformação nos anos 80/90.

Porque se fala tão pouco da tragédia de Sintra em 1966, Armamar em 1985 ou Caramulo-Águeda em 1986 ?
No meio desses anos há 1975 que como referi atrás sei que foi um ano de muito incêndios mas por qualquer razão há pouca informação sobre isso, que atribuo ao PREC da altura.
Será que não se fala porque na altura nada tinha a ver com eucaliptos por exemplo, que só se expandiram significativamente depois disso, anos 90?


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Continuamos a enganar-nos a nós próprios se andarmos apenas focados nessas coisas e a apontar o dedo conforme os interesses ou opiniões de cada um em vez de perceber que o nosso território é vulnerável ao fogo porque sempre foi assim, sempre houve fogos.
A nossa floresta e espécies autóctones evoluíram com essa realidade, e por incrível que pareça há quem interprete isso de forma completamente errada.
As nossas espécies autóctones não impedem o fogo, sobrevivem melhor a ele.

Então se em vez de gastar essa energia toda em coisas que nunca servirão para nada, que tal nos focarmos nessa realidade, e como podemos viver com ela da melhor forma possível?

Quer cá em Portugal quer noutros países, a partir de meados do século passado noutros países, em Portugal a partir desses anos 80/90, começámos a suprimir os fogos que até aí eram naturais e de baixa intensidade, com a melhor das intenções, para nos proteger.
E sem nos termos apercebido disso, na supressão dos fogos começámos a acumular biomassa de forma explosiva, gerando depois megafogos quando as condições meteorológicas se conjugam. E nesses megafogos nem as espécies autóctones resistem tão bem, não foi com esse tipo de fogos que evoluíram em milhares de anos.

Eu deixei de me enganar para aí em 2010-15, comecei a dizer à minha família que um dia iria ocorrer uma catástrofe, que os 20 anos e tal sem incêndios na zona acabariam por se tornar algo muito mau. E aconteceu em 2017, felizmente não morreu ninguém da minha família nem próximos.
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Última edição:
Comparar número de mortos ao longo dos tempos desde datas remotas do século passado não pode ser uma medida da evolução da extensão, intensidade e proliferação dos incêndios. Os meios de combate tiveram uma enorme evolução ao longo desses tempos, os meios de protecção individual e equipamento individual também. Muito menos ir buscar o caso singular dos 25 militares mortos em 1966 em Sintra pode dar uma ideia de que sempre houve a mesma quantidade de incêndios em número e área e das suas consequências. Se os incêndios de 2017 ou os deste ano fossem combatidos como os meios do século passado, seria inimaginável a contabilidade trágica em perda de vidas humanas.
A história dos incêndios neste século está a ser cada vez mais trágica quando comparada com o século passado, considerando a evolução extraordinária dos meios de combate, dos efectivos de operacionais, da experiência de combate, e ainda e muito especialmente da capacidade das comunicações e de observação remota. No século passado não havia telemóveis, não havia SIRESP, não havia satélites de monitorização quase instantânea, não havia um número de aeronaves preparadas e prontas para o combate nem de longe comparável, não havia materiais de protecção e combate individual tão evoluídos tecnologicamente, não havia viaturas tão eficientes como há agora.
 
Fair enough, mas eu coloquei ontem áreas ardidas de 75-89 e 90-99 por exemplo. E ardia imenso território.

Na realidade o que referes até vem de encontro ao que escrevi depois.

Essas primeiras tragédias de bombeiros vieram com a fase de supressão de incêndios para proteção das populações.
Mas os grandes incêndios que começaram a surgir cada vez maiores, o conhecimento de combater esse tipo de incêndios era zero.
 
Mas não é o que se ouve mais? Eucaliptos, incendiários, privados, etc, etc ? Não é essa a conversa habitual ?

O que eu quero dizer é que para aí 95% do que se discute é ruido, e é assim há décadas, desde que me lembro.
Continuamos a enganar-nos a nós próprios.

