Seguimento - Incêndios 2024

antes de 2000... talvez 1980-1999?

Dados de 1975-1989.

Mas quase toda essa área refere-se a 3 ou 4 anos, salvo erro 1975 e depois 1981/83 e penso que 1986.
De 1975 nunca encontrei muita informação, o que atribuo a que na altura andávamos entretidos com o PREC.

Mas do inicio dos anos 80 lembro-me, era criança numa aldeia cercada por chamas. E já há mais informação desses anos.

Nesses anos era tudo pinheiro, também me lembro porque as crianças como eu íamos ajudar a apanhar míscaros e tortulhos para a floresta. Que era de pinheiros embora também me lembre bem das zonas junto aos riachos e ribeiros, eram bosques de carvalho aonde brinquei muitas vezes.

E também me lembro que certos montes que hoje são eucaliptos, não havia nem uma coisa nem outra, eram apenas montes com matos e arbustos. A ideia que alguns tem do país de outrora como sendo uma mata nacional de bosques verdejantes é um bocado mito.

Nesses anos não existia o eucalipto como existe hoje.

Havia eucaliptos isolados sim. Aqui e ali, meia dúzia acolá, parte presumo que cresceram espontaneamente ou alguém plantava umas arvores ocasionalmente. E eucaliptos assim até eram arvores bonitas, tinham alturas brutais, talvez mais de 40 ou 50 metros. Conheço ainda hoje uns eucaliptos que já existiam dessa altura, e tal como carvalhos e sobreiros talvez centenários que conheço, já lhes passaram grandes incêndios pelos pés e cá continuam.

Isto para dizer que a expansão que houve depois do eucalipto, expansão brutal, surgiu precisamente devido aos incêndios que se estavam a tornar cada vez maiores nesses anos 80.
Porquê ? Porque o pinheiro quando ardia, morria de vez. Tinha que ser plantado de novo.
Então face aos incêndios que começaram a aparecer nos anos 70/80, as pessoas que viviam da terra começaram a plantar eucaliptos, porque essa arvore mesmo quando arde, depois rebenta de novo, não é preciso plantar por algumas gerações.

Tal como a nossa floresta autóctone, os carvalhos por exemplo é a mesma coisa, depois dum incêndio se a arvore morrer, apesar de resistir muito bem, rebenta de novo. Fora o que cresce depois espontaneamente nos terrenos onde os carvalhos se dão bem. Penso já ter lido algures que os carvalhos também evoluíram com o fogo na concorrência com outras espécies, o que faz sentido. O sobreiro então, acho que nem deveria ser preciso referir isso mas parece que muita gente desconhece, é uma arvore que evolui tipo "tanque" contra incêndios, a cortiça é uma proteção contra fogos, a espécie evoluiu em ambiente de fogos frequentes.

Então pensem nisso.

Não é uma defesa dos eucaliptos, eu hoje em dia tenho medo do que fizemos. Essas extensões gigantes de monocultura foi um erro enorme enorme.
Mas sei porque o fizemos. E o povo não foi irresponsável ou criminoso por fazê-lo. O eucalipto ajudava por exemplo uma família pobre do interior que vivia da terra a acabar uma casa, a comprar um trator ou um carro.

Há dias num comentário de um membro do fórum ele referiu aqui o medo duma frente em Águeda subir o Caramulo, eu estava exatamente a acompanhar essa frente porque estava com medo disso. A certa altura quem olha duma posição elevada dali para sudoeste, há uma coisa que eu alcunhei de "Eucalyptus globulus mare oceanum".
Assusta só de ver aquela imensidão sem fim de eucaliptos.

Foi um erro. E as celuloses tem que assimilar isso, já foi demasiado. Não deve haver muitos países do mundo que tenham alterado em tão poucas décadas significativa parte da sua floresta para uma espécie não nativa. Isso nunca é bom.

Dito isso, se por milagre fosse possível acabar com os eucaliptos todos dum dia para o outro, isso não iria acabar com os fogos.
E se os fogos são cada vez maiores e mais devastadores, talvez uma parte seja devido ao eucalipto, mas não é a única razão. Há outros fatores, outro dos mais importantes foi até um fator social, do que começou a acontecer nos anos 70, com a emigração para o estrangeiro e litoral urbano, com a procura de melhores vidas que a agricultura de subsistência.

Os fogos sempre estiveram cá nas ultimas centenas de milhares de anos. E o maior testemunho disso são as nossas arvores autóctones.

Então se nós década após década estivermos sempre a embirrar em polémicas e culpados sem fim, uma cacofonia, todos tem as suas teorias, nós nunca vamos evoluir e aprender a lidar com um território aonde o fogo sempre foi uma coisa habitual.


PS:
De 1990 a 1999 foi assim:
Entre os finais de 80 e nessa década de 90 foi quando começou realmente expansão brutal do eucalipto.
Mas eram plantações demasiado jovens e ainda não tão continuo como hoje, para também serem o único culpado desta imagem.

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Incêndios: APA faz intervenção de emergência para travar arrastamento de terras.​

Lusa
Há 11 minutos

Vão ser colocados açudes de madeira para reter as cinzas deixadas pelos incêndios e evitar que haja arrastamento de terra para o rio Vouga.


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PAULO NOVAIS/LUSA

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) vai efetuar uma "intervenção de emergência" nas linhas de água que afluem ao rio Vouga, colocando açudes de madeira para evitar o arrastamento de terras, anunciou, esta sexta-feira, o presidente da instituição.

"Vamos fazer uma intervenção de emergência nas linhas de água que afluem ao rio Vouga para controlar aquilo que é o arrastamento das chuvas das cinzas para a massa de água", revelou Pimenta Machado, em Faro, à margem da reunião da Sub-comissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras.

O presidente da APA adiantou que os técnicos da entidade estão no terreno, em conjunto com as câmaras de Albergaria-a-Velha, de Águeda e de Aveiro, para avaliar a realização dessa intervenção.

