Mas o problema é as alterações climáticas afetam desproporcionalmente os pobres, que pouco contribuem para esse PIB.
Um dos gráficos mais relevantes do relatório é este:
Um ciclone tropical no Japão tendencialmente não provoca grandes danos no PIB porque a infraestrutura está bem preparada. Paralelamente, se um ciclone tropical varrer o Bangladesh ou o Iémen também não haverá grandes alterações no PIB porque são extremamente pobres.
A utilização das mortes para contabilizar os efeitos das alterações climáticas também não é útil. Atualmente os modelos meteorológicos permitem a evacuação de milhões com alguma antecedência. Isto não acontecia há 30 anos atrás.
As secas afetam cada vez mais pessoas nos locais habituais mas o número de mortos e deslocados é contido devido à ajuda internacional. Isto quer dizer que o aumento da frequência e intensidade das secas não interessa? Quem garante que haverá sempre ajuda para as dezenas de milhões que necessitam dela?
As alterações climáticas não podem ser entendidas isoladamente, mas em conjunção com outros fatores. Em muitos países por esse mundo fora há excessiva utilização dos aquíferos para suprir as necessidades de uma população em contínuo crescimento. As alterações na precipitação exacerbam essa necessidade e não existe água infinita.
As alterações climáticas devem ser entendidas num longo período de tempo. Não é por causa que nada aconteceu nos últimos 20 anos que quer dizer que será sempre assim. Entre muitas outras coisas, as alterações climáticas também contribuem para a degradação dos solos que já estão saturados pela exploração excessiva. Isto contribui para mais desflorestação e perda de biodiversidade.
Os países desenvolvidos vivem numa bolha. Assume-se que as alterações climáticas (independentemente da sua origem) são pouco importantes porque a tecnologia compensa muita coisa. Mas a maior parte do mundo é pobre e não tem acesso às mesmas benesses. E quando as condições se tornam insuportáveis, as pessoas movem-se em massa.
Em jeito de resumo, é fácil perceber. Mesmo que as alterações climáticas sejam naturais, elas continuam a representar um enorme problema (mais para as gerações vindouras porque as mais culpadas estarão mortas).