Referi atrás que a expansão do Eucalipto deu-se em Portugal na sequência de grandes incêndios que começaram a ocorrer a partir dos anos 70-80, e isso começou a ocorrer com a transformação social que tinha começado nos anos 60/70, e depois agravou-se com outra transformação nos anos 80/90.

Porque se fala tão pouco da tragédia de Sintra em 1966, Armamar em 1985 ou Caramulo-Águeda em 1986 ?
No meio desses anos há 1975 que como referi atrás sei que foi um ano de muito incêndios mas por qualquer razão há pouca informação sobre isso, que atribuo ao PREC da altura.
Será que não se fala porque na altura nada tinha a ver com eucaliptos por exemplo, que só se expandiram significativamente depois disso, anos 90?


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Continuamos a enganar-nos a nós próprios se andarmos apenas focados nessas coisas e a apontar o dedo conforme os interesses ou opiniões de cada um em vez de perceber que o nosso território é vulnerável ao fogo porque sempre foi assim, sempre houve fogos.
A nossa floresta e espécies autóctones evoluíram com essa realidade, e por incrível que pareça há quem interprete isso de forma completamente errada.
As nossas espécies autóctones não impedem o fogo, sobrevivem melhor a ele.

Então se em vez de gastar essa energia toda em coisas que nunca servirão para nada, que tal nos focarmos nessa realidade, e como podemos viver com ela da melhor forma possível?

Quer cá em Portugal quer noutros países, a partir de meados do século passado noutros países, em Portugal a partir desses anos 80/90, começámos a suprimir os fogos que até aí eram naturais e de baixa intensidade, com a melhor das intenções, para nos proteger.
E sem nos termos apercebido disso, na supressão dos fogos começámos a acumular biomassa de forma explosiva, gerando depois megafogos quando as condições meteorológicas se conjugam. E nesses megafogos nem as espécies autóctones resistem tão bem, não foi com esse tipo de fogos que evoluíram em milhares de anos.

Eu deixei de me enganar para aí em 2010-15, comecei a dizer à minha família que um dia iria ocorrer uma catástrofe, que os 20 anos e tal sem incêndios na zona acabariam por se tornar algo muito mau. E aconteceu em 2017, felizmente não morreu ninguém da minha família nem próximos.
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Não percebo a tua argumentação. Os fogos têm sido cada vez mais gravosos, tu próprio postaste um mapa que prova isso (a área e a gravidade era inferior em relação ao que ardeu nos últimos anos, tu próprio falaste das "pinceladas" no mapa de incêndios mais recente que acabei por postar, indo-se infelizmente somar mais algumas este ano).

Em relaçao ao discurso, eu não tenho redes sociais, mas acho normal numa situação de tragédia as pessoas exaltarem-se, não me parece assim tão despropositado, para além de que não são eles os responsáveis pelas medidas a inserir no terreno (não que não tenham razão em parte do que dizem, tenho visto evolução nesse sentido, não sei de onde vêm os 95%).

Os Programas Regionais de Ordenamento Florestal, entre outros, estão feitos, e aí concordo ctg, a tragédia teria sido muito pior se algumas das medidas não tivessem sido já transpostas para os instrumentos inferiores e, no final da linha, para o terreno. Muito, obviamente, falta fazer. As funções de protecção e de conservação dos espaços florestais ditam ainda muito pouco do que acontece no terreno.

Do que leio, ninguém quer acabar com a exploração, com os privados, etc. Apenas se quer uma maneira mais sustentável de fazer as coisas, minimizando ao mesmo tempo riscos para a população.

Quem é que acha que as espécies autóctones impedem o fogo, foi por se ter falado nelas aqui? Chamas impedir ao potencial para diminuir a velocidade de propagação e de melhoria dos solos? Menos projeções? Também não vejo ninguém a dizer que vamos conseguir deixar de ter fogos, (clima mediterrânico tem fogos) ainda mais com o agravamento das condições climáticas... As pessoas apenas querem medidas para reduzir a gravidade dos mesmos, medidas que estão já muitas delas escritas, como tu aliás pareces saber. Se calhar filtro o que oiço, não sei.