O objetivo, frisou, passa por "minimizar aquilo que são as cinzas causadas pelos incêndios sobre a captação de água do Carvoeiro, que abastece toda a região de Aveiro".

"Reter as cinzas"

A intervenção implica a colocação de "pequenos açudes de madeira para reter as cinzas", evitando que elas cheguem ao Vouga e alterem "aquilo que é a qualidade na captação de água no Carvoeiro", acrescentou Pimenta Machado.

O presidente da APA disse que as situações mais preocupantes nas captações de água serão alvo de intervenções de emergência, estando a ser efetuado "um trabalho de grande articulação com os municípios" relativamente a esta matéria.

Também à margem da reunião da Sub-comissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras, a ministra do Ambiente e Energia, Graça Carvalho, declarou que o seu ministério está a acompanhar "toda a parte de paisagem ambiental", com o levantamento da situação em parques e zonas protegidas e também a situação dos resíduos resultantes de incêndios nos leitos de água.


 
E aproveito para outro comentário.

Vi muitas vezes nas redes sociais a comentar esta imagem de satélite

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Então o teor dos comentários era, mais ou menos: da fronteira norte, da Galiza para baixo, é só fdp a atear incêndios.
Que outra explicação existe para haver tantos incêndios no norte de Portugal e por milagre não haver na Galiza que também tem muita floresta, e também muita biomassa acumulada por dois bons anos hídricos seguidos. "É que até dá para ver os fdp logo pela fronteira".


Bom, remeto primeiro para esta imagem:

Rajadas de vento (leste) às 6/7 da manhã de 2ªfeira passada

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Então alguns vão pensar. Ahhh, mas olha ali no norte da Galiza, também tem vento forte.
Pois tem. Mas aí remeto para esta outra imagem, humidade relativa à mesma hora:
Quanto mais escuro, menos humidade. Na verdade na rede de estações do IPMA houve estações com ainda menos humidade do que este mapa sugere.


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A massa de ar e vento forte no norte da Galiza é radicalmente diferente. É muito mais húmido, até com trajeto marítimo no Golfo da Biscaia.

O vento leste que entra pelo continente é um vento completamente diferente desse do norte da Galiza. Vai descendendo do planalto ibérico que está a uma maior altitude e vai perdendo imensa humidade nessa descida. Depois vai serpenteando as nossas serras e montes e nesse serpentear em muitas zonas passa por convergências e acelerações significativas. Não é um vento contínuo, chega aos soluços muito intensos.

A Galiza também tem anos difíceis com incêndios, mas o vento leste (além das outras condições) tem que incidir de outro angulo, mais de leste-sudoeste, mais raro no caso deles. E vários dias. Mas é apenas uma questão de tempo, também lhes vai bater à porta, mais ano menos ano acabam por ser reunir as condições.

Maior parte dos membros do fórum serão do litoral norte e centro e conhecem bem o comportamento da nortada e o que a causa.
O vento leste que se intensifica é um processo relativamente oposto e que tem o seu pico pelo final da madrugada e inicio da manhã, enquanto a nortada tem geralmente a partir do meio da
tarde e inicio da noite.

Então alguns sabem que há zonas em que a nortada se pode intensificar significativamente em relação a outras zonas. Com este tipo de vento leste também acontece.

Já agora, a nortada também é tramada e contribui para que Portugal seja um país difícil de incêndios. Essa intensificação que ocorre na nortada à tarde ao mesmo tempo que o vento começa a evoluir rumo ao interior, coincide precisamente com as horas em que fica mais calor no interior. Essa é a razão porque tantos incêndios, alguns até aparentemente controlados nesse tipo de regime, parecem explodir de repente ou se reacendem à tarde em simultâneo.

O nosso território não é meigo quanto a fogos.
Seja os regimes de vento seja a fachada atlântica que em Invernos abundantes de chuva gera crescimentos enormes da biomassa, também tem que lidar com temperaturas elevadas e entradas de ar seco saariano.

Há outros países ou Estados que passam por parecido. Chile, Califórnia, Austrália. São zonas aonde coexiste uma costa húmida que fomenta enormes crescimentos de biomassa com épocas de calor e ar seco por várias razões, e finalmente ventos intensos e secos.
 
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Então se nós década após década estivermos sempre a embirrar em polémicas e culpados sem fim, uma cacofonia, todos tem as suas teorias, nós nunca vamos evoluir e aprender a lidar com um território aonde o fogo sempre foi uma coisa habitual.

Concordo muito com esta parte, esta necessidade constante de meter culpas em cima de alguém ou alguma coisa pelo que acontece só serve para passar um pano quente pela situação e fazer esquecer que é necessário tomar medidas a sério para resolver o problema. É assim nesta temática como em imensas outras, Portugal é cada vez mais um país onde os problemas não se resolvem, empurram-se com a barriga.

Mas concordando com muita coisa neste post, ainda assim acho que falha em duas coisas na comparação entre o "antigamente" e os últimos 15 anos de incêndios:
- O que era admissível há 40 ou 50 anos deixou (e bem) de o ser;
- Apesar das muito extensas áreas ardidas em alguns anos nos 70s, 80s e 90s, não creio que estas fossem tão concentradas em períodos muito particulares de tempo como neste ano ou em 2017, com muito claros prejuízos em termos de vidas humanas e danos materiais daí advindos. Embora esteja aberto a correção neste aspecto, porque nessas décadas ou não era vivo ou não tinha ainda acordado para o problema.
 
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Óbvio que o eucalipto é um factor no meio de muitos. Já agora, essa área não será diminuta em relação ao que ardeu nos ultimos 14 anos?

Ps: Encontrei na net (5 anos), dados do ICNF segundo o user do reddit:
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Dados de 1975-1989.