Em relaçao as tragédias passadas, faço das palavras do StormRic, as minhas.
 
Não percebo a tua argumentação. Os fogos têm sido cada vez mais gravosos, tu próprio postaste um mapa que prova isso (a área e a gravidade era inferior em relação ao que ardeu nos últimos anos, tu próprio falaste das "pinceladas" no mapa de incêndios mais recente que acabei por postar, indo-se infelizmente somar mais algumas este ano).

A minha argumentação tem a ver com o que eu vejo maioritariamente a ser falado neste tipo de dias, pouco ou nada tem a ver com o cerne da questão, é apenas o mesmo populismo ou simplismo de sempre.
Apenas respondi à tua resposta seca do Pinhal de Leiria. Nada tem de pessoal, estava apenas a responder-te, e como expliquei antes, o que aconteceu nesse dia de 2017 é diferente de tudo o que aconteceu até hoje, e não sei se já terá acontecido antes noutro lugar do planeta, pelo menos no último século. Talvez haja dados algures de tanta área ardida em tão poucas horas, mas tenho duvidas de que já tenha acontecido. Ou a ter acontecido deve ser muito raro. Eu próprio meto esse dia numa classe de anomalia que espero que não se repita nos próximos 100 anos o umais.

O facto da tal primeira "pincelada" ter sido num pinhal, e não um eucaliptal, o facto de até pertencer ao estado, e não dos tais "privados", a mim não me diz absolutamente nada, o que aconteceu nesse dia, qualquer tipo de floresta naquela local, ordenada ou desordenada, privada ou estatal, eucalipto, carvalho ou pinheiro, seria devastada da mesma forma. Talvez a outras pessoas isso incomode.

A mim não me incomoda porque aquilo que me move é sobretudo os riscos e a proteção da vida das pessoas, e parte do que tenho dito aqui é nesse sentido.
O nosso território é vulnerável a incêndios, sempre foi e nunca deixará de ser.

Antes disso noutros comentários atrás referi que havia muita coisa que estava finalmente a ser feita no sentido certo.

E até tentei explicar dentro do meu conhecimento, o que aconteceu na manhã de 2ªfeira com o vento leste, de porque é que foi exatamente naquela zona, ou de como não aconteceu o mesmo na Galiza. Até mesmo aqui havia pessoas intrigadas apesar de ser um fórum de meteorologia e estarem supostamente mais habilitadas a perceberem o que aconteceu.

Cita-me por exemplo aqui alguém aqui a falar destas coisas e não a narrativa habitual. Ou dá-me aí links de artigos de jornais, reportagens de TV, colunas de opinião, etc, na ultima semana. Foram milhares de notícias, deve haver certamente algo a abordar alguma coisa desse género. Eu não vi nada, só vi as tais narrativas de como nós portugueses somos feios, porcos e maus, ateamos fogo ao país, por causa --- leitor insere aqui o culpado preferido ----

Não seria melhor se todos soubéssemos porque acontecem algumas coisas ? De como em Portugal temos uma faixa atlântica aonde no Inverno passam rios atmosféricos a transportar humidade dos trópicos que deixam copiosas quantidades de precipitação que fomentam crescimentos efusivos da biomassa em muitos anos ?
E de como o mesmíssimo pequeno território depois pode passar por secas e levar com entradas de ar seco e calor até aos 45º ou mais ? De como o mesmo pequeno território pode levar com ventos de leste que percorrem o interior da península perdendo ainda mais humidade que secam a vegetação como depois pode mudar o padrão para um vento completamente diferente chamado nortada em que o pico dela coincide com as horas de maior calor ? E de como fenómenos como brisas existem em todo o lado, mas não são assim tantos os locais aonde se conjuga isto tudo?


Quem é que acha que as espécies autóctones impedem o fogo, foi por se ter falado nelas aqui? Chamas impedir ao potencial para diminuir a velocidade de propagação e de melhoria dos solos? Menos projeções? Também não vejo ninguém a dizer que vamos conseguir deixar de ter fogos, (clima mediterrânico tem fogos) ainda mais com o agravamento das condições climáticas... As pessoas apenas querem medidas para reduzir a gravidade dos mesmos, medidas que estão já muitas delas escritas, como tu aliás pareces saber. Se calhar filtro o que oiço, não sei.

Eu plantei seguramente cento e tal carvalhos desde mais ou menos 2015, e plantei-os não porque acho que impedem fogos, mas porque resistem a eles e quando crescidos as copas servem melhor de barreira a projeções.
Não sei se as pessoas tem noção do trabalho e carinho que é preciso, nos primeiros anos tem que se tratados como bebés, regas, etc.
Ou dizendo melhor, uma das coisas que aprendi nos últimos anos é que há terrenos em que eles nascem espontaneamente e crescem de forma espetacular sem ser preciso fazer absolutamente nada, noutros terrenos nem por isso, dá um trabalho do caraças. Já este ano num terreno morreram uns carvalhos de forma súbita e meio estranha bem no inicio da Primavera. Fiquei desolado, não sei se teve a ver com javalis que é habitual fuçarem nesse terreno ou foi outra coisa qualquer.

E a propósito disso, volto a repetir, aquela ideia que as pessoas tem que antes dos eucaliptos era uma maravilhosa floresta de bosques verdejantes de arvores nativas em todo o território, isso é um mito. Parte do território era matos e arbustos, árvores como carvalhos dão-se muito bem por exemplo nos vales aonde há riachos e ribeiros ou em zonas baixas de terrenos férteis. Mas no cimo desses vales era geralmente arbustos, tipo carquejas e assim. E matos.

Já referi que não estou a defender o eucalipto e de como me assusta em certas zonas. O que eu tenho dito é que não só sempre houve incêndios como a grande expansão do eucalipto que se deu a partir dos anos 90, foi precisamente devido aos grandes incêndios que começaram a ocorrer em Pinhal. Expliquei antes porquê, porque o pinheiro quando arde não regenera, tinha que ser plantado de novo. E com incêndios cada vez mais frequentes as pessoas começaram a substituir o pinheiro por eucalipto. É um bocado irónico não é?

Mas o que nós fizemos com o eucalipto, nesta dimensão em termos de área e assim tão continuas, foi muito errado. Nunca é bom monoculturas tão extensas e continuas do que quer que seja, um dia até pode aparecer alguma doença/fungo/praga, e vai tudo a eito.


Sobre os incêndios cada vez maiores e devastadores, experimenta fazer umas pesquisas sobre fire suppression and mega fires. Ou sobre Fire suppression paradox.
Há cada vez mais estudos sobre o assunto, recentemente foi publicado mais um.
 
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e como expliquei antes, o que aconteceu nesse dia de 2017 é diferente de tudo o que aconteceu até hoje, e não sei se já terá acontecido antes noutro lugar do planeta, pelo menos no último século. Talvez haja dados algures de tanta área ardida em tão poucas horas, mas tenho duvidas de que já tenha acontecido. Ou a ter acontecido deve ser muito raro. Eu próprio meto esse dia numa classe de anomalia que espero que não se repita nos próximos 100 anos o umais.
Infelizmente, não tenho tanta certeza disso. O 15 de Outubro de 2017 teve de facto uma dinâmica particular, mas tenho para mim que não fosse o número de ignições diárias ter sido bastante inferior na segunda e terça-feira, e não fosse o nível de preparação do dispositivo de combate a incêndios ser bastante superior ao de há 7 anos, e teríamos assistido a uma tragédia semelhante. Acho que não estivemos assim tão longe do colapso quanto dizes, o dispositivo fez os possíveis e os impossíveis, houve de facto um excelente ataque inicial às ignições que foram surgindo, mas tal foi à custa de deixar alguns grandes incêndios arder quase livremente, como foi o caso do complexo Castro Daire/Arouca e dos de Vila Pouca de Aguiar a dado ponto.