Mas quase toda essa área refere-se a 3 ou 4 anos, salvo erro 1975 e depois 1981/83 e penso que 1986.
De 1975 nunca encontrei muita informação, o que atribuo a que na altura andávamos entretidos com o PREC.

Mas do inicio dos anos 80 lembro-me, era criança numa aldeia cercada por chamas. E já há mais informação desses anos.

Nesses anos era tudo pinheiro, também me lembro porque as crianças como eu íamos ajudar a apanhar míscaros e tortulhos para a floresta. Que era de pinheiros embora também me lembre bem das zonas junto aos riachos e ribeiros, eram bosques de carvalho aonde brinquei muitas vezes.

E também me lembro que certos montes que hoje são eucaliptos, não havia nem uma coisa nem outra, eram apenas montes com matos e arbustos. A ideia que alguns tem do país de outrora como sendo uma mata nacional de bosques verdejantes é um bocado mito.

Nesses anos não existia o eucalipto como existe hoje.

Havia eucaliptos isolados sim. Aqui e ali, meia dúzia acolá, parte presumo que cresceram espontaneamente ou alguém plantava umas arvores ocasionalmente. E eucaliptos assim até eram arvores bonitas, tinham alturas brutais, talvez mais de 40 ou 50 metros. Conheço ainda hoje uns eucaliptos que já existiam dessa altura, e tal como carvalhos e sobreiros talvez centenários que conheço, já lhes passaram grandes incêndios pelos pés e cá continuam.

Isto para dizer que a expansão que houve depois do eucalipto, expansão brutal, surgiu precisamente devido aos incêndios que se estavam a tornar cada vez maiores nesses anos 80.
Porquê ? Porque o pinheiro quando ardia, morria de vez. Tinha que ser plantado de novo.
Então face aos incêndios que começaram a aparecer nos anos 70/80, as pessoas que viviam da terra começaram a plantar eucaliptos, porque essa arvore mesmo quando arde, depois rebenta de novo, não é preciso plantar por algumas gerações.

Tal como a nossa floresta autóctone, os carvalhos por exemplo é a mesma coisa, depois dum incêndio se a arvore morrer, apesar de resistir muito bem, rebenta de novo. Fora o que cresce depois espontaneamente nos terrenos onde os carvalhos se dão bem. Penso já ter lido algures que os carvalhos também evoluíram com o fogo na concorrência com outras espécies, o que faz sentido. O sobreiro então, acho que nem deveria ser preciso referir isso mas parece que muita gente desconhece, é uma arvore que evolui tipo "tanque" contra incêndios, a cortiça é uma proteção contra fogos, a espécie evoluiu em ambiente de fogos frequentes.

Então pensem nisso.

Não é uma defesa dos eucaliptos, eu hoje em dia tenho medo do que fizemos. Essas extensões gigantes de monocultura foi um erro enorme enorme.
Mas sei porque o fizemos. E o povo não foi irresponsável ou criminoso por fazê-lo. O eucalipto ajudava por exemplo uma família pobre do interior que vivia da terra a acabar uma casa, a comprar um trator ou um carro.

Há dias num comentário de um membro do fórum ele referiu aqui o medo duma frente em Águeda subir o Caramulo, eu estava exatamente a acompanhar essa frente porque estava com medo disso. A certa altura quem olha duma posição elevada dali para sudoeste, há uma coisa que eu alcunhei de "Eucalyptus globulus mare oceanum".
Assusta só de ver aquela imensidão sem fim de eucaliptos.

Foi um erro. E as celuloses tem que assimilar isso, já foi demasiado. Não deve haver muitos países do mundo que tenham alterado em tão poucas décadas significativa parte da sua floresta para uma espécie não nativa. Isso nunca é bom.

Dito isso, se por milagre fosse possível acabar com os eucaliptos todos dum dia para o outro, isso não iria acabar com os fogos.
E se os fogos são cada vez maiores e mais devastadores, talvez uma parte seja devido ao eucalipto, mas não é a única razão. Há outros fatores, outro dos mais importantes foi até um fator social, do que começou a acontecer nos anos 70, com a emigração para o estrangeiro e litoral urbano, com a procura de melhores vidas que a agricultura de subsistência.

Os fogos sempre estiveram cá nas ultimas centenas de milhares de anos. E o maior testemunho disso são as nossas arvores autóctones.

Então se nós década após década estivermos sempre a embirrar em polémicas e culpados sem fim, uma cacofonia, todos tem as suas teorias, nós nunca vamos evoluir e aprender a lidar com um território aonde o fogo sempre foi uma coisa habitual.


PS:
De 1990 a 1999 foi assim:
Entre os finais de 80 e nessa década de 90 foi quando começou realmente expansão brutal do eucalipto.
Mas eram plantações demasiado jovens e ainda não tão continuo como hoje, para também serem o único culpado desta imagem.

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Esse mapa tem áreas de vários anos. Estás a ver umas zonas que parece que foi alguém que pintou com um pincel em vez da "pixelização" que se vê habitualmente?
É diferente de tudo o que já aconteceu no passado.

Essas "pinceladas" foi no dia 15 de Outubro de 2017 (houve outros incêndios/áreas terríveis nesse ano, como Pedrogão e outros)

Nesse dia 15 numa dúzia de horas ardeu várias vezes mais o que ardeu esta semana por exemplo.
Não deve haver muitos casos assim no mundo. Espero que só volte a ocorrer daqui a 100 ou 200 anos. E se ocorrer antes, espero que estejamos melhor preparados.

Esse dia foi assim porque para além das condições extremas que volta e meia acontecem, nesse dia estávamos numa longa seca, nem em meados de Outubro tinha chegado chuva. A biomassa estava com uma secura extrema, por exemplo tinha havido onda de calor logo em Junho. Em plena seca.

E ao largo da costa passou o quê ? O raio dum furacão. Isso mesmo, um furacão. Em fim de vida, mas que no quadrante oeste gerou vento intenso de sul no continente.
A área ardida tem esse formato de "pinceladas" porque foi tudo explosivamente rápido, de sul para norte.

E se reparares nessas "pinceladas" invulgares de área ardida, a primeira de todas nesse dia a arder foi o Pinhal de Leiria. Não era eucalipto.

Como referi, eu não estou a defender o eucalipto. Já comentei que há zonas que me assustam.
Mas se passarmos a vida a pensar que é isso a causa dos incêndios, não vamos a lado nenhum. São muitos os fatores, inclusive naturais com que teremos que aprender a viver.
 
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Esse mapa tem vários anos. Estás a ver umas áreas que parece que foi alguém que pintou com um pincel em vez da "pixelização" que se vê mais habitualmente?
É diferente de tudo o que já aconteceu no passado.

Essas "pinceladas" foi no dia 15 de Outubro de 2017 (houve outros incêndios/areas terríveis nesse ano, como Pedrogão e outros)

Nesse dia 15 numa dúzia de horas ardeu várias vezes mais o que ardeu esta semana por exemplo.
Não deve haver muitos casos assim no mundo. Espero que só volte a ocorrer daqui a 100 ou 200 anos. E se ocorrer antes, espero que estejamos melhor preparados.

Esse dia foi assim porque para além das condições extremas que volta e meia acontecem, nesse dia estávamos numa longa seca, nem em meados de Outubro tinha chegado chuva. A biomassa estava com uma secura extrema, por exemplo tinha havido onda de calor logo em Junho. Em plena seca.

E ao largo da costa passou o quê ? O raio dum furacão. Isso mesmo, um furacão. Em fim de vida, mas que no quadrante oeste gerou vento intenso de sul no continente.
A área ardida tem esse formato de "pinceladas" porque foi tudo explosivamente rápido, de sul para norte.

E se reparares nessas "pinceladas" invulgares de área ardida, a primeira de todas nesse dia a arder foi o Pinhal de Leiria. Não era eucalipto.

Como referi, eu não estou a defender o eucalipto. Já comentei que há zonas que até me assustam.
Mas se passarmos a vida a pensar que é isso a causa dos incêndios, não vamos a lado nenhum. São muitos os fatores, inclusive naturais com que teremos que aprender a viver.
Então se foi o Pinhal o primeiro a arder, eu já fico mais descansado :D.

Ninguém aqui pensa ou disse que o eucalipto é o único factor. Na televisão, pelo menos do que vi, idem.
 
Concordo muito com esta parte, esta necessidade constante de meter culpas em cima de alguém ou alguma coisa pelo que acontece só serve para passar um pano quente pela situação e fazer esquecer que é necessário tomar medidas a sério para resolver o problema. É assim nesta temática como em imensas outras, Portugal é cada vez mais um país onde os problemas não se resolvem, empurram-se com a barriga.

Mas olha que uma das coisas que mais me tem enervado nos últimos dias é que de facto tem sido feitas coisas.
Foi preciso morrer mais de uma centena de pessoas em 2017 para se começar a fazer.
Mas dizer que não se faz nada é quase insultuoso. E eu não vejo ninguém a comentar isso.

Esta semana morreram bombeiros, morreram cidadãos, arderam casas. Falhámos. Ponto. Isso que é a prioridade não pode acontecer.
Mas também não se pode também dizer que está tudo igual, que nada se faz.

Ainda longe do ideal, mas para mim que conheço esta realidade há décadas, muita coisa importante tem sido finalmente feita.
Assim só de cabeça:

1) Limpeza de terrenos
Limpeza de terrenos, pelo menos próximo das habitações. Faz-se hoje numa escala que era impensável até 2017. Completamente impensável. São milhões de horas homem/maquinas de limpeza que tem sido feitas.
Algumas pessoas vão dizer-me que o vizinho x e y não limpam, sim, verdade, existe isso.
Mas não podemos olhar apenas para o mau, temos que olhar para o resto também.
Porque se dizemos que está tudo igual, então não vale a pena ter trabalho.
E as pessoas tem que se mexer, tem hoje leis e autoridades sensibilizadas para denunciarem situações, pelo menos as mais graves.

2) Faixas laterais das estradas limpas
A realidade hoje também é completamente diferente do que era antes.
Também me vão dizer que a estrada X e Y não tá nada limpo. Eu sei, mas muitas mais são limpas. Vamos olhar apenas para o mau e não valorizamos o bom?
Já agora, há autarquias e freguesias que se empenham muito melhor que outras.
Então não se indignem hoje, sejam cidadãos ativos no dia a dia, as vitimas não se previnem quando as condições são extremas e quando está tudo a arder, previnem-se no resto do ano.

3) Mapeamento/cadastro de propriedades
CGPR, BUPi, etc.
Quando finalizado é uma mudança radical, é um salto quântico, não sei se as pessoas tem noção. Se for preciso depois explico detalhadamente porquê.
Desde os tempos do Estado Novo que se queria fazer e nunca se fez. Está agora a ser feito e está a correr bem, na minha opinião.

Também me vão dizer que ainda falta mais de metade ou assim, calma, quase metade feita em poucos anos depois de décadas sem fazer nada é muito bom para mim.
Mas esse trabalho massivo que envolve dezenas de milhares de proprietários é invisível para parte da sociedade, essa que comenta indignada nas redes sociais. Não é justo.

Exemplo, fui ver agora no BUPi zonas afetadas por incêndios nesta semana lá para os lados de Sever do Vouga.
Os polígonos são centenas ou milhares de proprietários que já identificaram propriedades nos últimos anos.
Ainda falta muito? Sim, falta, mas por favor não digam que não está uma enorme mudança em curso, isso é um insulto a quem já gastou centenas de horas e dinheiro em participar nessa mudança. As pessoas estão a participar, sem que ninguém lhes tenha apontado uma arma à cabeça.