As condições meteorológicas foram adversas? Sem dúvida, especialmente a humidade relativa foi incomum de tão baixa na segunda e terça-feira. Mas estou longe de achar que isso seja improvável de se replicar, até a situação de 2017, com o final de Setembro e o início de Outubro a serem cada vez mais um prolongamento do Verão. E por isso não acho que nos devamos resignar ao pensamento de que o que tem sido feito é suficiente para que, numa situação similar à desse ano, não volte a arder mais meio milhão de hectares e a morrer mais 100 pessoas. Porque é disso que se trata, acho que todos aqui temos ou já ganhámos a noção que no Verão vai haver incêndios e em situações desfavoráveis vamos ter incêndios complicados, mas há que fazer os possíveis para não chegarmos a uma situação em que 2/3 do país vive com medo que lhe "caia" uma ignição à porta, sob pena de não haver praticamente ninguém para ajudar e proteger. Que foi o que aconteceu esta semana, tal como tinha acontecido em 2017.


Eu plantei seguramente cento e tal carvalhos desde mais ou menos 2015, e plantei-os não porque acho que impedem fogos, mas porque resistem a eles e quando crescidos as copas servem melhor de barreira a projeções.
Não sei se as pessoas tem noção do trabalho e carinho que é preciso, nos primeiros anos tem que se tratados como bebés, regas, etc.
Ou dizendo melhor, uma das coisas que aprendi nos últimos anos é que há terrenos em que eles nascem espontaneamente e crescem de forma espetacular sem ser preciso fazer absolutamente nada, noutros terrenos nem por isso, dá um trabalho do caraças. Já este ano num terreno morreram uns carvalhos de forma súbita e meio estranha bem no inicio da Primavera. Fiquei desolado, não sei se teve a ver com javalis que é habitual fuçarem nesse terreno ou foi outra coisa qualquer.

Mas repara, precisamente pelo que dizes de haver locais onde esse tipo de vegetação se dá com facilidade, não é necessário realizar grandes reflorestações caso a gestão da floresta seja feita. E nem acho que deva haver floresta em todo o lado, aliás, uma das causas para este problema é o sector primário português estar reduzido a percentagens residuais.
Mas voltando ao tema, eu conheço antigas áreas mineiras na Europa Central (França, Luxemburgo, Alemanha) que foram reabilitadas única e exclusivamente por regeneração natural, e com uma grande predominância de folhosas. Lá o clima é muito mais propício, não discuto isso. Mas aqui também há regeneração natural, e muita, acontece é que na maior parte dos casos não é dado um mínimo de manutenção à floresta que regenera, por forma a prepará-la para a possibilidade de um próximo incêndio. O mato serve para proteger as árvores que despontam, mas num país onde o clima é duro e os incêndios são frequentes, não fazer qualquer tipo de intervenção durante anos e anos a fio é contribuir para que estas ardam com grande intensidade mais tarde ou mais cedo.
Aliás, as grandes áreas produtivas de eucalipto e pinheiro, que têm densidades e extensões contínuas absurdas, são normalmente apontadas como exemplos de manutenção de floresta em Portugal. Acaba por se perceber, porque em quase tudo o resto é o desmazelo completo...
 