E o pior de tudo são os discursos populistas.
Isto dos incêndios sempre teve muito populismo primário associado, já quando eu era criança, populismos de várias géneses, até politicas. Sempre houve o populismo justiceiro, "é prende-los às arvores e queimá-los", agora parte disso juntou-se num certo partido de extrema-direita e outros de extrema-chalupa que nem dá para perceber o que é aquilo.
Este ano a novidade até vem daí, que se junta a muitos outros populismos, sempre houve por exemplo um certo tipo de populismo tankie de extrema extrema-esquerda anti-capitalista. E esta semana reapareceram em força com a conversa da floresta 90 e tal % dos privados, são os culpados.
Esses 90 e tal % de privados não são as famílias Mellos nem os Amorim, são pessoas como eu e provavelmente os pais e avôs desses tankies, parte deles nem sabem aonde são as propriedades que herdaram. E isso também é parte do problema, mas não por serem "privados".

Agora esta semana vi o primeiro ministro e uns quantas autarcas também a entrarem nessa onda populista.
Estou à vontade para criticar porque é a minha área politica. Mas eu compreendo, como alguém disse aqui, entrincheirados entre extremos, na hora de aperto diz-se o que as pessoas querem ouvir. E em toda a avalanche de ruido populista é difícil ou impossível passar outro tipo de mensagem.

Até me surpreendo algumas pessoas com bastante knowhow ainda se darem ao trabalho de se exporem publicamente a dizer coisas que vão contra essas avalanches populistas.


4) Gestão combustível
Ainda para há uns dois meses recebi no correio uma carta a avisar proprietários duma nova faixa de gestão de combustíveis e contenção de incêndios numa determinada região. Não estou por dentro dos progressos mas fiquei com a sensação que são coisas que estão a andar, eventualmente de forma lenta, não sei.
São coisas que atravessam muitas burocracias e barreiras, às vezes até oposição por parte daqueles que depois mais se indignam.
Salvo erro no Inverno anterior, vi fumo de fogos (talvez em Fevereiro 2023?) que depois me explicaram que era gestão de combustível. Isso é parte do nosso caminho, curiosamente apareceu logo muita gente nas redes sociais indignada com o fumo e em completa histeria por haver fogos nessa altura do ano. Que Deus lhes perdoai a ignorância.

5) Índices de risco de incêndios
Índices de risco de incêndios. O IPMA investiu muito nisso e vejo hoje pessoas comuns a olhar para os índices dia a dia, vejo até por familiares que continuam ligados ao campo ou floresta, a consultarem as condições. Uma coisa completamente impensável até anos atrás.

Na ressaca de 2017 houve algum fundamentalismo que a certa altura quase paralisou a agricultura durante semanas ou meses, mas depois foram introduzidas algumas alterações que acho equilibradas. Há uns pormenores com que não concordo, e até hei de falar disso, mas o perfeito sempre foi inimigo do bom.
Mas claro, há logo quem pegue nisso quando um azar acontece. As pessoas tem que compreender que tem que haver algum equilíbrio nas coisas, não se pode impor regras absolutistas que levem ao sufoco de setores importantes. Em tudo na vida há algum risco, o que se deve combater é a incúria, o crime, e não querer logo enforcar alguém que cometeu um erro enquanto trabalhava para se sustentar. Volto a esse assunto mais abaixo.

Mas neste assunto falo de pessoas da agricultura e floresta que consultam hoje os índices, uma coisa de forma mais generalizada que era impensável até poucos anos atrás.
Muitos portugueses se calhar continuam sem o fazer, é preciso apostar na educação e divulgação do risco de incêndios.

Em 2003 milhões de portugueses puseram bandeiras nacionais nas janelas ... por causa de um campeonato de futebol.
Os portugueses tem que colocar bandeiras vermelhas na cabeça quando existem condições extremas de risco de incêndio, não é aceitável as ignições que ocorrem.

E eu sei que há incendiários, claro que há. Em Portugal consomem-se 60 mil embalagens de antidepressivos, ansiolíticos, etc, por dia, somos um país deprimido, triste, frustrado, desanimado, revoltado, desesperançoso do futuro. E isso são as pessoas que tratam da sua saúde mental, imaginem o restante que anda por ai sem cuidar de si.

Mas sabem qual é a minha teoria relacionada com muitas dessas ignições por exemplo de madrugada ?
Estão a ver aquela imagem desta semana, vídeo para mim icônico, do tipo ao lado dos bombeiros a fumar e a atirar a beata para o mato ?

Boa parte dessas ignições de madrugada, na minha opinião, são gajos bêbados que saem do bar ou tasca depois da meia noite, param à beira da estrada e com uma mão na lata de cerveja ou no tinto e a outra mão na pila, dão uma mija ali na arvore junto ao mato. Depois enquanto ajustam a braguilha lá vai a beata pelo ar. De manhã estão tão ressacados que já nem se lembram, eventualmente à tarde até escrevem algo numa rede social revoltados com os incêndios e de quanto mau é o governo ou um autarca.

Já referiram aqui as incontáveis viagens de carro em que do carro da frente sai repentinamente um cigarro atirado janela fora e fica ali a saltitar incandescente na estrada ou berma.
Todos os santos dias se calhar são dezenas milhares cigarros atirados fora dessa forma. Depois há um, apenas um cigarro, entre milhares em que isso acontece, no pior local e hora possível.

Para além dos malucos e ainda dos pirómanos, certamente também há incendiários por interesses, mas julgo que numa escala muito menor.
Quando era novo as maiores teorias eram os madeireiros mas na verdade hoje em dia quase ninguém ganha com madeira queimada. Uma das coisas que mais me preocupa para cataclismos futuros é que conheço terrenos ardidos em 2017 em que as arvores queimadas ainda lá estão abandonadas. Não são muitos, mas é uma coisa preocupante.