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  • Gosto
Reactions: Heat
Quando ocorrem tragédias como os grandes incêndios, é natural que todos queiram respostas imediatas e procurem culpados. Quem já viveu o pânico de ver o fogo à porta sabe bem o que é sentir a aflição de poder perder tudo em questão de minutos, e quer que sejam encontrados rapidamente os responsáveis pela situação vivida.
Infelizmente, apesar de existirem casos que levantam suspeitas e algumas situações inexplicáveis, não há respostas fáceis ou definitivas sobre o que aconteceu. Os incêndios de grande escala são uma realidade cada vez mais frequente, e parece que, de repente, todos se tornam especialistas no assunto. Chega a ser angustiante ver esses "especialistas" a debater na televisão, muitas vezes com pouco conhecimento de causa e sem soluções práticas.
Mas será possível minimizar os efeitos dos incêndios? Acredito que sim, embora seja impossível eliminá-los por completo. As causas são variadas e complexas, desde a predominância das monoculturas, à falta de limpeza e gestão das nossas florestas. No entanto, um ponto essencial é que precisamos adaptar-nos à realidade dos incêndios, porque eles vieram para ficar. E, com o tempo, não será surpreendente se começarem a invadir áreas urbanas mais frequentemente, devido ao crescimento desordenado dos polos urbanos e à proximidade crescente de áreas florestais.
Ontem assisti a um documentário na SIC Notícias chamado "Toda a Verdade – Travar as Chamas", e recomendo vivamente a que assistam. Embora tenha sido feito com foco na realidade dos Estados Unidos, as semelhanças com o que vivemos em Portugal são evidentes. O documentário sublinha a importância da gestão da carga térmica nas florestas, um conceito que me parece crucial para a nossa realidade. Se não conseguimos evitar os incêndios, podemos ao menos tentar controlar o impacto e a velocidade com que se propagam.
Não há respostas definitivas, mas existem abordagens e ideias que precisam de ser debatidas e eventualmente implementadas. Uma gestão mais inteligente do território, o incentivo à biodiversidade, e a preparação das populações são passos essenciais para minimizar estas tragédias. Precisamos de encarar os incêndios não como um evento extraordinário, mas como uma realidade contínua à qual devemos adaptar as nossas florestas, as nossas aldeias, vilas, cidades e até as nossas vidas.
 
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Balanço dos incêndios de São Pedro do Sul - setembro de 2024

As plantas invasoras mais comuns a despontar em áreas ardidas

"Se a gestão destas espécies invasoras não for considerada de uma forma eficaz, a invasão não só ocupará áreas muito extensas, mas poderá também colocar em risco o sucesso de ações de recuperação (plantações, sementeiras, ações facilitadoras das plantas existentes, etc.)." Noctula

As plantas invasoras lenhosas são um problema em constante agravamento. É sabido que algumas das espécies de invasoras são enormemente beneficiadas pelos incêndios e neste caso não será exceção. Este é um problema que carece de uma abordagem ao nível da paisagem.
 
Última edição:
Mr.Jet, houve vários convidados com diferentes pontos de vista, se calhar teve azar ou então fui eu que tive sorte.

Para acabar a minha participação neste tópico, queria apenas referir que não me parece possível continuarmos a olhar para grandes extensões de território sem o diferenciarmos nas suas partes. Não dá para continuar a pintar tudo de roxo ou de encarnado. Temos zonas mais e menos declivosas, zonas atravessadas por linhas de água que, por vezes, mesmo sendo efémeras, têm maiores níveis de humidade (o que permitirá usar outro tipo de espécies e em que a utilização da regeneração natural terá maior taxa de sucesso), zonas perto de vias e de faixas de contenção em que o compasso ou espécie utilizado na plantação deve ser diferente, zonas que necessitam de maior ou menor nível de gestão, zonas com diferentes tipologia de clima e solos. Se calhar umas clareiras de vez em quando não fazem mal nenhum, etc... Tem de entrar a "engenharia" na floresta. Óbvio que isto terá um custo. Será, em parte, compensado pelos serviços de ecossistema, entre eles a segurança de todos.

Eu só sei que o Turismo de Portugal deveria ser dos primeiros a querer uma revolução na nossa floresta, não é propriamente apelativo ter zonas extensissimas da mesma cor.

(Óbvio que falar é facil, mas também é verdade que, normalmente, começa-se por aí)
 
  • Gosto
Reactions: "Charneca" Mundial

Estas barreiras permeáveis serão suficientemente resistentes, especialmente se se acumularem detritos volumosos, ramos, muitas folhas, lixos?
Se estiverem conjugadas com barreiras fortes de malha larga mais a montante, que retenham os objectos maiores pode ser um sistema eficaz.