Os incêndios atuais são tão devastadores com áreas tão grandes que na sequencia dum incêndio a madeira perde imenso valor em toda a escala de negócios, desde o proprietário aos diversos negócios que vivem da madeira. E depois na década seguinte há escassez de madeira. O "vil" lucro está numa floresta que não arde.
Lembro-me que quando era puto entre as muitas teorias havia sempre gente a dizer que andava uma avioneta a lançar fogos. Curiosamente hoje em dia em que qualquer pessoa pode filmar uma coisa dessas, nunca mais apareceram esses relatos.


7) Dispositivos de combate
Não sou de todo entendido na matéria, nem por curiosidade. Mas parece-me que hoje as coisas funcionam melhor. Mesmo em momentos difíceis que houve esta semana, acho que não houve colapsos como houve no passado, comunicações por exemplo.

Mas as pessoas tem que se mentalizar que em episódios extremos é impossível haver bombeiros e ajuda em todo o lado, o território sobretudo do norte e centro de Portugal é incrivelmente disperso de aldeamentos e casas envolvidas por áreas florestais. E a interface urbana-florestal em muitos casos desapareceu dando lugar a floresta ou terrenos abandonados com silvas. Esta parte é uma coisa importante, que posso abordar depois.

Em momentos críticos haverá sempre pessoas que ficarão por sua conta, dai a importância das limpezas junto a habitações, da autoproteção, da educação e cultura para os riscos. Eu e a minha família sabe que um dia voltará a acontecer e no pior cenário não podemos contar com ajuda. Então nós preparamo-nos para esse pior cenário.

E o discurso populista que acha que é apenas um problema seja de eucaliptos, de incendiários, de privados, em parte não resolve absolutamente nada nessa vertente da autoproteção.
Porque por muito melhor as coisas se tornem e possam melhorar na ideia de alguns, os incêndios vão sempre acontecer como aconteceram durante milhares de anos, e vão sempre aparecer de vez em quando na forma de episódios extremos em que é impossível socorrer a todos.


Mas concordando com muita coisa neste post, ainda assim acho que falha em duas coisas na comparação entre o "antigamente" e os últimos 15 anos de incêndios:
- O que era admissível há 40 ou 50 anos deixou (e bem) de o ser;
- Apesar das muito extensas áreas ardidas em alguns anos nos 70s, 80s e 90s, não creio que estas fossem tão concentradas em períodos muito particulares de tempo como neste ano ou em 2017, com muito claros prejuízos em termos de vidas humanas e danos materiais daí advindos. Embora esteja aberto a correção neste aspecto, porque nessas décadas ou não era vivo ou não tinha ainda acordado para o problema.

Não é uma questão de ser admissível ou não. Mas tens razão, temos que pensar de forma diferente porque a sociedade mudou radicalmente no uso e ocupação dos solos.
Mudou primeiro numa vaga nos anos 60/70, depois noutra vaga nos anos 80/90 com a adesão à CEE. Os fogos esses, sempre andaram por aqui. A própria natureza também muda.
Mas deixo o resto da resposta para amanhã.
 
Mas olha que uma das coisas que mais me tem enervado nos últimos dias é que de facto tem sido feitas coisas.
Foi preciso morrer mais de uma centena de pessoas em 2017 para se começar a fazer.
Mas dizer que não se faz nada é quase insultuoso. E eu não vejo ninguém a comentar isso.

Esta semana morreram bombeiros, morreram cidadãos, arderam casas. Falhámos. Ponto. Isso que é a prioridade não pode acontecer.
Mas também não se pode também dizer que está tudo igual, que nada se faz.
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Ainda longe do ideal, mas para mim que conheço esta realidade há décadas, muita coisa importante tem sido finalmente feita.
Assim só de cabeça:

1) Limpeza de terrenos
Limpeza de terrenos, pelo menos próximo das habitações. Faz-se hoje numa escala que era impensável até 2017. Completamente impensável. São milhões de horas homem/maquinas de limpeza que tem sido feitas.
Algumas pessoas vão dizer-me que o vizinho x e y não limpam, sim, verdade, existe isso.
Mas não podemos olhar apenas para o mau, temos que olhar para o resto também.
Porque se dizemos que está tudo igual, então não vale a pena ter trabalho.
E as pessoas tem que se mexer, tem hoje leis e autoridades sensibilizadas para denunciarem situações, pelo menos as mais graves.

2) Faixas laterais das estradas limpas
A realidade hoje também é completamente diferente do que era antes.
Também me vão dizer que a estrada X e Y não tá nada limpo. Eu sei, mas muitas mais são limpas. Vamos olhar apenas para o mau e não valorizamos o bom?
Já agora, há autarquias e freguesias que se empenham muito melhor que outras.
Então não se indignem hoje, sejam cidadãos ativos no dia a dia, as vitimas não se previnem quando as condições são extremas e quando está tudo a arder, previnem-se no resto do ano.

3) Mapeamento/cadastro de propriedades
CGPR, BUPi, etc.
Quando finalizado é uma mudança radical, é um salto quântico, não sei se as pessoas tem noção. Se for preciso depois explico detalhadamente porquê.
Desde os tempos do Estado Novo que se queria fazer e nunca se fez. Está agora a ser feito e está a correr bem, na minha opinião.

Também me vão dizer que ainda falta mais de metade ou assim, calma, quase metade feita em poucos anos depois de décadas sem fazer nada é muito bom para mim.
Mas esse trabalho massivo que envolve dezenas de milhares de proprietários é invisível para parte da sociedade, essa que comenta indignada nas redes sociais. Não é justo.

Exemplo, fui ver agora no BUPi zonas afetadas por incêndios nesta semana lá para os lados de Sever do Vouga.
Os polígonos são centenas ou milhares de proprietários que já identificaram propriedades nos últimos anos.
Ainda falta muito? Sim, falta, mas por favor não digam que não está uma enorme mudança em curso, isso é um insulto a quem já gastou centenas de horas e dinheiro em participar nessa mudança. As pessoas estão a participar, sem que ninguém lhes tenha apontado uma arma à cabeça.



E o pior de tudo são os discursos populistas.
Isto dos incêndios sempre teve muito populismo primário associado, já quando eu era criança, populismos de várias géneses, até politicas. Sempre houve o populismo justiceiro, "é prende-los às arvores e queimá-los", agora parte disso juntou-se num certo partido de extrema-direita e outros de extrema-chalupa que nem dá para perceber o que é aquilo.
Este ano a novidade até vem daí, que se junta a muitos outros populismos, sempre houve por exemplo um certo tipo de populismo tankie de extrema extrema-esquerda anti-capitalista. E esta semana reapareceram em força com a conversa da floresta 90 e tal % dos privados, são os culpados.
Esses 90 e tal % de privados não são as famílias Mellos nem os Amorim, são pessoas como eu e provavelmente os pais e avôs desses tankies, parte deles nem sabem aonde são as propriedades que herdaram. E isso também é parte do problema, mas não por serem "privados".

Agora esta semana vi o primeiro ministro e uns quantas autarcas também a entrarem nessa onda populista.
Estou à vontade para criticar porque é a minha área politica. Mas eu compreendo, como alguém disse aqui, entrincheirados entre extremos, na hora de aperto diz-se o que as pessoas querem ouvir. E em toda a avalanche de ruido populista é difícil ou impossível passar outro tipo de mensagem.

Até me surpreendo algumas pessoas com bastante knowhow ainda se darem ao trabalho de se exporem publicamente a dizer coisas que vão contra essas avalanches populistas.


4) Gestão combustível
Ainda para há uns dois meses recebi no correio uma carta a avisar proprietários duma nova faixa de gestão de combustíveis e contenção de incêndios numa determinada região. Não estou por dentro dos progressos mas fiquei com a sensação que são coisas que estão a andar, eventualmente de forma lenta, não sei.
São coisas que atravessam muitas burocracias e barreiras, às vezes até oposição por parte daqueles que depois mais se indignam.
Salvo erro no Inverno anterior, vi fumo de fogos (talvez em Fevereiro 2023?) que depois me explicaram que era gestão de combustível. Isso é parte do nosso caminho, curiosamente apareceu logo muita gente nas redes sociais indignada com o fumo e em completa histeria por haver fogos nessa altura do ano. Que Deus lhes perdoai a ignorância.

5) Índices de risco de incêndios
Índices de risco de incêndios. O IPMA investiu muito nisso e vejo hoje pessoas comuns a olhar para os índices dia a dia, vejo até por familiares que continuam ligados ao campo ou floresta, a consultarem as condições. Uma coisa completamente impensável até anos atrás.

Na ressaca de 2017 houve algum fundamentalismo que a certa altura quase paralisou a agricultura durante semanas ou meses, mas depois foram introduzidas algumas alterações que acho equilibradas. Há uns pormenores com que não concordo, e até hei de falar disso, mas o perfeito sempre foi inimigo do bom.
Mas claro, há logo quem pegue nisso quando um azar acontece. As pessoas tem que compreender que tem que haver algum equilíbrio nas coisas, não se pode impor regras absolutistas que levem ao sufoco de setores importantes. Em tudo na vida há algum risco, o que se deve combater é a incúria, o crime, e não querer logo enforcar alguém que cometeu um erro enquanto trabalhava para se sustentar. Volto a esse assunto mais abaixo.

Mas neste assunto falo de pessoas da agricultura e floresta que consultam hoje os índices, uma coisa de forma mais generalizada que era impensável até poucos anos atrás.
Muitos portugueses se calhar continuam sem o fazer, é preciso apostar na educação e divulgação do risco de incêndios.

Em 2003 milhões de portugueses puseram bandeiras nacionais nas janelas ... por causa de um campeonato de futebol.
Os portugueses tem que colocar bandeiras vermelhas na cabeça quando existem condições extremas de risco de incêndio, não é aceitável as ignições que ocorrem.

E eu sei que há incendiários, claro que há. Em Portugal consomem-se 60 mil embalagens de antidepressivos, ansiolíticos, etc, por dia, somos um país deprimido, triste, frustrado, desanimado, revoltado, desesperançoso do futuro. E isso são as pessoas que tratam da sua saúde mental, imaginem o restante que anda por ai sem cuidar de si.

Mas sabem qual é a minha teoria relacionada com muitas dessas ignições por exemplo de madrugada ?
Estão a ver aquela imagem desta semana, vídeo para mim icônico, do tipo ao lado dos bombeiros a fumar e a atirar a beata para o mato ?

Boa parte dessas ignições de madrugada, na minha opinião, são gajos bêbados que saem do bar ou tasca depois da meia noite, param à beira da estrada e com uma mão na lata de cerveja ou no tinto e a outra mão na pila, dão uma mija ali na arvore junto ao mato. Depois enquanto ajustam a braguilha lá vai a beata pelo ar. De manhã estão tão ressacados que já nem se lembram, eventualmente à tarde até escrevem algo numa rede social revoltados com os incêndios e de quanto mau é o governo ou um autarca.

Já referiram aqui as incontáveis viagens de carro em que do carro da frente sai repentinamente um cigarro atirado janela fora e fica ali a saltitar incandescente na estrada ou berma.
Todos os santos dias se calhar são dezenas milhares cigarros atirados fora dessa forma. Depois há um, apenas um cigarro, entre milhares em que isso acontece, no pior local e hora possível.

Para além dos malucos e ainda dos pirómanos, certamente também há incendiários por interesses, mas julgo que numa escala muito menor.
Quando era novo as maiores teorias eram os madeireiros mas na verdade hoje em dia quase ninguém ganha com madeira queimada. Uma das coisas que mais me preocupa para cataclismos futuros é que conheço terrenos ardidos em 2017 em que as arvores queimadas ainda lá estão abandonadas. Não são muitos, mas é uma coisa preocupante.

Os incêndios atuais são tão devastadores com áreas tão grandes que na sequencia dum incêndio a madeira perde imenso valor em toda a escala de negócios, desde o proprietário aos diversos negócios que vivem da madeira. E depois na década seguinte há escassez de madeira. O "vil" lucro está numa floresta que não arde.
Lembro-me que quando era puto entre as muitas teorias havia sempre gente a dizer que andava uma avioneta a lançar fogos. Curiosamente hoje em dia em que qualquer pessoa pode filmar uma coisa dessas, nunca mais apareceram esses relatos.


7) Dispositivos de combate
Não sou de todo entendido na matéria, nem por curiosidade. Mas parece-me que hoje as coisas funcionam melhor. Mesmo em momentos difíceis que houve esta semana, acho que não houve colapsos como houve no passado, comunicações por exemplo.

Mas as pessoas tem que se mentalizar que em episódios extremos é impossível haver bombeiros e ajuda em todo o lado, o território sobretudo do norte e centro de Portugal é incrivelmente disperso de aldeamentos e casas envolvidas por áreas florestais. E a interface urbana-florestal em muitos casos desapareceu dando lugar a floresta ou terrenos abandonados com silvas. Esta parte é uma coisa importante, que posso abordar depois.

Em momentos críticos haverá sempre pessoas que ficarão por sua conta, dai a importância das limpezas junto a habitações, da autoproteção, da educação e cultura para os riscos. Eu e a minha família sabe que um dia voltará a acontecer e no pior cenário não podemos contar com ajuda. Então nós preparamo-nos para esse pior cenário.

E o discurso populista que acha que é apenas um problema seja de eucaliptos, de incendiários, de privados, em parte não resolve absolutamente nada nessa vertente da autoproteção.
Porque por muito melhor as coisas se tornem e possam melhorar na ideia de alguns, os incêndios vão sempre acontecer como aconteceram durante milhares de anos, e vão sempre aparecer de vez em quando na forma de episódios extremos em que é impossível socorrer a todos.




Não é uma questão de ser admissível ou não. Mas tens razão, temos que pensar de forma diferente porque a sociedade mudou radicalmente no uso e ocupação dos solos.
Mudou primeiro numa vaga nos anos 60/70, depois noutra vaga nos anos 80/90 com a adesão à CEE. Os fogos esses, sempre andaram por aqui. A própria natureza também muda.
Mas deixo o resto da resposta para amanhã.

Muito bom o teu comentário. :thumbsup:
Abordas-te tantos pontos num só comentário que se torna difícil num "smartphone" comentar tanta informação.
Mas muito obrigado pelo teu comentário, estou de acordo com tudo o que disseste!
 
Última edição:
@Mr.Jet , não se trata de não ter havido mudanças. Houve e o post é bastante completo no que a isso diz respeito, ainda ontem referi isso sobretudo na parte do combate e sem dúvida que o cadastro das terras é uma grande mais valia. Mas em termos de gestão de combustíveis e ordenamento florestal, não só estas foram insuficientes como infelizmente parece-me (pelo menos antes desta semana) que as "ondas de choque" de 2017 estavam gradualmente a perder-se da memória coletiva, e com isso estávamos a assistir a um regresso ao passado em termos de desleixo e falta de fiscalização. Espero que a calamidade desta semana tenha pelo menos servido para voltar a abrir os olhos que se estavam a fechar.
 
Ainda em relação às ignições de Nelas (acabei por não responder na segunda-feira).

Fiquei curioso :)
Os incêndios foram quase em simultâneo. Ouviu-se a sirene, fui à janela e vi o fumo no de Senhorim e passado poucos minutos estava a começar o outro.

De memória, a encosta a sudeste da vila de Nelas que se estende até ao Mondego (onde passa a N231) e às Caldas da Felgueira arde sucessivamente há uns 20 anos, com incêndios relevantes a ocorrerem em intervalos de 3-4 anos no máximo. Não me lembro de nenhuma zona próxima, quer no concelho de Nelas quer nos vizinhos, que tenha um padrão tão marcado.

Socorrendo-me do mapa do EFFIS, a área a verde ardeu no verão passado, a partir de uma ignição imediatamente acima da Póvoa da Roçada (marcada no mapa), em dia de vento forte, e só foi dominada junto ao Mondego e já perto de Vila Ruiva.
Se a localização das ignições de Senhorim e do Folhadal no site da proteção civil estiverem corretas, porque foram ambas alteradas com o decorrer do incêndio, a primeira ocorreu numa zona agrícola em declive a leste do Casal Sandinho, em princípio mais fácil de combater; a segunda numa zona complicada de matagal imediatamente a oeste da área ardida em 2023, entre o Folhadal e a Póvoa da Roçada. Note-se que o alerta para estas duas ignições ocorreu com 19 minutos de distância, primeiro em Senhorim, depois no Folhadal, mas não me parece crível que a segunda ocorrência tenha resultado de uma projeção, porque o fogo de Senhorim se desenrolou inicialmente junto à vila, contornando a mesma, e possivelmente sem a capacidade de realizar projeções a tão grande distância (4 km) mesmo com o vento. Fica em aberto a possibilidade desta primeira ignição ser resultado de uma projeção do incêndio de Penalva, que por essa hora já estaria pelo concelho de Mangualde uns 20 km a NE, embora tal me pareça improvável. Mais ainda porque, olhando ao mapa, ambas as ignições foram em pontos que permitiam com a ajuda do vento "completar o trabalho" começado no ano anterior.

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Por tudo isto, não me custa mesmo nada a acreditar que se trate de mais um episódio da longa lista de fogos postos nesta área.
Outra zona com uma predominância de fogos bem acima da média há uns anos era o vale do Dão a norte de Santar/Casal Sancho, não sei se te lembras disso mas também era cíclico. De há uns 10 (?) anos para cá, como que por magia, passou a ser raríssimo haver ali um incêndio... :)
 
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